Wellington Duarte
Professor, economista, Cientista Politica, comunista, headbanger, flamenguista, americano e apreciador de Jack Daniels
30/10/2024 08h06
Pós eleições municipais: a mentira e enganação foram vitoriosos?
Guardem bem essa data: 30 de outubro. Foi num dia como hoje, em 1938, que o jornalista Orson Wells, então com 18 anos, fez uma transmissão, no programa The Mercury Theatre on the Air, que simulava uma invenção alienígena, baseada no romance “A Guerra dos Mundos”, de 1898, do britânico H. G. Wells. A encenação, embora não tenha tido o alcance que muitos pretendem que tenham, afinal a popularidade do programa não era tão alta, repercutiu de forma tão impactante, que nos dias que se seguiram a emissora que transmitiu, foi acusada de “enganadora” e foi, inclusive, denunciada na Comissão Federal de Comunicações, e Wells se tornaria um notável dramaturgo.
A mentira, que se transforma em verdade quando repetida insistentemente, não é obra única do pusilânime ministro de Propaganda nazista, Joseph Goebbels, mais famoso pelo seu fundamentalismo e sua defesa alucinada de Hitler, mas podemos encontrar centenas, talvez milhares de vezes, mentiras contadas pelos meios de comunicação, se transformaram em “verdades absolutas”.
Podemos evocar a trágica história de Calígula, acusado, na história, de ser um sujeito completamente bestial, mas que pesquisadores mais sérios já contestam essa versão, sem desmerecer seu caráter violento, visto que era costume que escritores destruíssem a imagem de imperadores que eram considerados “inimigos” pelos seus adversários ou sucessores. A história é contada pelos vencedores.
E por que todo esse prelúdio? Passamos por mais um processo eleitoral, cuja recente história, é datada de 1982, quando a DITADURA MILITAR, já nos seus estertores, apodrecida por dentro e combatida por fora, permitiu a volta das eleições para os governos estaduais, primeiro e decisivo passo para o início do processo de redemocratização, controlado pelos militares, que só veio a terminar em 1988.
Quando falamos em eleições municipais, vem à tona, o velho debate sobre o caráter dessas eleições, ora mais “municipalizadas”, ora mais “nacionalizadas”. As forças políticas que disputam os cargos de prefeitos e vereadores, sabem que essa eleição, é um prelúdio das eleições gerais, que se realizam dois anos depois destas, e os eleitos são, na verdade, cabos eleitorais valiosos para os candidatos a deputados estaduais, federais, senadores e presidente, afinal são mais de 58 mil vereadores e 5 mil prefeitos. Não é pouca coisa.
E onde entra o que foi dito no prelúdio? Ora, as eleições municipais ocorrem na base do sistema político e eleitoral do país e é lá que o cidadão vive o dia a dia, estando, portanto, sujeito a todas as ações imediatas de gestores e representantes políticos e é nesse espaço que se constroem as relações mais próximas entre o candidato e o eleitor. E quando a verdade, que já é bem frágil na luta política, é totalmente relegada a segundo plano no processo de luta de classes, o cidadão se torna presa fácil das mensagens mentirosas.
Num mundo em que a informação é distorcida e a mentira, por mais absurda que seja, se transforma numa verdade absoluta, o peso dos meios de comunicação, em todas as esferas, se torna uma arma política que beneficia o surgimento de figuras grotescas, como os Marçais da vida, e que conseguem, milhares de apoiadores e votos, desestabilizando o sistema e tornando a representação política, uma aberração.
Mas é bom que fique claro que aberrações políticas não são novidade; que grandes abstenções não são novidades; que mentiras eleitorais, não são novidades. A novidade é que a nova formatação do mundo expõe a sociedade a uma nova costura de Contrato Social, rompida pela Revolução da Informação, e favorece os mentirosos e canalhas, muitos deles muito bem votadas, e centenas deles eleitos.
O rescaldo do processo eleitoral ainda deve ser estudado mais de perto, e os resultados devem servir para que as forças políticas progressistas, planejem a próxima batalha.
A guerra continua.
*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).