Fábio de Oliveira

02/05/2022 07h53

 

Medicinas indígenas: reconexões e autoconhecimento

 

Há dois anos tive minha primeira experiência e contato com algumas das medicinas indígenas. Até então só ouvia falar e não se apresentava informações e oportunidades de conhecer algo realmente raiz, conforme o que eu estava lendo na época sobre as práticas de pajelança dos nossos antepassados. No deslizar da tela do celular e em pesquisas que costumava fazer apenas surgiam, em resultados, rituais e cerimônias que bebem da cultura dos nossos povos de uma forma ‘gourmetizada’ e artificial. Mas como tudo tem seu tempo, as situações foram conduzidas pela ancestralidade e sem pressa.
 
Mais uma vez, por meio da fotografia e do audiovisual, a ancestralidade guia-me para situações de descobertas e fortalecimentos espirituais. Assim como aconteceu em 2019, durante a execução do meu TCC – por meio da fotografia e do audiovisual –, a ancestralidade guia-me para descobertas e fortalecimentos espirituais. Essas vivências constantes possibilitaram-me maior contato com minha espiritualidade e autoconhecimento.
 
Em 2020, alguns parentes indígenas Fulni-ô estiveram pela primeira vez no sítio histórico e ecológico Gamboa do Jaguaribe para realizar vivências com várias atividades que evocaram elementos medicinais e de cura. Até então estive presente apenas no intuito de registrar a cerimônia, mas acabei inserindo-me na energia da ocasião da qual tive oportunidade de beber e fazer uso do rapé extraído da jurema.
 
Diante dos cânticos, danças e defumações que aconteciam naquele círculo de pessoas sentadas e descalças naquele ambiente ancestral era possível sentir uma energia que reconectava-se em meu interior. Como se estivesse perdida e distanciada pelo modo de viver e pensar eurocêntricos, que nos conduzem apenas pela razão, mas ligada novamente por meio das circunstâncias que movimentava essas energias quase inertes.
 
Em conversas que acontecem aleatoriamente com algumas pessoas no sítio, pelas ruas e/ou por visitas, é comum eu ouvir sobre a quantidade de remédios receitados pelos médicos dessas pessoas. Remédios estes oriundos da indústria farmacêutica que apenas remediam paliativamente e que trazem toda uma carga de efeitos colaterais ao invés da própria solução de nossos problemas.
 
Não é uma prática comum receitar medicinas dos nossos povos, haja vista a estigmatização dos nossos costumes vistos como feitiçaria em leituras pejorativas e demonizadas pelo olhar colonial. É importante olharmos para os mais velhos das nossas famílias ou de algum conhecido que conseguiram viver por mais de 100 anos e percebermos que alimentação e os medicamentos utilizados por eles foram diferentes dos que encontramos hoje em dia. 
 
Após essas vivências, venho interessando-me mais e estudando, sutilmente, sobre as medicinas dos nossos povos e a importância de fazer uso delas, além estudar sobre os benefícios para o nosso corpo e alma. Se nos permitirmos compreender e conhecer a importância de cada folha, cada raiz e suas múltiplas funções, que são vitais para nossa existência, largaremos de vez toda essa química empurrada em receitas.
 

 

 

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