Cinema e Cultura
Morre Ney Latorraca, ator de 'Vamp' e 'TV Pirata', aos 80 anos no Rio
26/12/2024 11h32
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Ney Latorraca, um dos nomes mais marcantes da teledramaturgia brasileira, faleceu nesta quinta-feira, 26, no Rio de Janeiro, aos 80 anos. Internado desde o dia 20 de dezembro na Clínica São Vicente, na Gávea, o ator e diretor enfrentava complicações de um câncer de próstata que evoluiu para metástase. A causa da morte foi confirmada como sepse pulmonar.
Com uma carreira de mais de cinco décadas, Ney foi um dos artistas mais versáteis e inovadores de sua geração. Estreou na TV Globo em 1975, na novela “Escalada”, e se consagrou em papéis como o vampiro Vlad, em “Vamp” (1991), e Barbosa, no humorístico “TV Pirata” (1988). Outros destaques incluem Quequé, em “Rabo de Saia” (1984), e o travesti Anabela, um dos seis personagens que interpretou em “Um Sonho a Mais” (1985).
No teatro, Ney foi ovacionado por sua atuação em “O Mistério de Irma Vap”, dirigida por Marília Pêra. Ao lado de Marco Nanini, manteve a peça em cartaz por 11 anos consecutivos, consolidando-a como um dos maiores fenômenos teatrais do Brasil.
Infância e Início da Carreira
Ney Antonio Latorraca nasceu em Santos (SP), em 25 de julho de 1944, em uma família de artistas. Seu pai, Alfredo, era cantor e crooner, e sua mãe, Tomaza, corista. Desde cedo, Ney mostrou aptidão para as artes. Sua primeira experiência teatral ocorreu aos 19 anos, na peça escolar “Pluft, o Fantasminha”, que alcançou sucesso fora do ambiente estudantil.
Nos anos 1960, em São Paulo, enfrentou a censura da ditadura militar ao participar da montagem de “Reportagem de um Tempo Mau”, dirigida por Plínio Marcos. O episódio resultou na prisão de alguns colegas e marcou profundamente o jovem ator.
Impacto na TV
Ney estreou na televisão em 1969, na TV Tupi, com o programa “Super Plá”, e no cinema no mesmo ano, em “Audácia, a Fúria dos Trópicos”. Posteriormente, passou pela TV Cultura e TV Record antes de consolidar sua trajetória na Globo.
Sua habilidade em interpretar personagens diversos lhe rendeu o título de “versátil”. Ele mesmo refletiu sobre isso em depoimento ao Memória Globo: “Comecei a fazer de tudo: sapatear, plantar bananeira, subir, descer, fazer árvore, jacaré, vampiro. Mas é bom ser versátil. Você não fica carimbado”.
Na novela “Coração Alado” (1980), Ney protagonizou, ao lado de Vera Fischer, a primeira cena de estupro exibida em uma novela das oito. Em “Estúpido Cupido” (1976-1977), seu personagem Mederiquis, um fã de Elvis Presley, conquistou o público jovem.
Corajoso e bem humorado
Diagnosticado com câncer de próstata em 2019, Ney enfrentou a doença com coragem e bom humor, características que marcaram sua personalidade dentro e fora dos palcos. Em uma de suas declarações, disse: “Sempre fui uma criança diferente das outras. Tinha que dormir cedo porque não havia o que comer em casa. Então, até hoje, para mim, estou no lucro”.
Casado há 30 anos com o ator Edi Botelho, Ney deixa um legado de amor, dedicação e contribuições inestimáveis para a arte brasileira.
Velório e Despedida
Os detalhes sobre o velório e sepultamento ainda não foram divulgados. A Clínica São Vicente lamentou a perda em nota oficial e destacou a relevância de Ney para as artes cênicas nacionais.
Seu falecimento deixa uma lacuna irreparável na dramaturgia brasileira, mas também reforça a importância de seu legado, que continuará a inspirar gerações de artistas e admiradores.