Fernando Luiz
Cantor, compositor, escritor e produtor cultural. Formado em Gestão Pública, apresenta programa Talento Potiguar, aos sábados, às 8:30 na TV Ponta Negra, afiliada do SBT no RN.
16/02/2025 04h32
O CANTADOR DOS QUATRO CANTOS
Eu o conheci em meados dos anos oitenta. Na época, pelo menos duas vezes por ano eu viajava para o Rio de Janeiro e São Paulo para fazer shows e me apresentar em alguns programas de TV. Quando estava no Rio, eu costumava ir quase diariamente para Bonsucesso, onde o paraibano Aluízio Silva, meu empresário, tinha uma gráfica. Ele era amigo de Aluízio e de vez em quando eu me encontrava com ele; quando isto acontecia, nós conversávamos bastante sobre música, arte, cultura, política e uma infinidade de outros assuntos e até sobre religião. Além dos assuntos com os quais nos identificávamos, nós tínhamos algo mais em comum: éramos potiguares (eu nasci em Natal e ele em Mossoró).
Ainda pequeno, em 1968 ele ouviu a música Asa Branca pela primeira vez, em um showmício que se realizava em Mossoró, na voz daquele que seria a sua grande inspiração: Luiz Gonzaga. Eu estou falando de Marcus Lucenna, que desde a infância adquiriu gosto pela música influenciado por seu pai que, além de radialista, era poeta, repentista e cordelista.
Marcos Antônio de Queiróz Lucena sempre foi apaixonado por música e em 1977, com apenas 16 anos chegou ao Rio de Janeiro carregando, além da sua bagagem, o sonho de ser artista, inspirado pela obra dos repentistas, emboladores de coco, violeiros e cordelistas, figuras que sempre estiveram presentes na sua vida. Na cidade maravilhosa ele começou a cantar no calçadão de Copacabana e, aos poucos, se destacou por seu carisma e sua musicalidade, conquistando turistas e cariocas. Foi no calçadão que ele conheceu muita gente, inclusive pessoas influentes do meio musical.
O gosto musical de Marcos Lucena não se limitava às obras de artistas nordestinos; como uma espécie de pesquisador precoce, além de Luiz Gonzaga, ele ouvia tudo o que estivesse ao seu alcance, desde Jackson do Pandeiro - considerado “O Rei do Ritmo” -, passando por Bob Dylan, Charles Aznavour e outros nomes da música internacional; posteriormente passou a admirar nomes da MPB, como Fagner, Raul Seixas e Ednardo.
Com esforço, competência, talento e determinação, adotou o nome artístico de Marcus Lucenna e, com o passar do tempo, foi ganhando espaço e conquistando um público cada vez maior. No Rio de Janeiro, ele sempre foi um defensor ferrenho da Feira de São Cristóvão e dos interesses dos feirantes, o que lhe rendeu em 2009, durante o primeiro mandato de Eduardo Paes, o convite para se tornar o administrador da feira, cargo que ocupou até 2013.
Ao longo da sua trajetória, o mossoroense acumulou na carreira diversas parcerias importantes como Luiz Vieira, Mirabô, Capinam, Mario Lago Filho, Vicente Telles, Zé Lima – também mossoroense -, Roque da Paraíba, Edson Show, Chico Pessoa e Zé do Norte. Ingressou no rádio, onde dirigiu e apresentou os primeiros programas de Forró em horário nobre no Rio, em emissoras como Imprensa FM e Tropical FM. Também esteve à frente dos programas “Nação Nordeste”, na Rádio Viva Rio (do Sistema Globo) e “Marcus Lucenna – a Voz do Povo”, na Rádio Carioca AM. Na TV, dirigiu, produziu e apresentou “Marcus Lucenna De Repente”, programa da NGT. Assinou a coluna “Canto do Povo Nordestino”, do jornal o Povo do Rio, e fundou o jornal Nação Nordeste. Também participou como entrevistado e artista convidado em importantes programas de TV, entre os quais Jô Soares e Domingão do Faustão.
Marcus Lucenna idealizou vários projetos de valorização da cultura popular e em defesa das causas do migrante nordestino. Ocupou por seis anos o cargo de gestor do Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, (a feira de São Cristóvão) e não só impediu que a Feira fosse retirada do bairro por força da especulação imobiliária, como liderou o movimento que a levou para dentro do Pavilhão de São Cristóvão, onde está localizada até hoje.
Amante das manifestações literárias nordestinas, Marcus Lucenna ocupa a cadeira número 7 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC). Foi condecorado com os títulos de Cidadão Fluminense, pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e Cidadão Carioca, pela Câmara de Vereadores.
Por seu talento como cantor, compositor, poeta e músico, pela sua trajetória no ramo artístico e por suas andanças pelo Brasil, Marcus Lucenna hoje é conhecido como “O Cantador dos Qu4tro Cantos”. Sua jornada musical é marcada pelo ecletismo: passa pelo pé-de-serra e segue pelo brega, cantoria de viola, tango, rumba, lambada, chorinho e tudo o que representa a alma brasileira e latino-americana.
Sou fã de Marcus Lucenna, e pra mim é um privilégio desfrutar da sua amizade, apesar da distância. Morando no Rio de Janeiro há várias décadas, o meu amigo conseguiu algo raro: permanece fiel às suas origens e defende a cultura nordestina, o que é motivo de orgulho para todos os potiguares. Principalmente para os mossoroenses.
Instagram: @fernandoluizcantor
*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).