Wellington Duarte
Professor, economista, Cientista Politica, comunista, headbanger, flamenguista, americano e apreciador de Jack Daniels
25/12/2024 05h05
Um dia para lembrar nossa hipocrisia
Hoje, 25 de dezembro, é uma data comemorada entre os católicos, como sendo o nascimento de Jesus Cristo, uma espécie de “data redentora”, pois todas as coisas negativas que se produziram nesse ano, são convertidas num “dia de paz”, evidentemente depois de uma noitada regada a álcool e carnes, missas, abraços e tudo mais.
É uma data que historicamente nasceu lá pelo terceiro século DEPOIS de Cristo, ou seja, se decidiu que Jesus Cristo nasceu em 25 de dezembro. Aliás até o nome de Jesus foi apropriado pelas correntes cristãs, que até se remetem ao hebraico para mostrar que são mais crentes que os crentes.
A evidência mais antiga do nascimento de Jesus sendo marcado em 25 de dezembro é o Cronógrafo de 354, também chamado de Calendário de Filocalus. Historiadores litúrgicos geralmente concordam que esta parte do texto foi escrita em Roma em 336. Uma passagem em uma versão do Comentário sobre o Profeta Daniel, originalmente escrito por volta de 204. por Hipólito de Roma, identifica 25 de dezembro como a data de nascimento de Jesus, mas esta passagem é considerada uma interpolação muito posterior.
Mais tarde no século IV, alguns escritores cristãos reconheceram que o Natal coincidia com o solstício de inverno e viam os dias mais longos após o solstício de inverno como um símbolo da Luz de Cristo entrando no mundo. Em um sermão do final do século IV, Santo Agostinho disse:
Ele [Jesus] nasceu no dia que é o mais curto em nossa contagem terrena e a partir do qual os dias subsequentes começam a aumentar em comprimento. Ele, portanto, que se abaixou e nos levantou escolheu o dia mais curto, mas aquele de onde a luz começa a aumentar.
O tratado cristão De solstitiis et aequinoctiis conceptionis et nativitatis Domini Nostri Iesu Christi et Iohannis Baptistae ('Sobre a concepção e nascimento do solstício e equinócio de Nosso Senhor Jesus Cristo e João Batista'), da segunda metade do século IV, é o texto mais antigo conhecido que data o nascimento de João no solstício de verão e o nascimento de Jesus no solstício de inverno. O autor diz que os dias mais longos após o meio do inverno e os dias mais curtos após o meio do verão refletem a observação de João de que "Ele [Jesus] deve aumentar, mas eu devo diminuir" (João 3:30).
Há centenas de documentos históricos que mostram que a datação do nascimento de Cristo foi um processo de construção, no Império Romano, que agregou aspectos pagãos e políticos e foi devidamente aproveitado pela nova religião do Estado: o cristianismo.
Como não sou teólogo, não tenho como me aprofundar nesse interessante debate, mas não posso deixar de constar nesse texto que essa data está longe de representar algo diferente, no que concerne aos católicos religiosos. A distância entre o que se pratica, o que se reza e o que se faz, é astronômica e as hipocrisias são tão visíveis que deificar tal data é uma grotesca encenação que, aliás, foi corroborada pela Coca-Cola, que literalmente criou a figura moderna de Papai Noel.
Os católicos que hoje estão clamando e orando pelo “nascimento do salvador”, poderiam, pelo menos hoje, olhar para o mundo. Olhem para o mundo e vejam que essa data, longe de ser uma data comemorativa, deveria ser uma data de reflexão sobre como cada um dos cristãos tratam a POBREZA que, pelo que sei, era um dos temas mais abordados pelo Jesus construído pela Igreja.
Enquanto a POBREZA for um incômodo na nossa sociedade, não haverá “paz na terra aos homens de boa vontade” e só o fim da espoliação, do sofrimento dessas camadas mais pobres, de todas as formas de opressão e discriminação, tornará a nossa sociedade menos hipócrita.
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