Eliade Pimentel

09/05/2022 15h00

Sobre carros de aplicativo e outras economias

 

Sempre que me perguntam se eu sei dirigir, corto logo o assunto. Não sei. Já tive um fusca, mas me acidentei e vi que aquilo não era minha praia e larguei de mão. Não dirigia habilitada e assim permaneci. Sem carteira de motorista. Ao longo dos anos, foram poucas vezes em que senti falta de ter um veículo próprio, pois tenho me virado sem ter esse bem tão caro, tão dispendioso.

 

Desde cedo comecei a pensar no aspecto da coletividade. Lembro que era jovem e soube que a mãe de uma colega ganhou um carro, através de um sorteio. A casa tinha quatro pessoas e passou a ter quatro veículos operando. Para mim, que andava de ônibus, era o final dos tempos. Comecei a perceber que faltavam políticas públicas para melhorar a mobilidade urbana como um todo.

 

A começar pela oferta e regularidade de linhas de ônibus, trens, barcos e outros transportes públicos. Com horários, preços justos, tudo funcionando nos conformes. Outra coisa seriam as políticas públicas para transporte personalizado, como taxi e os atuais carros por aplicativo, que poderiam ser regidos pela mesma legislação e terem acesso às mesmas facilidades, ou seja, descontos e isenções para compra de veículos, para aquisição de planos de seguro, para instalação de kits de gás veicular e combustível.

 

Eu sempre brinquei dizendo que se um dia tivesse carro, teria de vir com motorista. E, com a possibilidade de usar os carros por aplicativo, tenho realizado esse desejo. Minha primeira opção é ir a pé para pequenas distâncias, de modo que não sinto tanta necessidade mesmo de ter meu carro próprio. Sem falar que detesto essa coisa de me preocupar com algo que não seja apenas chegar ao destino, mas também com detalhes importantes como estacionamento, taxas, segurança etc.

 

Fico logo passada com essa responsabilidade toda nas costas de quem tem carro. Realmente, prefiro do meu jeito, econômico e prático, já que falam tanto em praticidade. Nem faço as contas de quanto gasto por mês indo e vindo a pé, de ônibus, de carona, de carro por aplicativo. Mas, com certeza, é bem menos e ando muito mais do que um bocado de gente que eu conheço, que prefere ficar em casa para não gastar ou por não ter como abastecer. 

 

E assim, vou vivendo, como costumo dizer, no meu jeito simples e saudável, às vezes nem tão simples, outras nem tão saudável, porém, procurando gastar dentro dos limites de quem ganha o suficiente para o básico e se esforça para ter uns extras para pagar pequenos luxos. Sobre não ir além do limite de gastos x renda, estava outro dia pensando o meu comportamento, ao observar um antigo baldinho quebrado que uso para colocar lixo.

 

Olhei até com certo constrangimento, pois minhas atitudes para fechar a conta da minha economia doméstica beiram à pão-durice em determinados itens. Sempre que penso em jogá-lo fora, lembro que ele é de plástico e não será reciclado, pois já está mais do que velho. Então, ao envolvê-lo com uma sacolinha ele fica disfarçado, então, passa o desejo de comprar outro. Para meu próprio alento, lembro que a minha querida Tia Helena, uma querida que a vida me deu, ornava o sofá com mantas e o pé eram tijolos.

 

Eu achava aqueles estofados o máximo, aconchegantes e confortáveis. Até que um dia caiu algo no chão e fui procurar. Foi quando descobri o arranjo que utilizado para segurar os móveis. Outra vez, notei que a decoração estava diferente e percebi que muitas mantas e xales cobriam os sofás. Aquela mulher me ensinou que segurar o sofá com tijolos, mudar as mantas para evitar reformas e substituições, eram ótimas soluções para um problema comum à maioria das casas.

 

Pensei esses dias: se eu economizo bastante e ainda não me sobra dinheiro para que fazer tantas coisas que desejo, como viajar bastante, então, o que acontece com quem vai além? Com quem compra mais coisas do que realmente necessita e gasta com coisas desnecessárias? Só digo uma coisa: tem mais trabalho para administrar compras e produtos em casa, tem mais problemas financeiros e ainda deixa de viver.

 

Será que o compramos é o que realmente precisamos? Ter um carro na garagem e arcar com o custo fixo que ele representa, mesmo parado, é melhor do que sair a pé e viver livremente? A (nossa) conta não fecha, nem a do meio ambiente. Pensemos nisso.  


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