Arthur Dutra

19/12/2019 11h01
 
A Natal do futuro será amiga da tecnologia
 
É sempre fascinante pensar no futuro, mesmo quando ele parece distante. Se antes esse exercício parecia ser coisa de filme de ficção científica, hoje, na velocidade com que as coisas mudam, é necessário ter o futuro permanentemente na pauta do dia, sob pena de, ao ficarmos presos só ao presente, sermos condenados ao atraso quando a página da história virar de forma brusca. É medida, portanto, de sobrevivência. Isso vale para nós, seres humanos, mas também para as cidades, que são verdadeiros organismos vivos que precisam se ajustar aos novos tempos para que continuem a ser espaços atrativos para as pessoas. As pessoas, afinal, possuem maior mobilidade, e ao primeiro sinal de decadência de uma cidade ou de melhores oportunidades em outra, vão embora levando consigo suas inteligências e capitais em busca do melhor para si.
 
Trago este assunto para a coluna de hoje a propósito de um estudo produzido pela FIESP em 2018 chamado “Macrotendências Mundiais”, em que apresenta uma série de oito perspectivas para o futuro em diversos segmentos, como forma de indicar caminhos e oportunidades para os investidores. Uma dessas oito tendências é justamente a urbanização e a emergência de megacidades.
 
 Os desafios de uma grande cidade são muitos e complexos, é claro. Porém, há um item que jamais poderá ser desconsiderado no enfrentamento dos problemas urbanos: a tecnologia. Não se trata apenas de construir cidades inteligentes, ou smart cities. A tecnologia irá impactar a própria vida humana e suas rotinas, permitindo, por exemplo, mais tempo livre para as pessoas terem mais momentos de lazer. Mas do que adianta ter mais tempo de lazer se o trânsito consome esse tempo extra? É aí que entra a necessidade de investimentos em inovação da gestão da mobilidade urbana com big data, sensores, câmeras e motoristas conectados. Na Holanda, diz esse estudo, a simples conexão de 25% dos semáforos a aplicativos com inteligência artificial reduziu em 10% o congestionamento em horários de pico. Essa tendência também vale para o transporte público, que precisa avançar na adoção de soluções tecnológicas.
 
No campo da oferta de serviços essenciais como a saúde, aponta como tendência a adoção de sistemas digitalmente interligados, com identificação de pontos críticos de saúde e diagnósticos remotos. Da mesma forma na educação, onde as plataformas de ensino à distância, que já são uma realidade, tendem a serem ainda mais utilizadas pelas pessoas e instituições de ensino, inclusive públicas.
 
No espaço urbano, a habitação sempre foi um desafio a ser enfrentado em razão do alto custo e as sempre inconvenientes restrições construtivas, que encarecem ainda mais o preço dos imóveis e inviabilizam o acesso de muita gente à moradia digna. A tecnologia de casas modulares ou pré-fabricadas poderá indicar um caminho para ampliar o acesso à moradia digna, sem prejuízo da necessária flexibilização de regras urbanísticas que impedem a verticalização e o adensamento nas áreas com maior infraestrutura e oportunidades de empregos e negócios.
 
E já que falamos que as pessoas terão mais tempo livre para o lazer, haverá a necessidade de opções, especialmente em lugares abertos, em contato com a natureza, para o cidadão das grandes cidades nesses momentos. Aqui, há um problema duplo a ser enfrentado, especialmente na nossa cidade: a gestão dos espaços públicos de lazer realmente atrativos para as pessoas e, claro, a segurança. Acredito que uma coisa tem a ver com a outra, pois um espaço público bem administrado terá como pressuposto a oferta de segurança para o usuário. Para os espaços públicos, o desafio é jurídico, consistente na modelagem de uma forma viável de gestão dessas áreas. Neste campo, digo que todos os monopólios estatais precisam ser quebrados. Preservar o que é frágil e singular ambientalmente sim, mas garantindo o acesso do cidadão ao convívio com a natureza. Não importa quem administra, desde que funcione. Para a segurança, a tecnologia também terá papel fundamental, com equipamentos de análise de dados e imagens para subsidiar o policiamento. 
 
Pode ser que a tecnologia não resolva todos os problemas das cidades, afinal, há muito de humanos neles também. Mas considerando que a própria tecnologia não é senão uma criação humana, servirá, sim, para nos ajudar nessa missão de tornar esses ambientes fantásticos, que são as cidades, em lugares melhores para que possamos viver e realizar nossos potenciais. Repito: a cidade que não estiver antenada com essas tendências, que podem, inclusive, mudar amanhã se surgirem novas tecnologias, tende ao fracasso. E não é isso que queremos para nossa cidade, que tem, graças a Deus!, imenso potencial para ser esse ambiente em tudo permissivo ao desenvolvimento humano, econômico e social. Cabe a nós sintonizar Natal nessa vibe do futuro, com inteligência, coragem e espírito aberto. Vamos fazê-lo!
 

 


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