Fábio de Oliveira

30/05/2022 09h11

 

Ecologias da diversidade: percepções de vida além da nossa

 

 
Durante minhas vistas em textos e vídeos, ou até mesmo em conversas paralelas, ouço o diálogo limitado e de raso conhecimento sobre o meio ambiente de Pindorama prender-se unicamente a florestas amazônicas, ou até mesmo ouço que é perda de tempo discutir sobre tal assunto. Compreendo que não é culpa destas pessoas, afinal, estão reproduzindo o que foi ensinado a elas. Mas já está mais que na hora da reprodução dessas imagens e informações projetadas sair do controle de estereótipos, não é mesmo?
 
Em momento algum, no decorrer das nossas vidas, fomos orientados a compreender e respeitar as diversidades existenciais da flora ao nosso redor. Nos primeiros anos da escola, lembro-me de que as atividades limitavam-se a colorir e fazer aquelas colagens com papel crepom sobre  desenhos em árvores no papel. Somente no ensino médio entrou em cena as discussões sobre os ecossistemas. A caatinga, um lugar seco e sem vida perpetuamente, os cerrados e as pampas eram vistos de forma superficial e o manguezal só pela janela dos ônibus na ida e volta para escola.
 
Por mais que nas escolas que estudei existissem espaços verdes, nunca houve um estímulo em conhecer as espécies vegetais destes locais. Um dia destes que fui compreender que nasci e cresci em um trecho do que ainda resta da Mata Atlântica, ecossistema esse que vem sendo degradado há mais de 522 anos, mas não entra em nenhuma das discussões.
 
Atualmente, percebendo minhas experiências como aluno em sala de aula, nunca foi efetivado a praticidade da Lei nº 9795/99, que estabelece o trabalho sobre educação ambiental de forma transdisciplinar em todos os níveis e modalidades de ensino. Esse trabalho tem como consequência a formação de conhecimentos e valores sustentáveis. 
 
Essa é uma realidade que estende-se nos dias de hoje em escolas públicas e privadas. De fato, não há práticas efetivas para a formação do corpo docente, imagine para os estudantes! A ausência dessas praticas fomentam um analfabetismo ecológico que podemos observar em ações cotidianas que vão para além da sala de aula. As queimadas e os desmatamentos acontecem em diversos ecossistemas, chegam a um ponto de serem normalizados pela sociedade. Essas ações antrópicas operam em prol de uma ideologia progressista e capitalista para atender demandas e mercado em diversas áreas. Enquanto isso, a sociedade continua desconhecendo os impactos ambientais e climáticos que são ocasionados por esses crimes. 
 
Quando refletimos sobre as relações com a natureza em nossas vivências dentro de um contexto urbano, percebemos as selvas de pedra com muitos elementos em comum. Cidades cercadas de prédios, ruas cheias de concreto e calçadas que tomam cada vez mais espaço das distintas formas de vida vegetal. Vejo xananas brotando dos paralelepípedos como se quisessem dizer: deixa eu viver, me dê espaço!
 
Anulam-se os sentidos de uma reflexão de reconexão com a natureza diante de um cenário em que qualquer forma de vida não vale a pena. Utopicamente, desejamos fazer um regresso, um movimento de volta aos campos longe deste caos urbano em diversos aspectos e nos questionamos em silêncio: até quando será assim?
 
 
 

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