Daniel Costa

Advogado. Assessor no Tribunal de Contas. Doutor e mestre em ciências sociais pela UFRN.

Botafogo Série C

Os botafoguenses, como eu, estão em êxtase após as derrotas do Flamengo e do Bragantino, que permitiram ao time de General Severiano se manter no topo da tabela de classificação do campeonato brasileiro, faltando poucas rodadas para o final da disputa, e com o bônus de ter uma partida a menos. Para quem não ganha um título de projeção há um bom tempo, a perspectiva é luminosa, de maneira que os alvinegros andam transbordando de alegria.

Mas quando se trata da qualidade do jogo apresentado, a coisa muda de figura. Não há muito a ser comemorado. O Botafogo, com muito boa vontade, pode ser considerado hoje um time "A" para o padrão do futebol desenvolvido na América do Sul; o que não significa muita coisa em termos de nível internacional.  Inexiste régua de comparação entre ele e os principais plantéis europeus. Dizer que o clube de Garrincha e Nilton Santos poderia atuar de igual para igual com equipes como Real Madrid, Manchester City ou Bayer de Munique, é um esforço de imaginação.

Caso jogasse na liga inglesa, alemã ou espanhola, a esquadra de Tiquinho Soares brigaria no último quadrante da tabela, com rebaixamento certo antes das últimas rodadas, tal como aconteceu com o ABC na série B do Brasileiro. Basta ver que a sua base é formada por jogadores sem espaço nos times europeus de médio escalão e por atletas despidos de qualidade suficiente para colocar sequer a ponta da chuteira nos gramados do Santiago Bernabéu.

É uma constatação que vale para todos os times e jogadores que estão no Brasil. Aqui só permanece o refugo. O lado "B" do soccer. Isso é uma decorrência natural de um ambiente dominado pelo poder financeiro: quem tem mais dinheiro fica com os melhores jogadores e ponto final. Qualquer jovem promessa que tenha conseguido alcançar fugaz destaque nas categorias de base é logo enfiada dentro de um avião da Air France. 

A triste realidade é que, em se tratando do atual futebol jogado no Brasil, faz décadas que não se veem equipes de elevado padrão, como o Grémio de Renato Gaúcho ou o São Paulo de Raí, capazes de bater de frente com os principais times do globo, exatamente porque continham em seus plantéis alguns dos melhores jogadores do mundo.

O torcedor do Botafogo está de barriga cheia, felicíssimo, e com rematada razão. Mas até aqueles mais fanáticos, do tipo que despirocam em grupos de WhatsApp, sabem muito bem que a campanha bem-sucedida da equipe não é suficiente para esconder a realidade de que o Alvinegro do Rio é um clube da série C do futebol mundial.

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