Alfredo Neves

21/04/2020 00h02
 
A ARTE EXPRESSIONISTA DE DIONE CALDAS
 
 
O seu nome de batismo é Dione Maria Barros Caldas Xavier, ou como todos a conhecemos: Dione Caldas; e é assim que ela assina todos os seus quadros. Nasceu no dia 15 de maio de 1964 em Natal-RN. É autodidata, escritora, poeta e com formação em Administração e pós-graduada em Pedagogia Empresarial e Marketing pela UNP. Publicou seu primeiro livro Caderno de Poesia (1977) aos 13 anos e com prefácio do poeta Luís Carlos Guimarães (1934 – 2001). O segundo livro Canto Vivo (1982), pela Fundação José Augusto, foi recebido com aplausos pela crítica. Veículos de comunicações importantes do país e os seus principais jornalistas, como Geraldo Edson de Andrade, Jornal de Ipanema [25/06/78], Genival Rabello, Jornal da Manhã-Rio [07/11/77], B. Allanguede, Charleville, França, Vital Correia de Araújo, Recife [02/11/77], comentaram e elogiaram o seu belo trabalho poético.  Em 2010, Dione Caldas foi convidada para associar-se ao seleto grupo de poetas, a AJEB [Associação de Jornalistas e Escritoras Brasileiras]. Como também pertence ao Movimento Poetas del Mundo e da ALAMP – Associação Literária e artística de Mulheres Potiguares e da UBE – União Brasileira de Escritores.
 
Corre nas veias de Dione Caldas o Azul da Prússia, o Vermelho da China, o Verde Inglês e o Amarelo Cádmio, apenas para metaforizar que ela vem de uma tradicional família de artistas. O tio do seu pai, Moura Rabello, era famoso por seus retratos acadêmicos, lá pelos anos 1920, a avó por parte do pai, Ninpha Rabello e a tia Zaira Caldas foram artistas plásticas conhecidas em suas épocas e, o mais proeminente,  o poeta e pintor Dorian Gray Caldas (1930 – 2017), o seu pai. Em entrevista realizada meses antes do falecimento de Dorian Gray, em sua residência, organizada por Thiago Gonzaga e com a minha participação, a de Manoel Onofre Júnior e João Andrade, presenteei o pintor com uma tela minha. Na ocasião ele comentou afetuosamente de que a sua filha Dione Caldas tinha algumas telas abstratas, mas que o seu estilo e movimento era o Expressionista. Dorian Gray derramou elogios sobre a arte da filha e dizia como ela avançou no tempo produzindo telas com toques geniais e de características próprias. 
 
A respeito da influência vale comentar que, em tantos milênios e séculos de arte, não há como alguém falar que criou um estilo para chamar de seu, por mais que não tenhamos tido contato com absolutamente nada, mesmo assim poderemos criticamente situar o artista dentro de uma escola ou movimento seja ele literário ou artístico.  No entanto, os traços, as aptidões, as cores, a leveza ou a dureza no uso das ferramentas para produzir o trabalho em tela será sempre diferenciado da influência que tenhamos, haverá sempre de forma gradual um distanciamento, mas nunca uma dissociação, mesmo que mudemos de estilo.  Observando as telas de Dione Caldas pude perceber que apesar de ter convivido com o pai durante toda uma vida, e tê-lo visto pintar diversas obras de arte, a artista não poderia de forma alguma deixar de ter a sua influência, por mais que ela tentasse se desviar dessa possibilidade. Porém, ao analisar as suas telas de perto, percebo quão próprios são os seus traços, com ideias próprias e evidencia-se com o passar do tempo o quanto as suas referências foram também se multiplicando, ficando assim um misto da genialidade do pai com outras habilidades e fortes perspectivas pessoais.
 
As suas telas são expressionistas. Como escrevi em artigo anterior o Expressionismo é um movimento cultural surgido na Alemanha e na Áustria, no século XX, tem, por incrível que parece, a sua aplicação a artistas não alemães ou austríacos, como Francisco de Goya (1746 – 1828), Paul Gauguin (1848 – 1903), Henri Matisse (1869 – 1954) e Vincent Van Gogh (1853 – 1890) e, complemento ainda, com o norueguês Edvard Munch (1863 – 1944), em particular com a sua tela O Grito (1893), esses artistas repassam em suas telas insatisfações com o estado caótico das coisas, as agruras sociais, as angustias pessoais e a desesperança com as intempéries mundanas. Inicialmente nascido na Alemanha espalhou-se por diversos países, inclusive nos nórdicos e chegando aos EUA em 1908. É um movimento complexo e até os dias atuais cercado de controvérsias para se chegar a um conceito mais razoável ou próximo do que se quer dentro da História da Arte. Escreve Jean Leymarie (1919 – 2006): “O Expressionismo constitui a fase atual do romantismo, de maneira trágica ligada à angústia de nosso tempo, ao novo surto do espírito eslavo e nórdico. Ao ensejo dos pintores que invocam a Escola Francesa e tendem a fazer prevalecer linguagem cosmopolita, o Expressionismo favorece as diferenciações individuais, os particularismos étnicos”.  (Jean Leymarie, Dicionário da Pintura Moderna, 1989, p. 112).
 
