Kalina Paiva

19/04/2024 09h05
 
Abril em chamas
 
Uma década de poemas passou por curadoria e se transformou em um mostruário de verve poética. Estou falando de Lança chamas, obra de Regina Azevedo, por meio da qual podemos acompanhar sua trajetória na literatura.
A obra se divide em quatro partes: “Capim”, com poemas palmilhados de afetos pelos avós e pelas memórias de infância; “Mar aberto”, com recortes subjetivos sobre o amor e a juventude; “Multidão” que brada a força das lutas coletivas; “A poeta”, última parte dedicada ao olhar sobre o ofício da escrita.
 
Regina Azevedo nasceu em Natal (RN), no ano 2000. Começou sua carreira literária ainda na pré-adolescência e já reúne uma vasta e significativa produção, entre elas: Pirueta (Selo do Burro, 2017), Vermelho fogo (independente, 2021) e Carcaça (Munganga Edições, 2021). Integra a antologia As 29 poetas hoje (Companhia das Letras, 2021), organizada por Heloísa Buarque de Hollanda, e a Biblioteca Madrinha Lua com o título Lança chamas (Peirópolis, 2021) que reúne um apanhado de sua produção poética e será a obra debatida pelo Clube de Leitura Elas por Elas do Mulherio das Letras Nísia Floresta, coletivo do qual ela faz parte, no próximo sábado (20), às 15h, na Nobel do Praia Shopping.
 
Para atiçar a imaginação de você, leitores e leitoras desta coluna, trarei um dos poemas do livro que encerra o terceiro capítulo com maestria e vivacidade. Independente da escala, seja Kelvin, Celsius ou Fahrenheit, incendiará os seus corações, já que os versos são um “Festejo ao fogo” em pleno outono. Aproveito para sugerir um exercício quase luxurioso: que a leitura seja feita, ouvindo a música “Tangerina”, versão ao vivo, nas vozes entrelaçadas de Tiago Iorc e Duda Beat. 
 
“só por um segundo
sob teu peito
 
o farfalhar do outono
e o que você fazia
em festejo ao fogo
 
a ponta dos dedos
ao relento
 
traquejo singular da labareda
 
misto de calmaria e lampejo
numa dança descabelada
 
a língua pronta para o surgimento
da manhã
 
o espírito de cavalo colorido
no ato de trocar os óculos com você
e te olhar de baixo
 
o minério que dorme na pele
o desafio que doma o segundo
a ginga que derrete as ondas
 
cheiro tônico diante do espelho
 
o rugido e o anúncio
do tropeço no ritual:
 
um orgasmo estupendo
anestesia contra bombas
de efeito moral”
 
(Regina Azevedo em Lança chamas, 2021)
 
 
É dessa forma que me despeço de vocês, leitores e leitoras, deixando-os com a ritualística de um orgasmo descrita de uma forma que só a poesia consegue: intensa, sinestésica, inebriante... enfim estética, com direito a sentirmos escorrer cada gota de suor.
 
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Programação cultural
Reunião do Clube de Leitura do Mulherio Nísia Floresta
Data: 20/04/2024, às 15h.
Local: Nobel do Praia Shopping.
Obra a ser discutida: Lança chamas, de Regina Azevedo.
Encontro aberto ao público.
 
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Sobre mim
 
Kalina Paiva, professora, pesquisadora, escritora e produtora cultural.
 
Natural de Natal-RN, é professora do IFRN, pesquisadora em Literatura Comparada e mídias e escritora de poesia e contos. Líder do Núcleo de Pesquisa em Ensino, Linguagens, Literatura e Mídias (NUPELLM) do IFRN e membro do Núcleo Câmara Cascudo de Estudos Norte-rio-grandenses. Membro da União Brasileira dos Escritores - Seção Rio Grande do Norte (UBE/RN), da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN (SPVA), do Mulherio das Letras Nísia Floresta, e da Associação Literária e Artística de Mulheres Potiguares (ALAMP); Coordenadora de Letras e Literatura do Movimenta Mulheres RN.
 

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).