Emanuela Sousa

03/07/2022 09h37

"A devolução das ilusões"

 

De repente foi-me aberto os olhos.

Doeu, e muito, reconhecer, assumir, dizer: Eu não tenho mais vinte anos, não sou mais adolescente. Hoje tenho trinta anos... Você está entendendo? trinta anos.

 

O tempo está escorrendo entre minhas mãos, estou envelhecendo, assistindo pessoas ao meu redor perderem suas vidas, entes queridos, assim em questão de minutos... Em um segundo que nos descuidamos... Mais uma perda, uma tragédia para uma vida inteira.

 

Ainda ontem soube que o namorado de uma amiga foi brutalmente assassinado… Assim, sem mais explicações… Ele tinha apenas 26 anos. Imagine o luto dessa amiga, e por mais que tente jamais conseguirei medir sua dor.

 

O aumento da violência urbana, os casos de feminicídios que nos perturbam (definitivamente, nós mulheres, não temos um dia de paz) eu, não consigo mais dormir contando carneirinhos, apenas deito e um filme, com todas essas tragédias, passa-se na minha mente.

 

Novas doenças descobertas nessa geração, e estamos cada vez mais próximos do entendimento, da forma mais inconsciente, o quão frágeis somos diante da natureza. Alguém aí ainda está escondido na sua bolha?

 

Tudo bem, eu respeito caso não estejam prontos. "O paraíso mora na minha alma". Diz a música que toca repetitivamente no meu aparelho celular.

 

Ok, eu já entendi que a matéria é efêmera. Que não somos nada, além do que pequenas uma dúzia de partículas de átomos andando por aí. Que a infinitude mora na alma. Que o amanhã é incerto.

 

Conversei comigo mesma e com as maiores forças do universo. E em um ato consciente, empurrei as ilusões para longe... Sei que elas não me servirão mais. E de nada acrescentará… Ainda mais no século vinte e um.

 

O jeito é encarar, aceitar que os tempos de ilusões e paixões adolescentes passaram. Em ato de maturidade, devolvo as ilusões que coloriram minhas paredes, e em troca, obter o real.

 

Aos poucos engulo, em doses homeopáticas, a realidade. Prometo me afastar quando for preciso, lembrarei de pedir colo quando começar a doer.

 

Prometo não mais romantizar minhas relações como na adolescência. Prometo trazer o bom senso quando a fantasia vendar meus olhos.

 

Estou pronta, podem me servir o hoje, o agora e verdade.

 

Pois quem garante que o amanhã, o depois e as ilusões estará aqui?


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