Daniel Costa

24/04/2022 07h50

 

OS IMORTAIS
 
 
O homem sempre se preocupou em tentar alcançar a imortalidade. Afinal de contas, como escreveu o professor Ivan Maciel, diferentemente dos outros animais, nós, seres humanos, “temos plena consciência de que a morte é tão fatídica e inevitável como os outros fenômenos naturais”. Daí que, para tentar escapar dessa sina, estamos o tempo todo procurando descobrir o caminho da eternidade.
 
O problema é que ninguém sabe lá muito bem como conseguir isso. Tem gente que acha que somente através da religião, de muita reza, é que é possível acercar-se da vida eterna. Já outros, que não acreditam em vida após a morte ou em misticismos do gênero, seguem aquela ideia de Cícero de que a vida dos mortos é colocada na memória dos vivos. Isso leva à conclusão de que para ser eterno seria preciso realizar grandes feitos durante a existência, no campo da cultura, da saúde, do esporte, e até mesmo da política.
 
Carmem Miranda, por exemplo, se eternizou ao cantar "pra você gostar de mim", no Carnaval de 1930, música de Joubert, que ficou conhecida como "Taí".  Essa canção existe há quase 100 anos, mas durante todos os carnavais, inclusive neste agora que está ocorrendo em pleno mês de abril, ninguém deixa de ouvi-la. Chiquinha Gonzaga também seguiu o mesmo caminho ao compor em 1889, para o cordão carnavalesco Rosa de Ouro, do Andaraí, "Ô abre alas", que acaba de servir de mote para o enredo “Ô abre alas que elas vão passar”, da escola de samba Estrela do Terceiro Milênio, do carnaval paulista.
 
Já Tiradentes, patrono cívico da nação brasileira e razão do feriado do último dia 21 de abril, entrou para a eternidade ao morrer enforcado, depois de ver fracassados os seus planos de realizar um levante armado contra a coroa portuguesa. Oswaldo Cruz, muito lembrado nestes anos de pandemia, em razão da turba de negacionistas que teimou em deslegitimar a vacina contra a Covid, conseguiu se imortalizar, dentre outras coisas, ao orientar o governo de Rodrigues Alves, em 1904, a tornar obrigatória a vacinação contra a varíola. Pelé, que está lutando contra um câncer, já é um imortal por ter jogado o fino da bola e conquistado três Copas do Mundo. Getúlio Vargas meteu um balaço no peito e assim, serenamente, deu o primeiro passo no caminho da eternidade. E Jair Bolsonaro, é quase certo que ganhará sua placa de imortal ao ter conseguido o grande feito de detonar o país em menos de 4 anos e insultado a democracia, como no recentíssimo episódio do indulto concedido ao deputado Daniel Silveira
 

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