Eliade Pimentel

25/04/2022 14h06

 

Devemos naturalizar problemas crônicos de saúde? 
 
 
 
A questão é, como eu devo tratar uma pessoa que tem problema crônico de saúde, em caso de crise. Com alarde ou com naturalidade? Eu não tenho quase nenhum conhecimento de primeiros socorros. Quase não aprendi nada nessa disciplina, no curso de Guia de Turismo. Tratei tão bem minha filha, em termos de nutrição e cuidados básicos, que eu praticamente não me deparei com situações que demandassem cuidados imediatos. 
 
Nada de pé quebrado, ou coisa semelhante, e até uma queda na escola não foi lá essa gravidade toda. Conseguiu aguardar que eu concluísse meus afazeres. Devido a problemas respiratórios, Alice começou a soltar sangue pelo nariz. Eu tenho pavor de sangramentos. Viro o olhar quando vou fazer exames. E mais uma vez, relato, não precisei segurar a menina para tomar injeção ou para fazer curativos. Sou realmente uma mãe sortuda. Então, ela própria aprendeu a tomar conta de si. 
 
Limpa a superfície suja de sangue, depois se deita com a cabeça levemente inclinada até o sangue estancar. E assim, tenho construído uma casca dura contra aperreios. Só entro em pânico em último caso, como certa vez que recorri à SAMU para socorrer um caso de hipoglicemia em casa. Como se trata de uma pessoa que está sempre comigo, eu precisei aprender a lidar com a situação e tenho obtido êxito. No meu jeito, sem demonstrar pânico. 
 
Porém, por perceber que eu lido com naturalidade, sem tentar imputar culpa ao paciente (sugerir que não comeu o suficiente ou injetou insulina demais da conta, pois se trata de um caso de diabetes tipo 1), fui acusada por uma terceira pessoa de que tenho sido negligente. Ora, pois, tratar a coisa para resolver, sem estar gritando aos quatro cantos que tem um fulano ali entrando em crise, é ser negligente? Comecei a racionar o que vem acontecendo a este rapaz pelo menos desde a sua adolescência. 
 
Toda vida que ele está com crise, geralmente há um alarde ao seu redor, e esse fato o constrange. Percebo que em vez de ajudar, a pessoa que faz o alarde piora a situação ao tentar encontrar motivos para a crise. É fato que a hipoglicemia é traiçoeira, pode matar em questão de minutos, sendo que é fato também que é possível restabelecer o equilíbrio em minutos. A opção é nossa, entrar em pânico ou tentar agir rapidamente para ministrar um alimento que seja necessário, ou abrir rapidamente uma ampola de glicose. 
 
Levei esse assunto à tona e não foi aceito. Fui até criticada por ter levado uma crise em silêncio, e a outra pessoa mesmo em casa, no quarto ao lado, sequer ficou sabendo. Para que, para ficar gritando e tentando encontrar culpados(as)? Foi o que perguntei. Isso tudo me fez pensar se estou fazendo certo, ao naturalizar essas crises de saúde crônica. Acredito que quanto mais a gente perceber que a saúde não é igual para todos(as), mais próximo chegaremos do nível de discernimento necessário para tratar os problemas que porventura cheguem até nós. 
 
Sempre que alguém tiver qualquer crise ao seu lado, tente pensar: e se fosse comigo? Será que eu gostaria de estar sendo tratado(a) como culpado(a)? O sentido de naturalizar, nesse caso que estou empregando, não é dar menos importância ao fato, ou dar menos importância ao risco. E sim, dar menos importância ao que levou a pessoa a ter a crise. Nessas horas, meu lado pragmático fala mais alto. E tentar resolver é o x da questão. Sempre alerta, feito uma escoteira!  
 

 


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