Cefas Carvalho

17/02/2022 09h40
 
Um Bolsonaro para consumo interno, outro para consumo externo
 
Políticos e chefes de Estado são, via de regra, criaturas de personalidade forte e comportamentos extravagantes. Consta nos livros de História que a rainha egípcia Cleópatra era uma mulher sedutora tanto em seu país como para onde viajava, tanto que endoidou os romanos Júlio César e Marco Antônio. O inglês Churchill também levava seu humor ferino e suas ironias para onde viajava para além de Londres e o papa Francisco tem fama de ser comunicativo e alegre tanto com presidentes e primeiros ministros como também com os funcionários do Vaticano.
 
 
Neste sentido, o despresidente Jair Bolsonaro se difere dessa regra. Ele é um Bolsonaro em terras brasileiras e outro Bolsonaro quando pisa os pés milicianos em solos estrangeiros. 
 
 
Aqui em terras tupiniquins, Jair faz e acontece. Anda sem máscara em biroscas e lotéricas. Tosse em cima dos outros, anda sem capacete (e sem máscara, claro) em motociatas. Aqui, o mito tuíta contra os comunistas e diz que sua missão divina é lutar contra eles.
 
 
Contudo, em terras alheias o Messias opera outros milagres, Como e de andar com máscara para cima e para baixo, a não ser quando o cerimonial percebe distanciamento e permite o não-uso do artefato. Como agora na viagem de Jair a Moscou, onde se submeteu sem reclamações a todas as exigências das autoridades russas para poder se encontrar com Putin.
 
 
Mas a cereja no bolo foi a visita de Bolsonaro a memorial dos soldados comunistas mortos em luta contra os nazistas. Vimos nas fotos e vídeos seu Jair respeitoso e cordial com a memória dos heróis, mostrando uma civilidade jamais vista cá no Brasil.
 
 
Em Israel, ano passado, a mesma coisa. Com rígidas restrições do Governo Nethanayahu (que era de Direta) Bolsonaro, filhos e trupe tiveram de usar máscara em todos os eventos públicos. Ninguém afinou sem insinuou que os israelenses enfiassem as máscaras no cu, como é usual que digam aqui no Brasil. Tampouco Jair se indignou com o fato de Israel ser dos países mais adiantados na vacinação. Pois é, Bolsonaro só esperneia contra vacinas, contra comunistas, contra qualquer coisa, aqui no Brasil mesmo. Lá fora, como se diz, o mito fica pianinho e segue as regras locais. 
 
 
Não precisamos ir muito longe para constatar que na verdade o bolsonarismo não é uma Direita Extrema autêntica. Na verdade, trata-se de uma família e um grupo de oportunistas que dança conforme a música e percebeu que o conservadorismo representados internacionalmente pela Extrema Direta e no Brasil pelos evangélicos neopentecostais era um filão político e eleitoral onde pudessem se encostar.
 
 
Claro que estão exagerando na dose e que, no frigir dos ovos, cada vez mais dialogam somente com este público, que de tão incondicional na louvação ao Messias já é considerado uma seita. Um público, que contudo, gravita entre 20% e 25%. Exatamente os números que Bolsonaro vem fazendo nas pesquisas de intenção de voto. Pois é. Ter duas caras tira votos também.

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).