Advogado. Assessor no Tribunal de Contas. Doutor e mestre em ciências sociais pela UFRN.
O QUERIDINHO DA DIREITA
O dia da votação se aproxima e a possibilidade de vitória de Lula no primeiro turno é concreta. Mas para isso ele precisará granjear mais alguns votos, principalmente os que atualmente são de Ciro Gomes, que é o candidato que detém entre o seu eleitorado um estrato progressista capaz de mudar de lado e seguir a correnteza petista.
Ciro já deixou claro feito água de fonte que não há espaço para aliança. Ele tem se posicionado de forma cada vez mais virulenta contra Lula e os seus seguidores. De maneira que muitas pessoas se questionam por que cargas d’água ele age assim, mesmo sabendo que um eventual segundo turno manterá na disputa o ultradireitista Jair Bolsonaro.
A resposta para essa pergunta parece estar no fato de que Ciro dá como favas contadas a vitória de Lula, o que significará a completa ausência de espaço para ele na esquerda; a implosão de Bolsonaro como um candidato viável; e o surgimento de um vazio de liderança no campo da direita.
Com o triunfo de Lula, o palanque da esquerda fica fechado para nomes de fora do partido dos trabalhadores. O PT continuará dando as cartas e Ciro sabe que um acordo em troca de apoio futuro tem chance zero de envolver o comando do poder central. Bolsonaro, por sua vez, confirmada a sua derrota, se tornará o primeiro presidente do país a ser batido ao tentar a reeleição. O que terá como consequência a debandada de uma graúda parte dos seus eleitores. Já figuras importantes do PSDB, como José Serra e Geraldo Alckmin (hoje no PSB), que poderiam se colocar como políticos de oposição, deixaram de representar a direita quando passaram a apoiar o PT na marcha em defesa da democracia.
Dentro desse cenário, Ciro Gomes percebeu que pode plantar os pés no espaço vazio da direita democrática. É por isso que ele não apenas tem negado apoio a Lula, mas também tem adotado uma homilia bastante similar à de Bolsonaro, seja no tom agressivo com que tem atacado o candidato do PT, seja nas acusações de corrupção. Antipetismo e retórica do combate à corrupção são os dois temas indispensáveis para a conquista e o deleite do eleitorado conservador. É com isso, no final das contas, que Ciro joga para se tornar o queridinho da direita no Brasil.
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