Daniel Costa

Advogado. Assessor no Tribunal de Contas. Doutor e mestre em ciências sociais pela UFRN.

17/09/2024 11h21

NÃO ASSISTO A DEBATES


 

Não sei você, mas eu não assisto a debates. Às vezes fico até meio preocupado me achando diferente da maioria dos brasileiros que adora refregas televisivas de todos os tipos, desde as que são transmitidas pelos programas policiais até aquelas que acontecem nas novelas das oito.

Por esses dias, o grande momento nacional tem sido a realização dos debates entre os candidatos a prefeito, que são levados ao ar pelas grandes empresas de televisão. As menções ao arranca-toco começam já no início da tarde, nas redes sociais, e seguem sendo ruminadas até uns dois dias depois do evento através de memes e de cortes elaborados pela turma do marketing. Todo mundo parece não ver a hora da peleja, do enfrentamento, de saber quem vai ser o vencedor. Cada um torcendo com fervor quase clubístico para que seu candidato passe rasteiras nos adversários e saia consagrado como o campeão do debate. E se tiver dedo em riste e murro na mesa, tanto melhor.

Na minha cabeça um debate entre candidatos deveria se restringir a uma discussão de ideias sobre os programas de governo de cada um: “O meu programa é melhor por isso e por aquilo”; “Os outros pecam pela impossibilidade de serem realizados; por não representarem a prioridade do que a cidade necessita” e coisa e tal.

Ou seja, deveria ser um momento de se colocarem programas contra programas de governo, permitindo ao povo o conhecimento detalhado de cada um, e assim poder fazer a escolha do seu futuro governante.

Mas não. A população é chamada a ver uma apresentação mambembe, do tipo circo de antigamente, onde se viam os emboladores de coco trocando farpas uns contra os outros para delírio da plateia, que ao final passava a discutir sobre quem teria sido o melhor.

A coisa virou um culto ao besteirol e à violência. Algo totalmente sem sentido. A verdade sem roupa é que o debate eleitoral de TV perdeu a sua utilidade pública, de maneira que é uma irresponsabilidade mantê-lo no seu formato atual, até mesmo porque no Brasil ninguém está deixando de votar em seu candidato preferido por ele ter-se saído melhor ou pior num debate. A turma aqui tem preferido optar por um ou outro levando em conta o bom e velho jeitão: esse não sabe se vestir; aquele é lacrador; a outra tem cara de boazinha...

Escolha de prefeito com base nos planos de governo parece até piada de mau gosto.

Talvez seja por esse tipo de coisa que jamais me vi atraído pelos tais debates televisivos. Só assisto mesmo quando não há nada de melhor para fazer. E se quero ver briga de verdade vou direto para os programas de MMA. Lá ao menos a violência tem regras: dedo no olho e cadeirada, por exemplo, não pode.


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