Crime
Caso Marielle: Depoimentos de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz revelam detalhes do assassinato
31/10/2024 11h49
Foto: MP/Reprodução
O julgamento dos ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, reus confessos pelos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes em 2018, prossegue nesta quinta-feira (31) no 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro. No primeiro dia, depoimentos de familiares, testemunhas e peritos trouxeram à tona o impacto detalhado e detalhes das investigações sobre o crime.
Marielle Franco foi assassinada em 14 de março de 2018, quando saiu de um evento no centro do Rio, ao lado de sua assessora, Fernanda Chaves, única sobrevivente do atentado. O crime teria sido motivado por conflitos sobre a regularização de loteamentos na Zona Oeste do Rio de Janeiro, conforme depoimento de Lessa, que afirmou ter sido contratado por um grupo ligado ao então vereador Chiquinho Brazão.
Investigações e impacto emocional
Depoimentos de familiares emocionaram o tribunal. Ágatha Arnaus, viúva de Anderson Gomes, relatou as dificuldades enfrentadas pelo filho após a perda do pai. Entre os depoimentos de policiais, o delegado Carlos Alberto Paúra Júnior destacou as dificuldades técnicas nas investigações, como a falta de colaboração de empresas para obtenção de dados de GPS, o que dificultou a identificação dos assassinos.
Confissão dos Réus e Detalhes do Crime
Durante o interrogatório, o ex-policial militar Ronnie Lessa, de 54 anos, disse que recebeu, primeiramente, uma oferta para assassinar o ex-deputado federal Marcelo Freixo, atual presidente da Embratur.
“O assunto começou no final de 2016. Surgiu a oferta com a seguinte palavra: você vai ficar milionário. Em janeiro, estive com a pessoa novamente, e ela veio trazer um nome que eu tive que rir”, disse Ronnie. “Ele era um político e eu achei inviável, achei que fosse uma loucura”.
“Quando chegou no fim de agosto para setembro, veio novamente o assunto. E aí, surgiu essa proposta em relação a Marielle. Foi chocante pelos números [do pagamento]. Eu aceitei e marcamos a reunião com os mandantes. Nessa reunião, eles me expuseram o pedido e o nome dela. Eu não conhecia a Marielle, nunca tinha visto foto dela. E dali nós buscamos os meios necessários para dar prosseguimento”, complementou.
Ronnie também disse que ouviu dos mandantes que o motivo para assassinar a vereadora era uma questão fundiária.
“Na época, me foi dito que ela atrapalharia, entraria no caminho e atrapalharia a venda de dois loteamentos. Um dos loteamentos seria para o Macalé [ex-PM Edmilson Oliveira da Silva] e o outro loteamento seria dos mandantes. Não sei se iam distribuir”, disse Lessa.
“As palavras deles foram as seguintes: que ela teria se reunido com algumas lideranças comunitárias e ela teria dado uma opinião para que ninguém mais aderisse ao loteamento feito por milicianos. Eles usaram esse termo: ela virou uma pedra no caminho e nós vamos dar prosseguimento. Tem muita grana envolvida nisso e foi o que aconteceu.”
Élcio Queiroz depôs em seguida. Ele afirmou que, na virada de ano de 2017 para 2018, Lessa lhe contou que estava envolvido em um trabalho de execução por encomenda, que o alvo seria uma mulher e que, inclusive, já tinham tido a oportunidade de matá-la mas não conseguira.
Queiroz contou ainda que foi convidado por Lessa para participar do assassinato apenas no dia do crime. De início, ele não sabia que seria um homicídio, apenas que precisaria dirigir para o parceiro, em um “trabalho”. Ele destacou ainda que chegou a receber uma foto de Marielle com outras mulheres, mas, até então, não conhecia a vereadora.
Apenas depois de se encontrar com Ronnie Lessa, na Barra da Tijuca, e chegar ao centro da cidade, onde começariam a colocar em prática o crime, foi que Élcio viu o companheiro pegando uma submetralhadora e ficou sabendo que o “trabalho” se tratava do assassinato da vereadora.
No depoimento, Élcio diz que inicialmente Ronnie pensou em matar Marielle no centro da cidade, assim que ela saiu de um evento, mas eles desistiram devido à existência de câmeras no local. Então, ambos seguiram o carro da vereadora até o Estácio, onde Lessa mandou Élcio emparelhar com o carro de Marielle e começou a disparar sua arma. Depois, os dois fugiram em direção à zona norte.
Pelos crimes de morte, o Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público estadual, vai pedir ao Conselho de Sentença do 4º Tribunal do Júri a condenação máxima, que pode chegar a 84 anos de prisão. O júri é formado por sete homens e a juíza que preside o julgamento é Lucia Glioche.
Fonte: Com informações de Agência Brasil