Primeiras páginas literárias de um novo ano
Um ano só começa quando de fato conseguimos ter em mente quais são os nossos objetivos pessoais e profissionais.
O mês de dezembro é uma delícia, tem um clima muito aconchegante e borbulhante ao mesmo tempo. Daí vem janeiro, com seu ar de férias e preguiça! Nossa! Como é difícil voltar às agitações e organizações do cotidiano! Ainda mais neste ano de 2022 em que teremos tantos assuntos importantes a tratar: economia, eleições, pandemia, vida própria. Um furdunço só!
Usufrui as delicias da preguiça e do tempo livre que necessitava, desmontei a árvore de natal e guardei as decorações natalinas. E, por sorte, já estou me acertando com as minhas atividades literárias para este ano. Diante de um intenso ano eleitoral, optei por me aprofundar nas leituras sociais. Pois, antes de qualquer coisa, somos seres políticos, e temos a obrigação de ter consciência sobre o nosso espaço.
Nesta linha, minhas primeiras páginas literárias desse ano foram voltadas à conscientização, e tive a oportunidade de ler dois incríveis livros. O primeiro foi uma coletânea, “Escrito Negro: Textos Contemporâneos”, um livro pequeno somente no tamanho, pois é grandioso em seu conteúdo. E o segundo: “A pintora de Henna”, da autora indiana Alka Joshi, libertador em relação às questões femininas.
O primeiro, foi uma descoberta que fiz em minha humilde biblioteca, havia comprado há alguns anos, e por conta de tantas leituras, acabou ficando na estante. São escritos de seis autores negros que abordam a importância do redescobrimento e da necessária valorização da literatura negra brasileira. Tenho muito que falar sobre ele, dos autores participantes, e será preciso uma resenha especial, que logo irei publicar.
“No Brasil, há uma ideologia literária da cor, que incide sobre aquilo que consideramos boa ficção. Não é à toa que nosso cânone é esmagadoramente eurodescendente. Estudamos autores brancos porque são brancos, mas estudamos somente quando eles se mostram bons, apesar de serem negros. Nesse deplorável projeto político de branqueamento cultural, aprendemos a reduzir Machado de Assis à ironia, Cruz e Sousa ao exotismo poético e Lima Barreto ao alcoolismo”. ( Luiz Maurício Azevedo- As cores da fé).
Já o segundo, é um romance que aborda a vida da protagonista Lakshmi. Uma mulher indiana que procura sobreviver na cidade rosa de Jaipur com as suas pinturas de hena. Lutando contra uma vida pré-definida por sua família, que a forçou a um casamento precoce, e a uma vida entregue aos desejos e violência de seu marido.
Ultrapassando todos os limites da sua cultura e tradições quanto às oportunidades estabelecidas pelas castas sociais, preconceitos e adversidades, ela luta para que sua vida aconteça. Uma curiosidade do livro é que a autora se inspirou em sua mãe, Sudha, para a criação da protagonista, no intuito de dar a ela uma nova oportunidade de vida.
Para a reflexão, a autora chama à atenção para três pontos significativos: a liberdade, a diversidade e a hostilidade. E mesmo se tratando de uma história indiana, ela é de alto valor social. Nós, mulheres, precisamos nos apropriar de nossa soberania pessoal, e Laksmi tem muito a nos ensinar e também aos homens, no que diz ao respeito com a vivência feminina.
“As mulheres merecem o poder de tomar as decisões que afetam seus destinos”. ( Alka Joshi)
Assim começo o meu ano literário, lendo com muita paixão. Ainda há preciosas obras em minha pilha de leituras, e todas serão cuidadosamente lidas e repassadas aos meus estimados leitores. Precisamos fazer com que 2022 seja um ano de reconstrução e principalmente de UNIÂO. E tudo se inicia pela leitura!
*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).