Daniel Costa

14/05/2023 10h56

 

Cultura é luxo


 

"Cultura é luxo, meu velho". Falou e disse o poeta Volonté. Ele tem razão. Os livros estão caríssimos. A qualidade do papel é horrível.  Vendem tudo pelas capas, que têm excelentes diagramações para enganar os incautos. Até mesmo os e-books, que presumivelmente deveriam ser mais baratos, já que não existe o gasto com a celulose em sua produção, estão custando o preço de um vestido de noiva. É coisa pra quem tem grana no bolso.

As livrarias de hoje, cada vez mais escassas, passaram a ser um lugar em que se vai para ter uma experiência, e não para comprar livros. O sujeito paga 50 reais num café junto com uma fatia de bolo, enquanto folheia a bibliografia de Nietzsche, que custa mais de 400 reais. Sai de lá se achando o novo gênio, feliz e satisfeito. Mas de mãos e cabeça vazias, sem se perturbar com as ideias do filósofo alemão.

Paralelamente a isso, grandes empresas como a Amazon, talhadas no marketing da redução de preços, vão forjando grandes oligopólios para depois empurrar valores obscenos nas costas do consumidor, sem que ninguém possa fazer absolutamente nada.

Deixando de lado a qualidade dos filmes em cartaz, que é de espantar Freddy Krueger, ir ao cinema pra ver o último blockbuster, acompanhado de um saco de pipocas, também virou algo surreal, já que é preciso estar disposto a deixar no caixa a quantia correspondente à de uma diária de trabalho.

Nas plataformas de streaming, que agora estão na moda, talvez porque ver filmes em casa saia mais barato, é necessário pagar uma mensalidade para o acesso às películas. Mas o pulo do gato desse tipo de negócio é que a mensalidade aumenta exponencialmente a partir do momento em que se deseja assistir o que realmente vale a pena: os clássicos.

Se a coisa toda vai de mal a pior quando se pensa no básico das possibilidades de consumo cultural, quando se fala em ter acesso a renomadas obras de arte ou a ir a grandes eventos musicais, aí a coisa atinge um novo patamar, havendo a necessidade de se dispor de alguns punhados de dólares para viajar para outros estados ou para outros países, pagando estada, transporte e alimentação, antes de se chegar aos museus, às galerias ou aos estádios onde tudo acontece. Nesses casos, é luxo na essência da palavra.

Mas como por aqui ninguém está muito preocupado em brigar para ampliar os espaços e o acesso à cultura, e a grande maioria das pessoas, que têm condições de levar adiante esse tipo de luta, enxerga cultura como sinônimo de frequentar a Disney, ou de comprar chocolate Caracol nas lojas de Gramado, a coisa não sai do canto e fica tudo por isso mesmo.

Em resumo, poucos têm condições de ter acesso à cultura; e dentre esses poucos, a maioria não se interessa pelo assunto. E assim se vive dentro da roda da mediocridade, em que ninguém é capaz de estourar as suas próprias bolhas para ver o que existe além; para conhecer outras realidades, outros mundos, e enxergar novas possibilidades de viver, talvez mais tristes, ou quem sabe mais bonitas, e até mesmo mais felizes.

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR.


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