Wellington Duarte

Professor, economista, Cientista Politica, comunista, headbanger, flamenguista, americano e apreciador de Jack Daniels

16/10/2024 05h47

 

Dizer que Natal tem uma importância fundamental para o Rio Grande do Norte é mera tautologia, já que o município, com seus mais de 750 mil habitantes representa cerca de 23% de toda a população do estado e detém boa parte do Produto Interno Bruto (PIB), dessa unidade federativa. Portanto uma eleição para prefeito dessa cidade tem repercussão política, econômica e financeira e, por conseguinte, se reveste de uma importância que transcende para todo o território potiguar.

Mas não é apenas isso. Natal se limita com Parnamirim, São Gonçalo do Amarante e Extremoz e são essas cidades (e municípios) que sofrem os efeitos, para o bem e para o mal, da dinâmica da antiga “pérola do Nordeste”. E não se trata de mera retórica.

Extremoz, por exemplo, deu um salto populacional que impressiona e que merece um estudo mais apropriado. Ela, em 1980, tinha 8.796 habitantes, 14,6% do que tem agora, de acordo com o Censo do IBGE de 2022. O que aconteceu nesses 34 anos? Aliás, é bom que se diga, no citado Censo, sua população tinha diminuído 2,2% em relação ao Censo de 1970. E entre 2022 e 2010, sua população cresce espetaculares 151%, chegando a mais de 61 mil almas. Entre 1980 e 2022, a população de Extremoz cresceu 700%, uma média de 16% ao ano. E Natal nada teve a ver com isso?

São Gonçalo do Amarante, que tem parte do seu município conurbado com Natal, confundindo os que lá residem e que é bastante urbanizada, também vem experimentando um forte incremento populacional, principalmente a partir dos anos 80, afinal entre 1980 e 2022, a população desse município cresceu 376%, uma média de 8,5% ao no e hoje, São Gonçalo do Amarante é o quarto maior município do RN. E Natal nada teve a ver com isso.

Parnamirim é um caso exemplar. E bote exemplar nisso. Nos anos 30 era uma fazenda e até os anos 80 era uma cidade relativamente pequena, talvez média para os padrões do RN, já que, pelo Censo de 1980, tinha 26.362 habitantes, menor, portanto, do que São Gonçalo do Amarante e hoje, com seus mais de 252 mil habitantes, caminha a passos largos, para se tornar o segundo maior município do RN. Entre 1980 e 2022, Parnamirim cresceu estonteantes 959%, um crescimento populacional médio de aterradores 22% ao ano.

Nesse mesmo período Natal cresceu 75%, uma média anual de 7% e com o detalhe de termos encolhido 8,5% entre 2010 e 2022, sugerindo um espraiamento dessa população. Uma preliminar observação constata que se fizermos uma gradação, relacionando área do município e a sua área urbanizada, Natal, com 167, 4 Km² (99,3% de área urbanizada), já está esgotada em termos urbanísticos, pelo menos no que se refere ao acomodamento horizontal de sua população, ou seja, a prosseguir com o aumento da população, Natal literalmente vai “empilhar gente”; Parnamirim com 120 Km² (49,5% de área urbana); São Gonçalo do Amarante, com 249,8 Km² (31,7% de área urbanizada); e Extremoz, com 140,6 Km² (23% de área urbanizada), revelam o que Natal pode esperar para as próximas décadas.

Natal, portanto, é uma cidade que precisa de inteligência urbana, de um tratamento que sai do “mesmismo” performático de prefeitos que adoram “tapar buracos” antes das eleições e não tem plano algo para evita-los; que querem ver um cidade crescendo para cima, embora estejamos enfrentando os efeitos de uma urbanização acelerada nos nossos corpos, visto que a sensação climática em Natal, de calor, vem crescendo nos últimos anos; que fazem apostas em saídas econômicas que privilegiam as camadas médias da população, mais bem fornidas de recursos, às expensas da massa proletária que se espreme nas zonas menos atrativas da cidade.

Natal vem adoecendo de velhice precoce, e não digo isso com melancolia, afinal no capitalismo, o crescimento da riqueza é apropriado por poucos e, portanto, melhorias na qualidade de vida, não é para todos. Isso é uma obviedade. O problema, nesse caso, é a permanência de uma visão conservadora de uma cidade que precisa se modernizar e para tanto, tem que começar a varrer esse pensamento modorrento que afeta as gestões passadas.

Os efeitos desse crescimento desregulado afetam diretamente Extremoz, São Gonçalo do Amarante e Parnamirim, de maneira diferente, mas que levam às mesmas consequências: aumento das desigualdades, acompanhadas do aumento da violência urbana e isso se reflete na falta de uma perspectiva humana para as gestões municipais, ainda muito ligadas a fazer o “mais do mesmo”, inclusive com os mesmos discursos dos nossos ancestrais, com nova roupagem, e isso é muito chato.

E Natal, mais uma vez está na encruzilhada: vai manter-se na mesmice administrativa, conservadora, regada por um “costume administrativo” que carrega as fazendas no seu modus operandis ou vai optar por uma perspectiva mais arrojada de administração, que enfrente os desafios de Natal, não com o “mais do mesmo”, mas com uma visão progressista de uma cidade para todos?

A sorte está lançada!


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