Wellington Duarte

Professor, economista, Cientista Politica, comunista, headbanger, flamenguista, americano e apreciador de Jack Daniels

10/07/2024 08h12
 
França, a insubmissa?
 
Terminada as eleições francesas, é preciso uma leitura atenta, para não cair, nem no ufanismo e nem no desespero das esquerdas apavoradas.
 
1 – A neofascista Reunião Nacional/ Rassemblement National, RN, até 2018 chamada de Frente Nacional/ Front national, FN, comandada com mão-de-ferro por Marine Le Pen desde 2012, teve, na realidade um acréscimo nos seus votos. No 1° turno a RN recebeu 9,4 milhões de votos (29,3%), elegendo 37 deputados. Na segunda volta recebeu 8,7 milhões de votos (32,1%), elegendo mais 88 deputados. Sua bancada passou de 89 para 125 deputados (+40,4%);
 
2 - Ao lado da RN, o pequeno União de Extrema-Direita/Union de l'extrême droite (UXD), formaram esse grupo neofascista. O UXD, na verdade não é um partido, mas uma agrupação de candidatos que se reúnem durante os processos eleitorais. Para as eleições desse ano, se reuniram ao redor do líder dos Republicanos, Éric Ciotti, que fez acordo com o RN. O UXD, no 1° turno, recebeu 1,3 milhões de votos (4%) e elegeu apenas 1 deputados, mas no 2° turno teve 1,3 milhões de votos (5,0%) e elegeu 16 deputados, ficando com 17.
 
O RN e a UXD conquistaram, portanto, 142 cadeiras.
 
A aliança formada às pressas para evitar a ascensão dos fascistas, concentrou-se Nova Frente Popular/ Nouveau Front populaire, um amalgama de partidos e organizações que formam um verdadeiro arco-íris ideológico. A FP teve 9 milhões de votos no 1° turno (28,1%), elegendo 32 deputados e no 2° turno, chegou a pouco mais de 7 milhões de votos (25,8%), elegendo 148 deputados, somando 180. Mas quem faz parte dessa Frente? Ela reúne a França Insubmissa/ La France Insoumise, o Partido Socialista, os Ecologistas, o Partido Comunista Francês, Génération.s, Place Publique e outros partidos políticos de centro-esquerda e de esquerda, ao mesmo tempo que pressiona por uma mobilização de associações, do trabalho organizado, e sociedade civil. Com o motivo unificador de derrotar a Reunião Nacional de extrema-direita, o seu nome ecoa a aliança antifascista do entreguerras, a Frente Popular.
 
A terceira força ficou sendo a aliança eleitoral que apoia o governo Macron, o movimento que pode ser chamado de “Conjunto” ou “Juntos”, formado pode vários partidos de centro, indo até a direita, cujo núcleo é o La République en marche, do próprio presidente. No 1° turno o “Juntos” elegeu apenas 2 deputados (21,3% dos votos), mas a mobilização feita pelo presidente, se não elevou muito o percentual de votação (24,5% dos votos) conseguiu eleger 157 deputados, ficando com 159, o que não impediu de o resultado ser uma significativa derrota, já que o governo perdeu 86 deputados.
 
Foram eleitos mais 96 deputados, pertencentes a vários agrupamentos políticos, de esquerda (12), direita (27) e Os Republicanos/ Les Républicains, de tendência liberal aliancista (favorável a União Europeia).
 
Como a maioria do parlamento francês é de 289 deputados, as três principais forças políticas estarão posicionadas para a assumir a chefia do governo francês, mas é muito provável que o presidente Macron segure um pouco mais a indicação de um novo primeiro-ministro. Derrotado eleitoralmente, Macron viu a ascensão da esquerda e a derrota dos fascistas, e, nesse caso, o xadrez político francês será mais um desafio posto para o povo francês.
 

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