Natural de Natal/RN, é professora e pesquisadora do IFRN, autora de poesia e contos de terror.
Diante da vertigem da loucura do mundo, girando cada vez mais veloz, em meio a afetividade plastificada dos novos adultos reborn, de um surto de metapneumovírus e de tanta gente mentalmente adoecida, pensei em deixar alguns conselhos às Gerações Z e Alpha, próxima leva de adultos a ocupar o mundo do trabalho – alguns já estão desde cedo.
Faço parte da Geração X, o que significa dizer que sou do tempo da Guerra Fria, quando também a Era Digital ainda se consolidava e, atualmente, não ando com um kindle debaixo do braço por opção, ainda que seja vista como jurássica por causa disso.
Esses conselhos são fármacos para afugentar males do corpo e da alma, reunidos nas rotas trilhadas pelas situações na vida. Em suma, são pequenas pílulas homeopáticas. Cair é humano (e machuca), porém se reerguer é divino por ser algo realizável com ajuda de amigos.
Entre o cair e o levantar, há mistérios de plantio. Tudo (re)começa com a escolha de sementes. Acontece que, nesse processo, os levantados do chão acabam encontrando ervas daninhas e, quando não são cortadas no começo, comprometem os bons frutos de uma lavoura inteira.
A lavoura é o conhecido trabalho diário: você cava, cuida do solo, planta suas sementes (que lhe foram caras), regando-as, esperando-as crescer. Consegue até controlar sua ansiedade (ou, pelo menos, se esforça a contento) para ver florescer tudo aquilo que se empenhou em plantar. Quantos dias, meses ou anos você empregou nesse projeto? (Um curso que você tanto queria fazer, a viagem planejada e sonhada, a mudança de endereço para ter qualidade de vida).
Daí a erva daninha se enraíza, criando no solo um espaço de distração dos propósitos primordiais. Até você perceber, a intrusa vai se aninhando, camuflada em sua plantação. Nessas horas, a procrastinação parece ser uma velha amiga (da planta indesejada). O apego faz a gente acarinhar a procrastinação. Então, chega um momento nessa encruzilhada que a vida só deseja da gente uma coisa: coragem. Não há espaço para o medo de podar. Ou você corta, ou seu lugar será tomado até você se perder por completo. Cortar laços com situações e pessoas-ervas-daninhas é condição vital para seguirmos. Gaiolas não viram pássaros. Além do mais, o novo sempre vem, por isso deixe ir e confie no processo.
Importante é não se colocar em servidão voluntária. Observe a liberdade cochilando em seu coração. Acorde-a sem hesitar. Se deram um “roteiro” para você seguir, lembre-se: você não é um robô. Não se roteiriza o sentir. É a poeta Adélia Prado que lembra bem: “A coisa mais fina do mundo é o sentimento.” E isso não se constrói de forma instagramável, mas de maneira singular, genuína e sincera. Nada melhor que o tempo: nunca para de andar e tudo revela.
Não se diminua para caber numa forma pré-estabelecida por alguém que não enxerga o seu tamanho. É bem verdade que dentro de você há fel e doçura. Sobressai o que você alimenta. Lembre-se: aquilo que vem como bênção não acrescenta dor. Então, não se distraia.
Caminhe ao lado de quem faz você revisitar sua coragem. Não aceite menos que isso. Ensine seus braços a abraçar a beleza da vida, aprendendo que nunca é tarde demais para os afetos, ou, nas palavras de Cora Coralina, “Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.”
*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).