Bia Crispim

17/06/2022 09h35

 

“ARMA É COISA DE VIADO”
 
 
Essa semana eu assisti a um vídeo produzido pelo @portadosfundos (desses muitos que circulam nas redes sociais) que me chamou bastante atenção. Primeiramente pelo tema: armar a população. Segundo pelo direcionamento da mensagem: armar mulheres e LGBT’s. Antes que alguém tire conclusões precipitadas quanto meu posicionamento em relação a essa questão, torná-lo-ei público: NÃO SOU A FAVOR DE ARMAS. Inclusive, não vejo com bons olhos homens que são “homens demais” quando portam armas (isso, a meu ver, assina seu atestado de frouxidão). Sobre essa masculinidade frágil dá pra escrever outra coluna. (Quem sabe na próxima!)
 
Hoje vamos tratar das questões que o vídeo me fez pensar. Para quem não viu o vídeo, ele apresenta uma situação de compra e venda de arma de fogo. Um cara, supostamente hétero e metido a machão chega a uma loja do ramo para comprar uma arma. O vendedor apresenta apenas armas com cores chocantes, com cheiro de framboesa, com medalhinha do Chay Suede ou outros enfeites, tornando as armas muito “aviadadas”. Tanto que o comprador questiona: “Só tem arma pra viado?”
 
E é aí que as inquietações começam. O vendedor responde com outra pergunta: “Quem você acha que precisa se armar pra se defender? Uma mulher andando sozinha na rua ou um hétero branco de 1,80m?” Ao passo que o comprador rebate:“ Então, quer dizer que o hétero não precisa se defender do bandido na rua?” Este recebe como resposta do vendedor: “ É porque, geralmente, o hétero é o bandido”.
 
Não vou alongar mais o diálogo do vídeo porque ele provoca outros questionamentos, que como disse anteriormente, dá pra escrever outra coluna. (Mais outra.) Então, voltemos para as provocações que já foram postas sobre a mesa:
Arma é realmente coisa de viado?
Mulheres e pessoas LGBTQIAPN+ deveriam andar armadas?
Quem são os héteros que estão se armando e por quê?
 
Vamos tentar responder essas perguntas em três parágrafos, um para cada questão. Iniciemos com a primeira: Arma é realmente coisa de viado? Não. Definitivamente arma não combina com a alegria, a irreverência, a luta, as conquistas, as vivências, as existências e resistências das pessoas que pertencem à comunidade LGBTQIAPN+. Mesmo que soframos inúmeras violências, não respondemos com violência, pelo contrário. Esse próximo final de semana, nós responderemos com festa e ação política, na 26º Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, a maior do mundo. Vivemos numa vibe em que o que cabe é amor, respeito, dignidade, visibilidade, representatividade, empregabilidade, conquista de direitos, naturalização de nossas existências, um lugar ao sol... Não, não combinamos com armas, definitivamente.
 
Mulheres e pessoas LGBTQIAPN+ deveriam andar armadas? 
Para essa pergunta a resposta também é um sonoro NÃO. Na verdade deveríamos ter o nosso direito de ir e vir assegurado pelo Estado. Direito de todo cidadão. A população deveria ser armada de educação, deveria ser agraciada com políticas públicas de enfrentamento às violências contra mulheres e LGBTQIAPN+. (E isso não é utópico, isso está na Constituição, isso é direito, e vamos lutar para conquistá-lo). Armas só produziriam mais mortes. (Afinal é pra isso que elas servem.)
 
E quem são os héteros que estão se armando e por que estão fazendo isso?
A maioria são aqueles que (em sua masculinidade fragilizada) acreditam que pela brutalidade da arma sua autoridade e sua vontade serão “respeitadas”. São pessoas que não acreditam na educação, no diálogo e que também não têm respeito nenhum pela vida humana, principalmente aquelas que são “diferentes”. São pessoas carregadas de preconceitos, de questões (inclusive sexuais) mal resolvidas, de valores retrógrados e com um nível de civilidade questionável. São pessoas que “necessitam” manter certas aparências, sobretudo as aparências do macho viril mandão e dono de tudo. (Sabemos o que se passa nos bastidores, em surdina, por trás dessas aparências, não sabemos?!)
 
Enfim, ARMA NÃO É COISA DE VIADO. Coisa de viado, coisa de LGBT’s, coisa de mulher não é coisa que mata, que extermina, que viola, que exclui. Procriamos amor, vontade de viver; conclamamos a liberdade e a felicidade de ser; nutrimos nossos/as/es iguais de afeto, apoio e compreensão; respeitamos o ser humano em sua pluralidade e diversidade. Nossa arma é o acolhimento, o respeito e o amor a todas as pessoas que as armas (não “aviadadas”) querem ceifar. AMOR, LIBERDADE, FELICIDADE, RESPEITO, COMPREENSÃO, ACOLHIMENTO, LUTA, VIDAAAAAA... Isso sim, são coisas nossa!
 

 


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