Lucas Spadale.
Este é um texto baseado em observações que trouxeram muitos questionamentos. O objetivo é que possamos abordar mais perguntas do que respostas, permitindo reflexões que contribuam para uma maior valorização dos Jogos Paralímpicos. Afinal, Paris se despediu dos Jogos Olímpicos, um evento que trouxe ao mundo semanas de celebração, superação e espetáculo. As ruas estavam cheias de turistas, bandeiras e energia vibrante. Agora, porém, a cidade recebe um evento no mínimo igualmente importante, mas com uma recepção significativamente mais fria: os Jogos Paralímpicos. A diferença no entusiasmo é palpável; a movimentação de turistas diminuiu e a atenção da mídia e patrocinadores não tem a mesma intensidade. Ao observar essa diferença, se torna impossível ignorar o fato de que os Jogos Paralímpicos ainda não recebem o valor que merecem. Mas a pergunta que fica é: por que é que isso acontece?
E isso nos leva a um outro questionamento, talvez inocente, porém necessário: e se os Jogos Olímpicos e Paralímpicos ocorressem ao mesmo tempo? Será que isso permitiria uma maior valorização dos Jogos Paralímpicos? Ao colocar ambos os eventos em pé de igualdade, talvez pudéssemos criar um ambiente onde as histórias de superação, tanto de atletas olímpicos quanto de paralímpicos, pudessem brilhar lado a lado. Há quem diga que a realização dos dois eventos simultaneamente poderia ofuscar as competições paralímpicas, mas, ao contrário, talvez isso pudesse proporcionar uma visibilidade ainda maior, colocando todos os atletas sob o mesmo olhar atento de um público mais diverso. A maioria dos turistas que vieram a Paris durante os Jogos Olímpicos já foram embora, e agora o que resta é um público reduzido. Se ambos os eventos acontecessem simultaneamente, essa divisão de públicos talvez não fosse tão acentuada, e as pessoas poderiam experienciar a beleza de cada modalidade, olímpica ou paralímpica, sem preconceitos ou favoritismos. Não haveria um “antes e depois” de um evento "maior" e outro “menor”, mas sim uma celebração conjunta do esporte em todas as suas formas e manifestações. As ruas de Paris, que agora parecem menos animadas, poderiam vibrar com a energia de todos os atletas e suas incríveis histórias de vida, sem distinção. Marcas e mídias do mundo inteiro que compareceram em Paris poderiam ter dividido as atenções entre os dois eventos, permitindo uma maior cobertura e visibilidade dos Jogos Paralímpicos. No Brasil, por exemplo, inúmeras marcas investiram na vinda de influenciadores para Paris durante os Jogos Olímpicos. Atualmente, não se vê mais ninguém aqui. A própria Casa Brasil mudou de lugar, se afastando do centro. Os brasileiros que queriam ver os Jogos Olímpicos tinham diversas opções gratuitas, seja pela internet ou pelas televisões abertas. Todavia, a transmissão dos Jogos Paralímpicos ocorre apenas em televisões fechadas, limitando absurdamente o acesso ao evento. Eu me pergunto: por que fazer a cobertura dos Jogos Olímpicos? Por que simplesmente não fazer a cobertura dos Jogos? Só Jogos. Repito, sem distinção.
Reforço que este texto não é uma crítica aos Jogos Olímpicos em si, mas sim uma reflexão sobre como podemos evoluir enquanto sociedade na maneira como valorizamos o esporte e as histórias de superação. Que possamos refletir e questionar o porquê de os Jogos Paralímpicos não terem o mesmo peso cultural e social que os Jogos Olímpicos. Que possamos, um dia, assistir a esses eventos lado a lado, celebrando a diversidade e a inclusão no esporte de maneira verdadeiramente equitativa. E talvez, um dia, Paris e o mundo estejam prontos para essa mudança. Aguardemos.
Por Lucas Spadale.
Estudante de comunicação na Université Sorbonne-Nouvelle, apaixonado por jornalismo e esportes. Morando em Paris há 2 anos e sempre buscando observar, aprender e criar.