O jardim de bronze
Gosto muito de diversificar as minhas leituras. Como leitora não me prendo exclusivamente a um estilo literário ou a um grupo específico de escritores. Isso seria engessar os limites de meu conhecimento, leio de tudo e aprendo muito.
Assim, por esses dias conheci o livro do autor argentino Gustavo Malajovich, O Jardim de Bronze, e coincidentemente me deparei com a notícia de que esse roteiro deu origem a uma aclamada série no canal pago HBO. Como não sou assinante de tal canal, terei que ficar com a leitura. Geralmente, gosto de ver as adaptações.
Pois bem, a história criada ao entorno do desaparecimento da pequena Moira, despertou-me para dois fortes temas debatidos na sociedade: o desaparecimento de crianças e um diferente posicionamento emocional do homem na literatura.
Digo isso, pois quando ocorre algo tão terrível com uma família, tendem-se os olhares da sociedade voltarem-se exclusivamente às mulheres. Situação muito excessiva ao feminino. E ao me deparar com esse livro argentino, fiquei espantada ao ver esse olhar centrar no masculino e principalmente, focar, em sua conduta diante das impactantes descobertas e do cuidado do personagem Fábian com a sua esposa Lila.
No enredo, quando a filha do casal é sequestrada, o vazio preenche a vida dessa família. O pai fica em desespero e não descansa nem por um segundo, e a mãe que já carrega uma carga emocional muito forte de seu passado, não consegue agir e precisa se recolher em sua dor. Fato que é grandiosamente acolhido pelo marido.
Li várias críticas sobre o livro, e muitas delas, há negativas sobre a ausência do pensamento do feminino. Mas isso é exatamente o que mais me agradou. A mulher por tantas vezes precisa ter palavras pra tudo, é tão cobrada por suas atitudes que o silêncio é julgado como incapacidade.
Vejo esse escrito como uma renovação masculina na literatura contemporânea, a do homem que pode sim, perdoar, sentir, e acalentar uma mulher. Sendo este conceito tão humano e necessário para esse novo mundo o qual sonhamos.
Que faz um contraponto do que sempre vemos e ouvimos, de que o homem de “verdade” é aquele que age grosseiramente ogro e não releva os seus próprios sentimentos. Sempre dividindo o que são coisas de homens do que são coisas de mulheres. Os casos de feminicídios e estupros estão aí para confirmar essa triste realidade.
O que também me lembrou de Clarice Lispector, quando diz que o homem e a mulher são pessoas que ao se unirem, é preciso que caminhem juntas, complementando-se e amparando-se em todos os momentos. Nesse contexto, não há papeis exclusivos do modo de agir e sentir de cada gênero.
A literatura vem para modificar pensamentos e atitudes. Gostei muito de ver como um autor masculino desenhou o seu personagem de forma tão sensível e evoluída.
Escritas assim são urgentes para repensar o papel do homem na vida pessoal, conjugal e no social.
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