Vejam que estamos acostumados a relacionar essa forma de expressão com rostos angustiados, chocados com algo, tristes, etc, como Dr. Gachet de Van Gogh, ou A Noite Estrelada, onde as estrelas no céu representam para o artista cada pessoa querida que partiu. Ou A Serviçal Adormecida de Johannes Vermmer, ou Os Desastres de Guerra e o Cachorro Afogado de Francisco de Goya, mesmo sabendo que Goya é bem antes, mas muito antes do nascimento desse movimento, mas, a partir de agora, podemos identificar telas que atendam a esse estilo, fora dessa ideia apenas de rostos aterrorizados ou tristes, além do Grito já citado mais acima de Edvard Munch. Fora dessas faces que exprimem tudo o que já descrevi, essa vertente também traz às telas a saudade de um tempo, o desordenamento dos grandes centros e com isto as lembranças saudosistas de como era a minha ou a sua cidade de outrora. O Expressionismo encontra-se, portanto, na paisagem, seja ela com aspecto de impressionismo ou um abstrato com gravuras distorcidas, não só a paisagem urbana, mas também a bucólica e a que foi devorada pela modernidade tão citada e escrita, por exemplo, em diversas teses do sociólogo alemão Georg Simmel (1858 – 1918), descrevendo a modernidade em ebulição e crescimento.
 
Nesse sentido, as telas expressionistas de Dione Caldas retratam uma cidade reconstruída sobre estruturas de ferro e concreto armado, casas desertoras dos quintais de cercas baixas ou quase sem a ausência de uma única proteção contra um “inimigo” que perambula em qualquer lugar, para dar espaço aos edifícios com apartamentos amontoadas uns sobre os outros, separando e refletindo na personalidade dos indivíduos. Pontes bucólicas de ferro e aço, materiais que vieram de longe e que foram substituídos por novas coisas e que não sentirão os passos e o cheiro dos carros de bois de um ontem que  não se repetirá jamais para acalentar os transeuntes inocentes duma província que se desperta para um novo século. 
 
Alguns pintores paisagistas como Giuseppe Perissinotto (1881 – 1965), Túlio Mugnaini (1895 – 1975), José Monteiro França (1876 – 1944), Helena Pereira da Silva Ohashi (1895 – 1966), dentre outros, pintaram de forma a trazer à tona um forte apelo expressionista tanto dos casarões, as avenidas, as florestas e as manifestações cotidianas do povo paulistano. 
 
São muitas as telas em que Dione Caldas nos permite viajar no tempo, de abordar essa cena do cotidiano urbano de outrora que foi sobrepujada pela modernidade caótica e inevitável.  Casario e Vista Aérea são telas do encontro e do desencontro de um tempo que não retornará jamais.  A pintura Ponte Newton Navarro, por exemplo,  ironicamente a quem foi dado o nome de um pintor, dramaturgo, desenhista e poeta potiguar, é um apelo na mais profunda expressão da ambiguidade, nas pinceladas da artista denota a irrefutabilidade do avanço urbano, diante da reconstrução de uma nova sociedade expansionista e consumista que “destrói todas as coisas belas”, mas é necessária para a manutenção de uma nova ordem industrial.
 
Dione Caldas é espetacular por tudo isto que descrevi e por ser uma artista que contribui para a cultura do estado do RN. Foi coordenadora dos museus do estado, dentre eles a Pinacoteca do Estado. Atualmente é uma das gestoras do Salão Dorian Gray de Arte Potiguar, organizando todos os anos a partir da Sociedade Amigos da Pinacoteca, exposições para divulgar artistas de todos os movimentos, escultores e artesãos, e apresentando novos artistas para a sociedade potiguar, para o Brasil e o Mundo.
 
Participou de exposições coletivas na Espanha em Mallorca, Madri, Barcelona [2000]. No Brasil expos no Ocean Palace Hotel [2000]; expos ainda na comemoração dos 160 anos da Capitania dos Portos [2007], no Shopping Midway Mall [2007]. A sua primeira exposição individual ocorreu em novembro de 2007, intitulada “A estrutura do Sonho”, em parceria com o artista plástico Dorian Gray expos no Espaço Orla Cultural, “A Arte Brasileira em Dois Tempos”, em outubro de 2008, no Atelier Dorian Gray tem exposição permanente e no qual faz a curadoria. Promoveu na galeria do Atelier Dorian Gray, Curso de Iniciação Artística durante três anos a partir de 1984, tendo formado dezenas de alunos para o exercício da pintura.
 
Certa vez escrevera Dorian Gray Caldas: “A pintura de Dione Caldas se particulariza por um expressionismo/abstrato, tendo na cor e no ritmo de suas composições surpreendentes achados líricos e uma perfeita composição harmônica. Uma artista que enaltece a cor e o tropicalismo de nossas mais legitimas situações e emoções de brasilidade.
 
Fontes de Pesquisa:
 
Riout, Denys – A Pintura, Textos essenciais – Vol. 14 – vanguardas e Rupturas, 2013
Sprung, Ruth Tarasantchi  - Pintores Paisagistas – São Paulo de 1890 a 1920, 2002
Informações cedidas pela própria artista plástica;
https://www.poetasdelmundo.com/detalle-poetas.php?id=7336 (acessado em 12/04/2020);
E-mail: dionemcx@yahoo.com.br

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