Daniel Costa

Advogado. Assessor no Tribunal de Contas. Doutor e mestre em ciências sociais pela UFRN.

04/06/2023 08h20

 

Intriga da oposição

 

Lula é o presidente. Nada mais natural que receba críticas. Mas é preciso separar a roupa limpa da suja, para entender quando tais críticas têm razão de ser e quando elas são apenas o caldo da disputa pelo poder. É prudente não cair na esparrela de fazer a crítica pela crítica, sem direcionar o olhar para a chamada “realpolitik”.

O lance das censuras decorrentes da vinda de Nicolás Maduro ao Brasil, por exemplo, tem um elemento ideológico importante que não pode ser desconsiderado. A Venezuela é hoje uma ditadura, de maneira que marcar encontro com o seu presidente é coisa desagradável. A intenção de Lula, entretanto, não é a de ser padrinho de casamento de Maduro. O que ele pretende é retomar os laços econômicos entre Brasil e Venezuela fragilizados durante o último governo.

A Venezuela tem atualmente a maior reserva de petróleo do mundo e é objeto de cobiça da China, da Rússia e dos EUA. Daí que o encontro do presidente brasileiro com Maduro, e com todos os demais líderes dos países da América do Sul, deixa patente qual é a sua verdadeira intenção: fortalecer a economia continental. O que significa, em bom português, gerar dividendos para o Brasil.

É claro que faz todo sentido para turma da oposição tentar colar na testa de Lula o slogan de amigo íntimo do chefão venezuelano, e com isso propagar a fake news de que a vinda de Maduro significa o desejo recôndito de Luiz Inácio Lula da Silva de implantar uma ditadura em terras tupiniquins. Mas esse disparate só se justifica em virtude da contenda pelo poder. Ou alguém aqui já ouviu da boca da oposição qualquer crítica ao fato de Bolsonaro ter recebido a visita do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán (o Nicolás Maduro do leste europeu), ou de ter estado com Putin e o ditador da Arábia Saudita (aquele que presenteia os convidados com colares e diamantes)?

Os EUA têm parcerias comerciais com incontáveis autocracias, inclusive com a própria Venezuela; o presidente da França, Emanuel Macron, estabeleceu contato com Maduro durante a Conferência Mundial do Clima; e praticamente todos os países do globo, governados pela direita ou pela esquerda, mantêm relações bilaterais e acordos econômicos com a China, que está longe de parecer uma democracia.

Não é que Nicolás Maduro seja um “bon enfant” e que na Venezuela não exista ofensa a direitos humanos. Mas a realidade sem roupa é que em um mundo globalizado, dirigido pelo neoliberalismo, é impossível só fazer negócios com democratas. Salvo outra solução, até agora não apresentada pelos críticos do governo petista, para que o Brasil volte a ter com a Venezuela parcerias comerciais na casa dos 8 bilhões de dólares, e avance como o grande ator da economia sul-americana, é preciso jogar o jogo com as peças existentes no tabuleiro. Noves fora isso, tudo não passa de disputa por espaços de poder, a boa e velha intriga da oposição.

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).


*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).