Daniel Costa

Advogado. Assessor no Tribunal de Contas. Doutor e mestre em ciências sociais pela UFRN.

09/04/2023 08h05

 

Quem aguenta a música de hoje?

 

O tempo passa e a gente vai percebendo a mudança das gerações. Um lance interessante sobre esse assunto é o que envolve a música. Nos anos 80, depois do boom da Jovem Guarda e da Tropicália, o novo rock dominou o cenário nacional. Foi o auge dos grandes eventos nos estádios. O rock BR tocava nas rádios e ocupava muito espaço na televisão. RPM, Titãs, Barão Vermelho, Legião Urbana e outras tantas bandas.

Mesmo na década de 90 ele ainda tinha vigor, apesar de apanhar feio para outros estilos musicais, de duvidosa qualidade, como o sertanejo e o axé. As bandas de pop rock começavam a rarear. Porém, grupos como Nação Zumbi, Skank e Planet Hemp seguravam a bandeira dos roqueiros com alguma dignidade.

Nos anos 2000 ele praticamente virou fumaça. A cantora Pitty talvez seja o último nome de ressonância. Mas aí já era difícil de engolir sem vomitar.

 Hoje o tal do rock and roll não existe mais. Se há muito já havia morrido como novidade estética, atualmente se resume às bandas de garagem que fazem uma espécie de cosplay dos velhos ídolos. Como dizem por aí, ele se tornou coisa de coroa reacionário; não foi capaz de capturar o espírito das novas gerações. Sintoma disso é que já se fala até mesmo em rock clássico, como se fosse coisa lá dos tempos de Beethoven.

A juventude atual escuta outros sons. O rap, o funk e a música eletrônica abriram espaços a cotoveladas e, apoiados em temas contestatórios, que alimentam parcela da rapaziada que clama por rebeldia, capturaram as gerações y e z. Quando eu ouço agora na rádio algumas das canções que lotam os estádios, não sei qual é o nome da música e nem quem é o artista. E quando alguém fala sobre eles, é como se estivesse ouvindo a respeito da teoria quântica ou da composição do plutônio.

Eu acho chato pra valer o som da atualidade. Dói pensar que a nova geração está sendo musicalmente forjada na base dos MC’s da vida. Pode até ser que essas músicas façam as pessoas se sentirem felizes, mas é fato consumado que não levam ninguém a refletir sobre coisa alguma.

Se bem que os meus pais também não engoliam o rock and roll, e certamente visualizavam um vazio absoluto em suas composições. De maneira que não descarto a possibilidade de que esse meu modo de ver o assunto seja apenas um manifesto démodé de um quarentão saudosista. O velho conflito de gerações. A dificuldade de aceitar as novidades. Daí que o meu maior medo agora é o de acabar como alguns amigos: coroas roqueiros, reacionários e reféns do próprio tempo. Como cantam por aí, “Deus me proteja de mim”.

 

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