Valério Mesquita

27/04/2022 10h53

 

EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA

 

Revisito o poeta Orides Fontela que, parafraseando o Eclesiastes, nos lega uma lição maravilhosa de vida quando diz que “há um tempo para desarmar os presságios; há um tempo para desamar os frutos e também um tempo para desviver o tempo”. Nos meus 50 anos de vida pública vivi a minha circunstância, no melhor dizer orteguiano: “ Eu sou eu e minha circunstância. E se não a salvo, não me salvo eu”. Sempre assumi riscos no jogo da política. Convenci-me do pensamento de Corneille de que “Vencer sem perigo é triunfar sem glória”. Conforta-me haver atravessado as noites escuras do tempo sem haver sofrido nenhuma derrota eleitoral em minha terra, à despeito do quinhão usual de tristezas, de alguns equívocos, produzidos pela difícil condição humana e política de ser.

Heródoto, historiador grego, deixou escrito que “são as circunstâncias que governam os homens e não os homens que governam as circunstâncias”.

Em 1970, ingressei no meu primeiro partido, a Arena, tendo me elegido prefeito de minha terra. Com a sua extinção, fiquei no PFL e nessa legenda conquistei o primeiro mandato de deputado estadual em 1986. No ano seguinte, por ter sido preterido na eleição da Mesa da Assembleia Legislativa, rompi com o partido e filiei-me ao PL, uma costela do PFL, ou uma dissidência em forma de legenda, àquela época. Neste partido aprendi uma amarga lição de que “na política não há só amigos e inimigos, mas conspiradores que se unem”. Nesse partido me reelegi deputado em 1990. Nele fui punido por ser livre e por não ter deixado de me indignar com os medíocres e superficiais. Permanecendo no mesmo sistema gravitacional da política do Estado, voltei ao PFL. Descartei os convites que me fizeram à época outras legendas. Retornei às origens para retomar o ritmo e fui em busca do tempo perdido, à maneira proustiana.

Mas se a política não fosse um jogo de conquistas, ela não seria tão fascinante. É justo que todos tenham pretensões no limite exato em que não prejudiquem a concorrência dos outros. Lembra-me Sartre ao dizer que: “O inferno são os outros”. Porisso é que, existem ambiciosos tanto para o bem como para o mal. Vi-me nesse processo eleitoral no dilema que me fez recorrer ao estadista Tancredo Neves depondo sobre Petrônio Portela: “Ele nunca foi arenista, governista, oportunista ou coisa que o valha. Ele teve o senso da sobrevivência. E o político que não o tem está morto”. Mesmo dissidente do PFL nas eleições de 1994, conquistei o terceiro mandato que o povo me conferiu por ter aprovado a minha atuação nos dois mandatos anteriores de deputado estadual.

Por fim, em 1998, cheguei pela quarta vez a Assembleia e posso, como poucos, após todo esse tempo de vida pública, proclamar que trabalhei pelo Rio Grande do Norte e tenho uma imensa gama de serviços prestados a minha terra Macaíba no âmbito da cultura, do social, da saúde e da educação. É o patrimônio mais expressivo que posso deixar para os meus filhos. É a minha paz cósmica satisfeita, lição maior do meu pai Alfredo Mesquita Filho que morreu pobre e com a dignidade intacta.

No começo do ano 2000, fui indicado por unanimidade pelo Poder Legislativo para servir ao Tribunal de Contas do Estado por quase 12 anos e lá me aposentei ao completar 70 anos, servindo-o também como presidente. Sou servidor público de uma só aposentadoria, pois no desempenho do meu segundo mandato parlamentar votei contra a aposentadoria de deputado. Deixei a vida pública. E assim respondo a legião de amigos que me indagam o retorno e a razão do porque recusei convites para disputas de mandatos eleitorais.


 


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