Advogado. Assessor no Tribunal de Contas. Doutor e mestre em ciências sociais pela UFRN.
MENOS EGOÍSTAS
O individualismo tem tomado conta do mundo. Alguns colocam esse fato na conta do capitalismo selvagem dos dias de hoje, no seu modelo neoliberal, em que a competição a qualquer custo, em todos os escaninhos, faz com que as pessoas só pensem no próprio barco e deixem os outros nadando sem rumo.
Mas não é só isso. Como refletia o sempre atual Maquiavel, o lance de querer sempre levar vantagem, mesmo que para isso seja necessário degolar a cabeça dos inimigos, faz parte da natureza humana. É aquela velha história do escorpião que pede carona ao sapo para atravessar o rio e no meio do caminho resolve ferroá-lo, embora isso acabe causando também a sua própria morte. “É da minha natureza”, diz o escorpião, enquanto os dois se afogam.
Quase todo mundo atua, no íntimo, para alimentar somente os seus interesses, ainda que seja grande o esforço para apresentar-se aos outros com um discurso recheado de um altruísmo comtiano. A verdade é que a maioria das pessoas realiza ações de solidariedade pensando em si mesmas, com a intenção de encobrir o espírito competitivo e os atos traiçoeiros de todos os dias.
São muitos os Rasputins. Por isso, não é difícil conhecer de perto um ardiloso querendo dar marretadas nas canelas alheias, com um sorriso cheio de dentes e uma imagem social de pacato cidadão. É gente do tipo que se emociona com a homenagem de Andrea Bocelli aos desabrigados do Rio Grande do Sul, e no outro dia cospe críticas às ações de ajuda governamental, porque atrapalham os ganhos dos comerciantes; ou do colega de trabalho que lhe deseja bom dia para depois ir pedir a sua cabeça ao chefe.
O pior é que não há perspectiva de melhora, já que as crianças, cada vez mais, são criadas para cultivar esse lado embusteiro do ser humano. Elas sofrem uma verdadeira lavagem cerebral. Daí que, desde tenra idade, já começam a pensar em ganhar, disputar e produzir (não necessariamente nessa ordem). Na realidade, qualquer um que intencione viver com base em valores muito diferentes, tem grandes chances de se dar muito mal e ser simplesmente destruído em termos psicológicos e materiais.
Ninguém sabe muito bem aonde o mundo vai parar se não existir uma profunda e imediata mudança de rota, uma espécie de revolução interna em que seja imperativo olhar para o próprio eu e pensar: o que posso fazer para ser menos egoísta?
*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).