Fernando Luiz

Cantor, compositor, escritor e produtor cultural. Formado em Gestão Pública, apresenta programa Talento Potiguar, aos sábados, às 8:30 na TV Ponta Negra, afiliada do SBT no RN.

21/04/2024 06h00

Um potiguar salvou a carreira de Luiz Gonzaga

Luiz Gonzaga nasceu na fazenda Caiçara, em Exu, Pernambuco, no dia 13 de dezembro de 1912 e aprendeu com seu pai a tocar sanfona. Ao aos 13 anos comprou o seu primeiro instrumento, aos 17 mudou-se para Fortaleza, onde serviu o Exército, indo posteriormente morar no Rio de Janeiro, onde começou a tocar nos cabarés da Lapa, executando valsas, tangos e foxtrotes, entre outros ritmos.

Em 1940 foi aconselhado por um grupo de estudantes cearenses que estudavam no Rio a tocar músicas dos sanfoneiros do Nordeste, passando, a partir daí a ficar conhecido, o que lhe valeu um convite de Ernesto Morais, diretor artístico da gravadora RCA, para gravar um disco. Durante cinco anos, Luiz Gonzaga gravou alguns discos, até que decidiu procurar um parceiro musical nordestino. Foi quando conheceu o cearense Humberto Teixeira, com quem iniciou uma parceria que durou vários anos. Em março de 1947 lançou em disco a música Asa Branca, em parceria com Humberto Teixeira, que se tornou um clássico da música brasileira.

Depois de vários anos ausente da sua terra natal, Luiz Gonzaga voltou para Recife, onde conheceu Zé Dantas, médico com quem iniciou uma parceria de sucesso que durou vários anos. Em 1960, conheceu, no Rio de Janeiro o mossoroense Oséas Lopes, do Trio Mossoró, de quem se tornou amigo e de quem foi padrinho de casamento em 1961. Oséas teria uma participação fundamental na vida artística do “Rei do Baião”...

Oséas Carlos André Almeida Lopes nasceu em Mossoró e iniciou sua carreira artística em 1956 na Rádio Tapuyo. Em meados dos anos 50 criou o Trio Mossoró, formado por ele na sanfona e seus irmãos Hermelinda (no triângulo) e João Batista – João Mossoró (no zabumba). Em 1960, Oséas mudou-se para o Rio de Janeiro, onde participava dos programas de Cézar de Alencar, na Rádio Nacional, além de programas de auditório na Rádio Mayrink Veiga. Algum tempo depois, seus irmãos João e Hermelinda se mudaram para o Rio, onde o Trio Mossoró foi reativado sob seu comando. Batizado com o nome da cidade potiguar, o trio gravou em 1962 seu primeiro LP, Rua do Namoro, alcançando notoriedade nacional.

Em 1974, com o fim do Trio Mossoró, seus integrantes partiram para outras atividades e Oséas passou a atuar como produtor musical. Logo em seguida, por sugestão do maestro Pachequinho, adotou o nome artístico de Carlos André e gravou o LP Carlos André, o apaixonado, pela gravadora Copacabana, que vendeu 500.000 cópias, com a música Se Meu Amor Não Chegar sendo uma das mais executadas nas rádios de todo o Brasil. Além do sucesso como cantor, Oséas Lopes produziu discos de inúmeros artistas nas áreas do Forró e da música romântica. Na área do Forró, o mossoroense produziu discos de Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Genival Lacerda, Jorge de Altinho, Alcimar Monteiro, Trio Nordestino, Marinês, Sirano e Sirino, João Gonçalves, Quinteto Violado, Pinduca, o potiguar Aldair Soares e Nando Cordel, entre outros. Produziu também dezenas de discos de cantores consagrados como Cauby Peixoto, Nilton Cesar, Vanusa, Cláudia Barroso, Luiz Ayrão, a assuense Nubia Lafayete, Trio Yrakitan (formado por três potiguares), Paulo Diniz, Lana Bittencourt, Fernando  Mendes, Odair José, Carlos José, Waleska, Leonardo Sullivan, Bartô Galeno, Genival Santos, e Roberto Muller. Também produziu discos dos potiguares Ivanildo Sax de Ouro, Eliseu Ventania e Messias Paraguai. Foi o produtor do compacto simples de Sergio Bittencourt, filho de Jacó do Bandolim, com a música Naquela Mesa, que se tornou um clássico da Música brasileira, que atravessa gerações.

Na década de 80, Oséas fez algo que contribuiu decisivamente para a continuidade da permanência de Luiz Gonzaga no cenário artístico e cultural do Brasil. Na época, com a invasão da música estrangeira, o Forró estava em baixa e alguns nomes famosos estavam para ser dispensados por suas gravadoras, por causa da queda gritante na venda de discos. Na RCA Victor o presidente da gravadora, Manuel Camero (Manolo), chamou Oséas na sua sala e comunicou que a companhia estava sendo obrigada a dispensar 22 artistas, cujas vendagens de discos tinham caído absurdamente. Mostrou a Oséas a relação de artistas que estavam para serem dispensados e os dois nomes que encabeçavam a “fila” dos artistas que corriam o risco de não terem seus contratos renovados eram Nelson Gonçalves e Luiz Gonzaga, sendo que o Rei do Baião (cujos discos não eram produzidos por Oséas) estava dando prejuízo à gravadora há quatro anos consecutivos.

Sem clima para comunicar a Nelson Gonçalves e Luiz Gonzaga que eles estavam para serem mandados embora. Manolo incumbiu Oséas de informar a “seu Lua” que, se seu disco seguinte não obtivesse boa vendagem, ele não teria seu contrato renovado. Oséas pediu então ao presidente da RCA para produzir o disco seguinte do “Rei do Baião”, assumindo toda a responsabilidade pelo resultado do trabalho. Manolo concordou e o mossoroense então produziu o LP Danado de Bom de Luiz Gonzaga, com a participação de Fagner, Elba Ramalho e Gonzaguinha, que vendeu mais de um milhão de discos que garantiu não só a permanência de Gonzagão na RCA, como também a continuidade da sua história musical.

Foi assim que um potiguar salvou a carreira de Luiz Gonzaga.

 

Fernando Luiz é cantor, Compositor, apresentador e produtor cultural.

Instagram: @fernandoluizcantor


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