Rio Grande do Norte
Barragem de Oiticica ganha vida nas agrovilas
19/03/2025 17h47
Foto: Carmem Felix/Assecom-RN
A grandiosidade de uma obra pública não se mede apenas pelas benfeitorias diretas, mas também pela transformação das pessoas que vivem no entorno. No caso do Complexo Hidrossocial de Oiticica, inaugurado nesta quarta-feira (19), a mudança social é incalculável. A agricultora Maria Aparecida Bezerra, 41 anos, deixou para trás as incertezas para traçar novas linhas para a própria trajetória de vida. Hoje, com moradia garantida por conta dos ganhos sociais do projeto hídrico, as agrovilas, ela e o marido sustentam a família. Com o terreno que recebeu pelo projeto, resultado de uma ação do governo do Estado do Rio Grande do Norte, ela planta batatas e hortaliças.
Com a formação do reservatório da barragem, aproximadamente 400 famílias precisaram deixar suas casas. Para atender a essa população, foram implementadas três agrovilas, que hoje abrigam 115 famílias de agricultores em uma área total de 786 hectares. O projeto também contemplou 41 famílias sem-teto, que receberam casas do Governo do Estado, e outras 33 que ganharam terrenos para construção de suas moradias.
Maria Aparecida mora em uma das unidades residências da Agrovila Jucurutu, também conhecida como Raimundo Nonato. Com uma área total de 276,84 hectares, o local oferece fácil acesso através da rodovia RN-118 e está a apenas 2 km da
Barragem Oiticica.
A agricultora sempre morou nas proximidades de onde hoje está localizada a barragem. “A barragem mudou a minha vida. Sim, eu saí do meu antigo local, onde cresci, mas recebi uma casa e um terreno para plantar. Hoje, estou muito melhor. Consigo vender o que planto, tenho minha própria casa e tenho água. Isso é uma bênção”, disse.
O marido de Maria Aparecida, Paulo Damião Bezerra, 43 anos, disse que nem o solo pedregoso da região o impediu de plantar tubérculos. “Não tem dificuldade. Só precisei limpar o terreno. Hoje, é só bênção. A felicidade não cabe no peito”, conta.
Além da moradia e do fornecimento de água e energia, as famílias da agrovila conseguiram melhorar o acesso dos filhos à educação. “Antes, eu não tinha como levar meu filho à escola, mas, com a agrovila e a abertura de acessos ao município de Jucurutu, o transporte escolar vem até aqui. É uma vida melhor para todos”, contou Maria Aparecida.
Acesso a serviços essenciais
Foram implementados 128 quilômetros de estradas de contorno, conectando as comunidades e facilitando o acesso a serviços essenciais. Além disso, 114 quilômetros de novas redes de energia elétrica garantem qualidade de vida e possibilidades de desenvolvimento econômico para a região.
A governadora Fátima Bezerra comemora o legado social gerado pelo empreendimento hídrico. “A Barragem de Oiticica não é apenas concreto e água represada. Ela representa esperança, segurança e desenvolvimento. Ela é um grito de liberdade para cada família que, geração após geração, conviveu com a incerteza da seca”, disse.
Ainda segundo Fátima Bezerra, além da unidade São Raimundo, os beneficiados também foram alocados em outras duas agrovilas: São Fernando e Jardim de Piranhas. A São Fernando contempla 24 famílias. A Agrovila Jardim de Piranhas foi instalada na Fazenda Juazeiro. Além das moradias, conta com uma escola e um posto de saúde, garantindo acesso à educação e saúde para os moradores.
Francisco Evaldo de Souza é outro que se orgulha da residência recebida. Morador da região desde a infância, ele conta que vivia em casa de taipa, à sombra de uma oiticica, até ser realocado para a Agrovila São Raimundo. “A gente não tinha casa e agora tem. Morávamos debaixo de um pé de pau. Às vezes, em casa alugada, não tínhamos como pagar e precisávamos sair. Agora, temos a nossa casa”, diz.
O pescador Erivaldo Marcilino de Souza, 44 anos, conta que já se beneficia das águas da barragem. Ele utiliza rede e tarrafa para pescar nas águas que se acumulam na região. “Sou pescador, mas agora não posso mais por causa da tuberculose e dos problemas na coluna. Minha esposa também está doente, teve câncer de mama. Mas a gente sobrevive da pesca e dos nossos filhos, que ajudam.”
Erivaldo relembra, com tristeza, os tempos em que não tinha um teto para protegê-lo. “Vivi um tempo em que não era ninguém. Antes, passava de casa em casa, vivia de aluguel. Agora tenho minha casa, meu nome nela. Isso mudou tudo para mim. Precisava de um lugar para ficar e hoje, graças a Deus, tenho minha casinha. Agora estou no céu, agradeço a Deus todos os dias.”
Atualmente, ele divide a casa com seis pessoas, às vezes oito, pois todo final de semana suas filhas vêm para casa. “Essa casa foi feita pelo governo do Estado. Quem vivia de aluguel sabe como é difícil. Agora tenho meu canto, minha casa, e não preciso mais ficar me mudando.”
Nova Infraestrutura, Nova Vida
Para as 176 famílias que moravam na comunidade Barra de Santana, que será coberta pelas águas da barragem, houve a realocação completa dos moradores para em Nova Barra de Sant’An. O local conta com acesso à infraestrutura social, hidráulica e elétrica completa. O planejamento do complexo também contemplou a criação de 33 terrenos destinados a serviços e indústrias, além de um centro comercial com 22 boxes para comércio local. Esta infraestrutura visa garantir não apenas moradia, mas também oportunidades de renda e desenvolvimento econômico para as comunidades reassentadas.
Nas agrovilas, além dos lotes individuais, foram reservadas áreas para uso coletivo, destinadas a cultivos irrigados e de sequeiro, gerenciadas por associações comunitárias. O projeto também respeitou a legislação ambiental, com áreas de preservação permanente (APP) e reserva legal devidamente demarcadas.
Com a conclusão da rede de distribuição de energia aérea trifásica, que totaliza 114,25 km ao longo da estrada de contorno, o projeto garantiu não apenas o abastecimento das novas agrovilas, mas também criou condições para o desenvolvimento de propriedades rurais e residências ao longo de todo o perímetro do reservatório.
A dimensão social do Complexo Hidrossocial Oiticica
176 famílias foram realocadas em Nova Barra de Santana, com toda a infraestrutura social, hidráulica e elétrica necessária.
Foram construídas três agrovilas para o reassentamento de 115 famílias de agricultores, em uma área de 786 hectares – Agrovilas Raimundo Nonato, São Fernando e Jardim de Piranhas.
41 famílias sem teto receberam casas do governo do Estado.
33 famílias sem teto receberam terrenos para a construção de suas moradias.
33 terrenos foram destinados para serviços e indústrias.
Centro comercial com 22 boxes para comércio.
128 quilômetros de estradas foram construídos.