Andreia Braz

19/04/2022 09h39

 

Como me tornei revisora

 

Outro dia uma amiga perguntou como me tornei revisora. Foi por acaso. Explico. Quando cursava Turismo na UERN, comecei a revisar trabalhos de alguns amigos da faculdade. Nessa época, também cursava Letras na UFRN. No entanto, jamais imaginei que me tornaria revisora de textos. No máximo, seria professora de literatura, pensava. Talvez nem conhecesse a profissão de revisor naquela época. Na verdade, eu estava meio perdida e não sabia qual caminho seguir na vida. Meu sonho era ser jornalista, mas não havia passado no vestibular para Comunicação Social. Sempre gostei de escrever e essa paixão pela escrita/zelo com a linguagem era algo observado pelos colegas de curso e por alguns professores. O primeiro trabalho que revisei foi a monografia de Lina Izabel, atriz e diretora teatral que algum tempo depois formou-se em Teatro na UFRN, onde também fez Mestrado em Artes Cênicas, e seguiu o caminho da docência. Ela tem construído uma carreira brilhante e é muito reconhecida pelo que faz. Atua na rede municipal de ensino da Paraíba e no Colégio Pio X, em João Pessoa. Aliás, nos reencontramos recentemente, depois de seis anos distantes, e foi um momento de muita alegria. Ela fez um sarau para comemorar seu aniversário. Uma noite memorável.

Voltemos à época da UERN. Depois da monografia de Lina Izabel, revisei trabalhos de outros amigos (Kelton Wanderley, Eryka Feitosa), e aos poucos fui me tornando conhecida na área e me apaixonando cada vez mais pelo ofício. Sem saber, estava fazendo uma das escolhas mais acertadas da minha vida. Alguns anos depois, tive a honra de revisar parte da tese de doutorado de um ex-professor da UERN, Breno Tinoco. A mesma sensação pude experimentar em relação a alguns professores do curso de Letras, quando fui indicada, por exemplo, pelo professor João Gomes da Silva Neto, para revisar dois livros da Coleção Ciências da Linguagem Aplicada ao Ensino, publicada pela Edufrn em 2014. Fui responsável pela revisão e normalização dos volumes II e III e revisei artigos de Penha Casado Alves, João Gomes da Silva Neto, Luis Passegi, Maria das Graças Soares Rodrigues, Cellina Muniz, Sulemi Fabiano Campos, entre outros docentes do Departamento de Letras que admiro bastante e foram imprescindíveis a minha formação. Das alegrias de um revisor de textos...

Voltando à época de estudante universitária e ao início das atividades com revisão de textos. Outro acaso me fez seguir em frente e me profissionalizar como revisora. Certo dia, fui conversar com Penha Casado, minha professora de Leitura e Produção de Textos no curso de Letras, no intuito de justificar alguns atrasos nas aulas. Ela perguntou se eu tinha interesse numa bolsa de apoio técnico e me indicou para uma seleção na Editora da UFRN. Aquela oportunidade mudaria minha trajetória. Uma época difícil. Eu ainda não tinha computador e vez por outra precisava realizar os serviços na casa dos clientes. Utilizava também os computadores da UFRN, pois há laboratórios de informática para que os estudantes possam realizar suas atividades. Quando não podia usar o laboratório, recorria à lan house ou mesmo à casa de uma amiga, Edgênia Carmen. Foi graças ao computador dela que pude fazer a monografia e concluir o curso de Turismo. O ano era 2009. Jamais esquecerei seu apoio e todas as vezes em que se dispôs a me ajudar.

E aos poucos as coisas foram melhorando. Continuei no curso de Letras e fazia algumas atividades paralelas, dava aulas particulares, trabalhava no sebo do meu irmão. Alguns anos depois é que eu teria meu próprio computador. Aliás, meu primeiro notebook foi presente de uma pessoa muito especial que não está mais aqui, meu cunhado Moreira Júnior, que morava em São Paulo, mas sempre vinha a Natal com minha irmã. Numa dessas viagens, ele me fez uma grande surpresa. Jamais vou esquecer aquele seu gesto de carinho.

Voltemos à conversa com Penha Casado. Alguns dias depois, comecei a atuar como bolsista na Edufrn. Na época, havia muitos bolsistas na revisão e fiquei atuando como recepcionista. Mas sempre que possível, também fazia algumas revisões, sob a supervisão de Rizoleide Rosa e Wildson Confessor. Nessa época, conheci um profissional que foi um divisor de águas em minha vida. Estou falando do meu saudoso amigo Nelson Patriota, editor, revisor e tradutor que partiu em 2021. Logo ficamos amigos e depois de algum tempo ele me convidou para auxiliá-lo em algumas revisões. Em seguida, passei a revisar seus artigos semanais da Tribuna do Norte. Depois, vieram os livros. Era sempre um grande aprendizado revisar seus escritos. Sinto muita falta dos nossos diálogos sobre revisão de textos. Qualquer dúvida que eu tinha, era a ele que recorria, fosse pessoalmente, fosse por telefone/e-mail. Fizemos muitos trabalhos juntos e creio que revisamos cerca de vinte livros em parceria, entre eles obras de Ana Cláudia Trigueiro, Dorinha Costa, Fátima Medeiros, Américo de Oliveira Costa, Luís Carlos Guimarães, Dorian Gray Caldas. Foi uma parceria que durou dez anos. Além de um mestre paciente e disposto a ensinar, Nelson foi um grande amigo. Sua partida deixou uma lacuna impreenchível. Uma saudade cortante.

