Emanuela Sousa

08/05/2022 05h54

 

Não é sobre você

 

Aconteceu um dia desses, na mesa de um bar. Eu reunida com amigos e conhecidos. Assuntos aleatórios rolando, bebida na mesa, troca-se palavras, até que um amigo meu resolveu abrir o coração sobre seu dramático relacionamento à distância.

Lágrimas vieram à tona e um discurso em tom de desabafo. Eu, como amiga, me prontifiquei a sentar ao seu lado e passei meu braço por trás das suas costas.

Ele prosseguia com o desabafo, quando ouvi alguém do outro lado da mesa dizer: "Ah! Eu não consigo sofrer assim, não" Rapidamente me virei para verificar se alguém havia questionado algo.

Resultado: Ninguém na mesa disse ou questionou. Todos estavam prestando atenção no lamento do rapaz. Fiquei irritada, pensei em retrucar, sinalizar que "não é sobre você! Que estamos falando", mas por algum motivo achei melhor continuar ouvindo-o.

São essas cenas, típicas do nosso dia a dia, que acabam passando despercebidas, mas são mais comuns do que a gente imagina. O sofrimento do outro não diz sobre a gente, e não cabe a nós decidirmos até que ponto deve-se chorar, lamentar, reprimir. Você concorda?

Inconveniência, egoísmo, ingenuidade dessa pessoa, voltei para casa pensando como parte de nós observar nosso  comportamento perante a cena de um  sofrimento semelhante. Um irmão, amigo, namorado ou quem quer que seja. Entender que não é sobre a gente aquele momento. Sair um pouco do "eu" e ir para o "nós" para compreender que, para nós é só mais alguns pinguinhos de chuva, mas para o outro pode ser uma tempestade.

Eu entendo perfeitamente que a gente deixa escapar esses comentários às vezes pelo vício e costume, e que empatia é um assunto extremamente debatido nas redes sociais há pouco tempo, porém acho que está mais do que na hora de vigiarmos como a gente se comporta na rua, nas nossas redes, em grupos e nos happy hours da vida.

O fato do meu amigo ter chorado entre seus amigos não foi só uma atitude de humildade como também de coragem em mostrar suas fragilidades. Naquele momento, em que estávamos todos em amigos, o mínimo que ele e outras pessoas, em seu momento de vulnerabilidade esperam ouvir de nós é:

"Está tudo bem em chorar!"  "Estamos com você!"  "Vai passar".

O resto é tudo vaidade e egoísmo nosso.

 

 


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