Fernando Luiz

Cantor, compositor, escritor e produtor cultural. Formado em Gestão Pública, apresenta programa Talento Potiguar, aos sábados, às 8:30 na TV Ponta Negra, afiliada do SBT no RN.

05/01/2025 07h12

A PRAÇA É DO POVO!

 

“A praça Castro Alves é do povo, como o céu é do avião... / Um frevo novo, um frevo, um frevo novo / Todo mundo na praça e muita gente sem graça no salão...”

Assim começa a música Um Frevo Novo de Caetano Veloso, numa referência à praça Castro Alves, um dos símbolos de Salvador. Na verdade, os versos iniciais da canção foram inspirados na frase do poema O Povo ao Poder, de Castro Alves: “A praça é do povo, como o céu é do condor”, na qual o genial artista baiano se inspirou para escrever a canção que, a partir de 1977 tem embalado, durante décadas, carnavais pelo Brasil afora.  Caetano substituiu a palavra condor por avião, transportando o sentido da frase para os tempos modernos.

Castro Alves, o “Poeta dos Escravos”, nasceu na cidade de Cachoeira, na Bahia e, embora também escrevesse poemas de amor, notabilizou-se por causa de suas poesias de caráter abolicionista, sendo seu poema O Navio Negreiro o mais conhecido, em virtude da sua importância histórica. Já nos seus primeiros versos, o poema fala de “dois infinitos que se estritam num abraço insano, que unem dois azuis dourados, plácidos, sublimes...”  para perguntar em seguida: “Qual dos dois é o céu, qual é o oceano?  E o longo poema, em um trecho contundente, poético e também chocante, escreveu: “Sonho dantesco! / O tombadilho que das luzernas avermelha o brilho em sangue a se banhar!... /Tinir de ferros, estalar de açoites...

Oficialmente extinta, a escravidão ainda está presente em várias partes do planeta, com a prática imoral do trabalho escravo e como ela, também persiste a prática criminosa da falta de respeito ao Meio Ambiente, por meio de um capitalismo selvagem que   alimenta as mudanças do clima e a destruição do nosso ecossistema, fazendo quase agonizar o planeta em que vivemos, considerado por muitos como um organismo vivo e chamado, em 1969, de Mãe Gaia, pelo cientista inglês James Lovelock.    

Numa época em que tragédias ecológicas e desastres ambientais ocorrem com cada vez mais frequência, é de se esperar que líderes e seguidores de muitas das religiões do mundo lutem a favor das minorias, dos menos favorecidos e de um esforço conjunto em defesa do Meio Ambiente. O que, infelizmente, nem sempre acontece.

Na cidade de Natal, a Prefeitura Municipal, sem consultar os moradores do Tirol, fez a doação de um terreno (onde existe uma praça cinquentenária) para a construção de uma capela. A população, não só do bairro, mas de toda a cidade deve se unir para combater este “assassinato ecológico” que, ao se concretizar – O QUE NÃO PODE E NEM DEVE ACONTECER – vai derrubar árvores, destruir uma área de lazer onde crianças brincam, uma academia ao ar livre onde muitas pessoas se exercitam, um local tranquilo onde os pais passeiam com seus filhos bebês, um lugar aprazível onde idosos se encontram e um espaço arborizado onde as pessoas de qualquer credo, qualquer gênero e qualquer classe social se encontram, se divertem e vivem momentos agradáveis.

Embora já tenha sido publicada no Diário Oficial do Município a doação do terreno, sabemos que este ato pode ser anulado pela nova administração da capital e a população precisa se movimentar com veemência para que isto aconteça e impedir que este crime contra a natureza se concretize. Nós vivemos num país laico e uma praça que é de uso comum não pode jamais ser destruída para a construção de uma capela; nem um templo evangélico, budista, de um centro espírita, de religião de matriz africana ou qualquer segmento religioso não citado aqui.

Como disse Castro Alves, “A praça é do povo, como o céu é do condor”.  E como afirmou Caetano Veloso, “A praça é do povo, como o céu é do avião”.

Os natalenses devem dizer: “Qualquer praça é do povo”; nós do bairro  do Tirol dizemos: “A praça Assis Chateaubriand é nossa!”

Instagram: @fernandoluizcantor


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