Eliade Pimentel

18/07/2022 15h12

 

Baía Formosa: a cidade do surfe está submersa na onda do descaso

 

Vez por outra sinto a necessidade de utilizar a tribuna livre e minha credibilidade para falar sobre as mazelas por que vive a cidade de Baía Formosa, paraíso localizado ao Sul do Rio Grande do Norte, ao lado da Paraíba. É vergonhosa a forma como a prefeitura municipal descuida do local que deveria ser tratado como uma verdadeira joia rara. Cidade-berço do campeão mundial de surfe e primeiro campeão olímpico da história, na estreia do esporte nas olimpíadas, Ítalo Ferreira.

Há um ano e meio, a prefeita atual – Camila Melo – acompanhada de seu pai Nivaldo Melo, nomeado secretário de obras (ele é de fato o gestor, ela só atende o que “painho” manda fazer) e de outros correligionários – quebraram a marretadas uma obra pública, que estava sendo construída no Mirante, local que deveria ser devidamente organizado para fazer jus à vista que proporciona.

A obra em questão previa o isolamento de parte da via, visto se tratar de uma barreira (falésia, área de risco). Pois bem. A coisa em si não andou, apesar de o Ministério do Turismo ter ameaçado processar, mas não sei realmente até onde ou se o processo andou, pois o que vemos é de dar dor na vista e no coração. A rua Nova (Manoel Francisco de Melo), chamada por esse apelido por conta de já ter perdido uma parte de sua via por queda de barreira, algumas décadas atrás, continua correndo risco de perder mais um pouco da área. E com as fortes chuvas que têm ocorrido na região, é fato, pois já temos pontos muito críticos de deslizamento.

Voltando a Baía Formosa após uns dois meses, constato mais uma vez que que a cidade do surfe está submersa numa gigante onda de descaso; pelas redes sociais da prefeitura vê-se uma coisa, e pessoalmente a situação está bem diferente. A prefeitura não tem interesse de valorizar a cidade para o turismo, visto que a família da prefeita já tem seu próprio negócio turístico. A família Melo não quer concorrência, por isso “esquece” de cuidar da cidade, pois trabalha com marketing dirigido. Seu cliente chega ao hotel e por lá fica. 

Não é preciso perguntar nada a ninguém. É só observar o marasmo que eu mesma testemunhei: em pleno fim de semana, pouquíssimos visitantes na cidade. Sem falar no descaso, na sujeira. Amanheci na cidade nesta segunda-feira e senti falta do “conversê” que eu sempre ouço, dos funcionários da limpeza varrendo a rua. Desde o dia que cheguei, quantas vezes me abaixei para pegar lixo que estava nas ruas, para colocar no tambor de lixo. 

Nesses mais de 20 anos que frequento Baía Formosa, tenho observado que aqui é cada um por si. Refiro-me aos empreendimentos. Cada qual faz seu próprio marketing. Salvo algumas raríssimas exceções, quando o município marcou presença em eventos de turismo. Por falar nisso, estamos a poucos dias da realização da FEMPTUR – Feira dos Municípios e Produtos Turísticos do Rio Grande do Norte, que será realizada pela Argus Eventos nos dias 22 e 23 de julho, no Centro de Convenções de Natal (RN). Soube pela organização que BF não vai participar.

E é sobre isso. Sobre a prefeitura ter se omitido para garantir a apresentação do saxofonista Tiago Ribeiro, que ligava o som na energia da rua, mas houve um curto-circuito e até agora não foi resolvido. Nas últimas semanas, ele tem contado com apoio do restaurante Por do Sol e da loja Simplesmente BF para continuar executando seu projeto “Sol e Música”. Sabe aquele (a) artista que agrega valor a qualquer cidade? Pois bem, a prefeitura rejeita esse tipo de atração. O homem tão gentil, ofertando de graça o que tem para vender, tocando Bolero de Ravel ao entardecer. Misericórdia, Camila, acorda para a vida.

Formosenses estão cansados desse descaso. Mais uma vez bato na tecla: BF precisa de coisas essenciais, como uma linha de transporte que faça a ligação do município-sede com os distritos, levando e trazendo moradores e turistas para conhecer os pedacinhos deste paraíso. Sagi, Pitu, Destilaria, Estreito, Casqueira e outras comunidades vivem ilhadas. Nos dias de aulas, a população pega carona no transporte escolar. Noutros dias, precisam pagar caro para se deslocarem. É isso.

O marasmo da cidade é reflexo desse descaso. As pessoas que conheciam BF voltavam por conta própria não sei quantas vezes, ou até se fixavam, como eu e meu sócio Rubão nos fixamos. Agora, vêm uma vez só e não retornam. Lamentavelmente.

 

 


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