Advogado. Assessor no Tribunal de Contas. Doutor e mestre em ciências sociais pela UFRN.
O rei da Inglaterra, os índios e a esquerda
Se estamos revoltados com o projeto de lei que passa o trator no direito dos índios de fincar raízes em sua própria terra, é preciso descolar a bunda da cadeira e sair às ruas. Não dá pra ficar sentado esperando pelo presidente Lula. Ele simplesmente não irá comprar essa briga. O seu governo de centro, que trabalha junto com o capital, age nos contornos das regras do jogo da democracia liberal. De maneira que, o que interessa à administração petista, em termos imediatos, é o avanço dos indicadores econômicos.
Dentro desses contornos, existindo uma maioria parlamentar que lhe é desfavorável, é insano pensar que Lula irá arremessar um coquetel molotov nos interesses da rapaziada formada pela conhecida turma dos banqueiros e dos ruralistas. Ele joga o jogo de acordo essa situação. E dentro de tal perspectiva, a forma como vem atuando tem a sua lógica, ainda que precise ter cuidado para não se tornar uma espécie de rei da Inglaterra: muito garboso, mas com pouco poder.
Daí que, como dito lá no início, para lutar contra o marco temporal que quer acabar de vez com o direito dos povos indígenas, só resta o caminho das ruas. Mas em situações tais, somente adianta pisar no asfalto se existir mobilização popular. O que significa dizer, sem meias palavras, que para combater a velha violência contra os "índios, sem direitos, sem respeito, reservados como gado em sua selva em carvão", é preciso que os partidos de esquerda assumam a tarefa que lhes cabe: convocar as pessoas para, organizadamente, combaterem o capital. Fora isso, sejamos sinceros, tudo não passa de um contorcionismo retórico, que serve apenas para ludibriar ambientalistas, índios, punks e antifas.
*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR.
*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).