Renisse Ordine

14/01/2021 08h34
 
Resenha sobre Contos índios, de Ruth Guimarães 
 
 
Com sua visão antropológica da cultura, Ruth Guimarães, dedicou seus escritos e estudos para abordar o cotidiano caipira na literatura, o que, particularmente envolve os nossos antepassados indígenas. Citando a autora “O índio, nós trazemos em nós”. 
 
Como povo, somos uma mistura de raças, e o livro traz essa valorização e engrandecimento para com as nossas origens ameríndias. Fato que vem proporcionar ao leitor um momento de autoconhecimento sobre o seu espaço. 
 
Para quem ainda não conhece a obra de Ruth Guimarães, para elaborar as histórias, ela se auxilia basicamente no povo, essa gente simples, que assim como ela gostam de ouvir e contar causos. Buscando sempre a forma descontraída para ilustrar os acontecimentos e mistérios que envolvem o mundo. 
 
Tanto que ao coloca-las no papel, a autora sempre prezou por essa mesma simplicidade em sua linguagem ao registrá-las. 
 
“Quanto à linguagem, claro, recontei à minha moda. Sou portador. Sou caipira. Tenho direito”. 
 
Em seu conteúdo, as histórias começam com os “Contos dos curumins”, que apresentam os índios Puris, primeiros habitantes da região valeparaibana, e por diante o seu cotidiano se envolve com a dos animais e figuras folclóricas das florestas. 
 
“Que conheciam os índios? O sol, a noite, o rio, o macaco, a preá, a onça. Que queriam eles? Viver. Além do comer, do beber, do reproduzir-se, queriam também saber quem os tinha feito. Que faziam eles neste mundo”.
 
Assim, as divisões dos capítulos seguem com os ciclos do macaco, do jabuti, da onça, curupira e da cobra-grande. Ao final de cada fábula há uma consideração da autora sobre a sua pesquisa de acordo com o assunto, apontando as suas variações nas demais regiões e a modificação na grafia de alguns nomes. 
 
Sobre isso, o escritor Daniel Munduruku, apresenta no prefácio um belo texto sobre as versões de histórias que ocorrem entre os povos, devido as diferentes construções. Também coloca a literatura e a produção de livros como atividades essenciais para que as culturais antigas não sejam esquecidas. 
 
“Este importante livro da saudosa Ruth Guimarães é um documento essencial para não esquecermos nossas próprias origens ancestrais”. 
 
Sobretudo, ler e falar sobre Ruth Guimarães é uma grande aprendizagem sobre nós mesmos. Além disso, quem se dispõe a conhecer sua ampla obra, abre-se para um universo simples do respeito pela diversidade dos povos. Como também é uma ponte de apego pela nossa gente: a que gosta de comer iça e mantém o seu vínculo com a sabedoria dos antepassados. 
 
Diante da avançada modernidade e suas tecnologias a distância de um toque, Contos índios, é uma maneira intima de se ver a vida. 
 

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).