Armando Souza

Músico, Empreendedor Cultural, Produtor musical e diretor da Escola Oficina Livre de Música.

19/04/2024 08h55
 
Um dia nacional só para o Choro
 
Por muito tempo acreditou-se que Pixinguinha, referência do chorinho brasileiro, tinha nascido em 23 de abril, data já oficializada pelo Congresso Nacional, como Dia do Chorinho. Entretanto, novas descobertas dão conta de que o compositor, arranjador e instrumentista, nasceu em 04 de maio de 1897 e faleceu em 17 de fevereiro de 1973, apesar disso, manteve-se o entendimento da data de 23 de abril, tornando-se tradição essa comemoração tão importante para música brasileira. 
 
Controvérsias à parte, o fato é que músicos e apreciadores da música popular brasileira, tem um motivo a mais para comemorar esse dia. Isso acontece, pelo fato de que o Instituto do Patrimônio Histórico Nacional(IPHAN), considerou oficialmente o Chorinho, como patrimônio cultural do Brasil, registrado no Livro das Formas de Expressões, através de um longo processo de tramitação apresentado pela brilhante iniciativa do Clube do Choro de Brasília, em 2012. A notícia foi recebida com bastante entusiasmo entre os chorões e choristas brasileiros e significa um compromisso do Estado brasileiro na preservação e promoção desse Patrimônio, considerado por muitos, pai da música popular brasileira.
 
A história do Choro no Brasil ocorre, concomitantemente, com a chegada da família real portuguesa em 1808. O Rio de Janeiro, então capital do “Reino Unido do Brasil”, passou por grandes transformações urbanas e culturais. Foram criados inúmeros cargos públicos e artistas de vários segmentos, profissionais de todas as áreas foram chegando ao país a fim de atender as demandas da Corte portuguesa e da população em geral que crescia vertiginosamente. Na bagagem cultural musical, trouxeram: Piano, Violão, Cavaquinho, Clarinete, Bandolim, etc que eram os instrumentos mais utilizados para tocar Valsa, Mazurca, Modinha, Xote, Minueto, entre outros ritmos que abrilhantavam os salões nobres das casas de festas tradicionais da elite europeia. 
 
Por volta de 1850, quando surgiram os primeiros movimentos abolicionistas que culminou na libertação dos escravos em 1888, as reformas culturais e urbanas ocorridas na então capital do Brasil permitiram a incorporação dos elementos artísticos da música europeia aos movimentos rítmicos afrodescendentes, constituindo-se na receita perfeita para o surgimento do Choro, tal qual como conhecemos hoje. Precursores desse gênero, tais como: Antônio Calado, Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth trouxeram elementos da vida cotidiana da população para esse estilo musical, fato que tornou o gênero popular. Na época, era comum profissionais liberais, funcionários públicos, pequenos comerciantes, feirantes e despachantes se reunirem em rodas de choro em seus quintais, varandas, terreiros e calçadas e até manifestações sociais. Trata-se, portanto, de um movimento nacional de origem espontânea, sendo a base para estruturação de toda música popular brasileira.  
 
Foi no século XX, que o Chorinho atingiu seu apogeu com Pixinguinha, Waldir Azevedo, Jacob do Bandolim, etc. O Rio Grande do Norte sempre foi um celeiro de grandes chorões como é o caso de Ademilde Fonseca, a rainha do choro, K-ximbinho e outros. O chorinho é considerado um dos gêneros musicais mais complexos de tocar, pois exige do músico instrumentista um treinamento diário, demanda de tempo para dedicar-se ao estudo de suas diversas formas melódicas, rítmicas e harmônicas. O choro, dentro de uma ótica social, surge no seio do povo e carrega na sua genética musical, não só o DNA de resistência, frente às dificuldades na sua sobrevivência enquanto gênero musical, mas também reflete o desejo e anseios de plena libertação da população da época. Por conseguinte, o choro, na sua forma instrumental, é um dos estilos brasileiro mais apreciado mundo afora. No Brasil, em especial no Rio Grande do Norte, ainda são muito tímidas as iniciativas, mesmo assim podemos destacar na década de 80 o Regional Sonoroso, Regional Potengi e, atualmente, temos o Regional Choro do Elefante, Choro Catita e Gafieira, Choro do Caçuá, Nem Choro Nem Vela, Choro Bom, além disso temos brilhantes instrumentistas como é o caso de: João Juvanklin, Alexandre Moreira, Bruno Barros, Rafael Almeida, Carlos Zens; entre outros músicos e ações igualmente importantes para a música Potiguar. O chorinho, por sua vez, é uma referência cultural política e social brasileira e ocupou, ao longo dos tempos, uma função importante de resistência através dos movimentos populares que interagiram e alteraram a vida do povo brasileiro. Neste contexto, se faz necessário estimular ações que incentivem a apropriação, exploração e a prática coletiva constante deste estilo musical em diversos ambientes educacionais, a fim de que se possa resgatar os princípios básicos da verdadeira cidadania, através do reconhecimento do choro como um ato de luta de classe. Neste sentido, é preciso contar com o apoio do poder público, bem como da iniciativa privada, a fim de demandar ações de apoio logístico, financeiro e midiático no sentido de incentivar a difusão do Choro como ponto de partida do reconhecimento dessa luta e demonstração de resistência de uma sociedade.  
 
AGENDA CULTURAL POTIGUAR NOTÍCIAS
 
18/04 – 11h 30 – CHORO DA UFRN – CENTRO DE CONVIVÊNCIA DA UFRN;
19/04 – 17 – ESQUINA DA ARTE – LANCHONETE A MAÇÃ;
19/04 – 19h – MAGAHUL E MÔNICA SANTOS - MAHALLI CAFÉ;
19/04 – 9h – CHORO DO ELEFANTE - ESCOLA MUNICIPAL SANTOS REIS;
19/04 – CHORO DO ELEFANTE e LARYSSA COSTA – TAM;
20/04 – 19h – CHORÕES DO SERIDÓ – CASA DE CULTURA DE CAICÓ/RN;
20/04 – 14h CHORO DO ELEFANTE e LARYSSA COSTA – IATE CLUBE;
21/04 – 18h – CHORO DA GINGA – BAR CARRANCAS/PIUM;
23/04 – 09 – FESTIVAL “VIVA O CHORO” – UERN/MOSSORÓ
23/04 – 17h – CHORO DO CAÇUÁ – IPHAN/RN;
27/04 – 10h – RODA DE CHORO – OFICINA LIVRE DE MÚSICA;
 
TEXTO: Armando Souza
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