Daniel Costa

Advogado. Assessor no Tribunal de Contas. Doutor e mestre em ciências sociais pela UFRN.

30/10/2022 07h59
 

VAI TER GOLPE?

A vitória de Lula é quase certa. A contestação do resultado das eleições por Bolsonaro também. Ao longo dos últimos anos ele pavimentou o caminho para isso. O diuturno questionamento das urnas eletrônicas e o recente factoide relacionado às propagandas eleitorais nas rádios, fazem parte de sua estratégia de emparedamento do processo eleitoral.

O que ele sempre sonhou foi quebrar as pernas da democracia para governar sem amarras. Isso já foi tentado pelo menos uma vez, quando atacou ministros do Supremo Tribunal Federal e insuflou os seus apoiadores a irem às ruas no 7 de setembro de 2021. Não deu certo. Faltou o apoio dos militares e do grande capital.

Na história do Brasil jamais existiu um golpe sem a adesão desses setores. Para ficar em dois exemplos, os golpes de 1930 e de 1964 só aconteceram porque os fardados e os donos dos bancos entraram em campo. Na chamada Revolução de 30, o capital financeiro internacional, que queria o pagamento da dívida externa do país, teve participação fundamental na derrubada do governo de Washington Luís. E não foi por acaso que em 64 os empréstimos bancários ficaram suspensos até a deposição de João Goulart, pela turma dos quartéis. 

Ainda que atualmente exista uma ala militar disposta a partir para um movimento de ruptura institucional, saudosos do status adquirido  no período ditatorial, há uma outra parte importante dos fardados que não compactua com essa ideia. Ela é formada principalmente pelos comandantes das forças armadas que renunciaram aos seus postos no governo Bolsonaro, como reação à demissão do então ministro da defesa, Fernando Azevedo e Silva.  

O grande capital também já demonstrou não querer participar dessa "festa do bode" em que a conta não fecha. Uma ruptura institucional seria como um raio caindo na cabeça dos indicadores econômicos. E Lula já deixou claro que vai jogar o jogo do mercado, como fez anteriormente. O apoio que ele recebeu de políticos ligados ao setor financeiro e a carta da Fiesp, em defesa da democracia, assinada pela Febraban, são sintomáticos.

Mas é claro que esses fatos não bastam para refrear os anseios "galinha verde" do presidente. De maneira que se não há perspectiva de golpe, há perspectiva de que o resultado das eleições seja amplamente questionado, com escaramuças aqui e acolá.

Bolsonaro não aceitará a vontade popular e tentará virar a mesa. Não vai conseguir. Mas vai tentar. Ele precisa manter os apoiadores unidos para sobreviver politicamente.

 


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