Quando encerrou o período da bolsa na Edufrn, participei de um processo seletivo para outra bolsa na área de revisão e trabalhei por mais dois anos na Pró-Reitoria de Extensão, sob a coordenação da querida professora Rita Luzia de Souza Santos, hoje professora aposentada do Departamento de Educação Física, que na época coordenava o Grupo Parafolclórico da UFRN e a Cientec, a Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura da UFRN. Quem me avisou dessa vaga foi Sandra Silva, amiga recifense que fazia doutorado em Educação na UFRN (nos conhecemos num cursinho preparatório para a prova de proficiência em espanhol). Fiz muitos amigos na Proex. A turma era muito unida. Estávamos sempre felizes e encontrando motivos para nos divertir. Jamais vou esquecer de Bruna, Raquel, Lívia, Kenisson, Jeanny, Victor, George. Muitos momentos no Restaurante Universitário, confraternizações, aperreios e diversão na organização da Cientec. Erámos muito acolhidos por todos os funcionários do setor (Rita Luzia, Maria Lopes, Tânia Dantas, Altaíva, Sara, Nely, Ana Eugênia Vilar, Ceiça Fraga, Zezinha Medeiros, Iasmin Soares, Cipriano Maia, Edmilson Lopes, Leonel Sobrinho, Alexandre Davi, Renato Martins, Sales Freitas – em memória).

Viajei no tempo agora. Essa retrospectiva profissional/acadêmica começou em 2008 e já estamos em 2022. De lá para cá, já são catorze anos atuando como revisora. Atuei na Edufrn e na Proex como bolsista de graduação e, na Sedis e na Edufrn, como funcionária terceirizada da Funpec. Atuei, ainda, na Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (SEMTAS) e na Unifacex. Desde 2018, estou no Instituto Metrópole Digital (IMD), como bolsista/E-TEC, atuando como revisora do Setor de Produção Multimídia. Um ambiente tranquilo e acolhedor que tem me permitido crescer profissionalmente e, sobretudo, tem deixado claro que estou no caminho certo. Acolhimento que aliás pude sentir desde o momento em que participei do processo seletivo e dialoguei com a banca de entrevistadores sobre minha trajetória como revisora na UFRN. Um dia inesquecível. Não poderia ter escolhido melhor profissão (se é que a escolhi). O que desejo é continuar prestando um bom serviço à universidade e me aperfeiçoando cada vez mais como profissional.

Um fato curioso sobre meu ingresso no IMD é que fiquei sabendo do processo seletivo por acaso. Minha amiga Karla Oliveira, revisora da UFRN, foi quem me avisou pelo WhatsApp. Era um sábado à tarde e passei o restante do final de semana providenciando toda a documentação necessária para a seleção.

E nesses catorze anos de atuação como revisora, além do aprendizado constante, tenho construído muitas memórias e grandes amizades. Não tenho do que me queixar e jamais vou deixar de agradecer à professora Penha Casado a indicação para aquela bolsa na Edufrn. Assim como agradeço também a bolsa concedida por ela para que eu pudesse cursar a Especialização em Leitura e Produção de Textos na UFRN. Talvez não tivesse seguido o mesmo caminho sem tal oportunidade. Seu acolhimento/escuta foi fundamental naquele momento. Uma conversa de milhões, como se diz nas redes sociais atualmente. A partir dali, fui direcionada a uma atividade com a qual me identifico e para a qual tenho dedicado a maior e melhor parte dos meus dias. Que assim continue sendo. De 2008 até aqui, foram dezenas de trabalhos acadêmicos revisados, entre dissertações, teses, artigos, monografias. Livros, já revisei mais de cem! Além da revisão, tenho atuado também como editora independente, organizando algumas publicações, uma área à qual pretendo me dedicar com mais afinco, especialmente depois de concluir o curso de Biblioteconomia na UFRN.

Voltando ao início do texto. Passei alguns dias refletindo sobre aquela pergunta da minha amiga e decidi escrever uma crônica sobre o assunto por dois motivos: lembrar o Dia do Revisor de Textos e refletir sobre minha trajetória profissional. Refletir sobre minha trajetória profissional é pensar em todas as conquistas, aprendizados, mas também nas dores, frustrações e erros cometidos ao longo do caminho. Afinal, as adversidades também nos ensinam importantes lições e podem nos ajudar a evoluir em alguns aspectos.

Com esta crônica, quero agradecer, especialmente, a todas as pessoas que cruzaram meu caminho desde que comecei a atuar como revisora e saudar os colegas de ofício pelo Dia do Revisor e do Diagramador, que é comemorado em 28 de março. Um dia muito especial para os profissionais que cuidam da edição de livros, periódicos e outros tipos de trabalho relacionados à área. Espero que cada um dos meus amigos revisores e diagramadores se sinta abraçado neste dia e saiba o quanto admiro o trabalho de cada um deles. Como diz Luís Fernando Veríssimo, “Os revisores só não dominam o mundo porque ainda não se deram conta do poder que têm”.

Para finalizar, quero celebrar o retorno ao trabalho presencial na UFRN e a alegria de estar de volta ao IMD. O retorno acontece justamente no dia do revisor de textos. Presente melhor não poderia ter recebido neste dia tão significativo. Impossível descrever a alegria de estar de volta depois de dois anos trabalhando praticamente de forma remota, com exceção de alguns meses atuando no sistema híbrido em 2021.

 


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