Wellington Duarte

Professor, economista, Cientista Politica, comunista, headbanger, flamenguista, americano e apreciador de Jack Daniels

09/10/2024 08h09
 
ELEIÇÕES MUNICIPAIS: PRIMEIRAS IMPRESSÕES
 
Ainda é muito cedo para uma avaliação mais geral das eleições municipais que ocorreram nesse domingo (5). Qualquer análise, agora, trará um caldo de sentimentos que pode, em alguma medida, distorcer a pretensa análise.
 
É preciso, entretanto, entender que eleições municipais, embora sejam uma preparação concreta para as eleições gerais, que ocorrerão daqui a dois anos, carrega uma especificidade que muitos tem dificuldade em enxergar.
 
É necessário chamar a atenção para que não se cometa o erro de matematizar o resultado, olhando-o apenas do ponto de vista estatístico. Há algumas variáveis que precisam ser consideradas e uma delas é necessária: olhar as eleições municipais como um retrato do passado do nosso estado. Sua formação histórica, sua estrutura econômica e os agentes políticos têm um papel muito importante a ser considerado.
 
Olhar os resultados sem compreender o jogo do poder, que envolve siglas partidárias, grupos familiares, clãs políticos e a base econômica que os sustenta, pode causar sustos nos resultados e decepção, em alguns casos.
 
Partidos de matiz ideológica clara, principalmente no campo da Esquerda, estão envolvidos numa disputa política estruturada pelo poder econômico, e isso não é mera retórica. A compra de votos foi descarada, quanto mais nos afastamos dos maiores centros; a desproporcionalidade econômica entre as candidaturas tornou, como sempre, o processo eleitoral desequilibrado; e ação de superestruturas exteriores ao mundo partidário, como as igrejas fundamentalistas cristãs, caracterizaram mais essa rodada eleitoral. Pouca coisa mudou, mas o que mudou, mudou muito.
 
A relação cidade-campo, que parece ser uma coisa do passado, merece uma modernização, mas o fato que o país tem grandes centros urbanos, com dinâmicas econômicas diferentes, dos grandes municípios do interior dos estados; que é diferente dos municípios médios; que são diferentes da dinâmica que existem nos municípios menores.
 
Segundo o Censo Demográfico de 2022, são 3.935 cidades com 20.000 habitantes ou menos, representando 70,6% do total de municípios (5.570). No RN, por exemplo, dos 167 municípios, 140 (83,3%) tem menos de 20 mil habitantes e são nestes municípios que o processo eleitoral tem o “poder” de criar um monumental “exército de cabos eleitorais” para as eleições para deputado estadual e federal, senador e governador, que obviamente tem impacto na eleição presidencial.
O que nos mostra o resultado geral?
 
1 – o PSD, de Gilberto Kassabi, conseguiu eleger 882 prefeitos, um aumento de 34,8% em relação a 2020; 
2 - o sempre camaleônico MDB, elegeu 856 prefeitos, uma variação positiva de 9,1%;
3 – o PP, de direita, 748, crescendo 9,2% em relação a 2020;
4 – o União Brasil, que foi a fusão do DEM com o PSL, 585, teve um ganho de 5,6%;
5 – o PL, fascista, com 512 prefeituras, cresceu 48,4%;
6 – o Republicanos, que as más línguas dizem ser uma sucursal da IURD (eu não acredito!), elegeu 436 prefeitos, numa variação de 106,6%, sendo o que mais cresceu;
7 – o PSB, de centro-esquerda (com muito esforço!), elegeu 312 prefeitos, crescendo 23,8%;
8 – o cadavérico PSDB, ainda conseguiu eleger 273 prefeitos, uma espetacular queda de 47,5%;
9 – o PT, elegeu 248 prefeitos, um aumento de 35,5%.
 
Esses partidos somaram 4.852 prefeituras, de um total de 5.569, ou 87,1%. Desses 9 partidos, o único que caiu e caiu feio, foi o PSDB e, num primeiro momento, o crescimento da extrema-direita, PL fascista e o Republicanos, parece ter sido em função do sangramento dos tucanos, mas também da que de outras legendas de direita, como o nascente Partido Renovação Democrática (PRD), fusão do PTB com Patriota, de extrema-direita, que perdeu 189 prefeituras; o Podemos, que perdeu 95; e o Solidariedade (-62). PL e IURD, digo Republicanos ocuparam esse espaço.
 
No campo da Esquerda (PT/PSOL/PCdoB) e da centro-esquerda (PSB/PDT), tivemos, além do aumento do PT (35,5%) e do PSB (23,8%), tivemos, entretanto, a queda do PSOL, que não elegeu ninguém, restando Boulos, em São Paulo; o PCdoB, perdeu 27 prefeituras (-41,3%); e o PDT perdeu 166 prefeituras, recuando de 314 para 149 (-166), uma robusta queda de 52,5%. O conjunto da esquerda e da centro-esquerda, caiu de 800 prefeituras, para 728, uma queda de apenas 9,0%, ou seja, o que houve, nessa primeira observação, é que o que chamamos de “esquerda” e “centro-esquerda”, teve uma pequena variação negativa, muito em função da grave perda do PDT.
Se colocarmos PSD, PSDB e MDB no campo da centro-direita e o PP e União, no campo da direita “tradicional”, teremos a seguinte constatação: a centro-direita, saiu de 1.958 prefeituras em 2020, para 2.011, em 2024, um aumento de apenas 2,7%, capitaneado pelo PSD; a direita “tradicional”, por sua vez, saiu de 1.149 para 1.333, uma variação de 16,0%, capitaneado pelo PP.
 
A “fascistada” do PL, a extrema-direita do Republicanos, PRD, e do Novo, passou de 818 prefeitos para 1.048, ou seja, cresceu 28,1%, ressaltando que em 2020 o Novo elegeu apenas 1 prefeito e esse crescimento foi capitaneado pelo Republicanos, quase tão fascista quanto o PL.
Essas são as primeiras impressões, mas muito haverá de se discutir.
 
 

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