Alfredo Neves

Petroleiro e vice-presidente da Academia de Letras de Macau

30/06/2020 00h05
 
CARLOS SOARES - A ARTE ABSTRATA, FIGURATIVISTA E OS SEUS “CANGACEIROS” INTROSPECTIVOS
 
 
Carlos  José Soares da Silva, nasceu em Natal no dia 29 de dezembro de 1957. Filho de Maria dos Anjos Castro da Silva e José Soares da Silva. Foi o terceiro filho num total de sete homens. Foi casado por 32 anos com Rose Mary Sudario e tiveram uma filha, Beatrice Soares Sudario. Segundo Beatrice Sudario, o seu pai Carlos Soares foi oriundo de família humilde, e desde muito pequeno mostrou amor e facilidade para as artes, sempre buscando conhecimento para aprimorar cada vez mais o seu estilo e a técnica no campo da pintura. Foi autodidata das artes plásticas e do designer gráfico, não medindo esforços para aperfeiçoar e estar à frente das novidades. Faleceu prematuramente aos 62 anos de idade, no dia 15 de janeiro de 2020. Beatrice diz ainda que o seu pai teve a chance de conviver por 2 anos com Clarice Soares Sudario Morais, sua única neta, por quem criou um amor lindo e ensinou a gostar das tintas e pincéis. E como filha, aprendeu com ele a amar e admirar a arte sem nunca esquecer que para ser bom nisso, é necessário estudo e força de vontade. Beatrice cresceu vendo Carlos Soares estudar sempre, e colecionar livros de arte como seu maior tesouro, e todos os livros encontram-se até hoje no ateliê do artista.  Descreve ainda Beatrice: “[...] ele me ensinou também a seguir meu coração, trabalhar com amor e correr atrás dos meus sonhos. O sonho dele era viver apenas de arte, e nos últimos anos ele tinha conseguido alcançar finalmente esse objetivo. Estava numa época muito prospera e produtiva. Tinha planos de boas parcerias e levar a última serie que estava desenvolvendo para Lisboa.” 
 
Carlos Soares é daqueles pintores que podemos admirar sem pestanejar. O verbo está no tempo presente, afinal, pintor e criatura se perpetuam numa condição que podemos definir como essencial à sobrevivência da arte e do seu criador. Natal, Ceará-Mirim, Macau, Parnamirim, Mossoró, Currais Novos, Caicó, Areia Branca, e tantas outras cidades do Rio Grande do Norte apresentaram os seus ilustres filhos das artes para todo o mundo, e eles expressam as suas emoções de forma tão harmoniosa e sublime, que podemos escrever páginas e mais páginas sobre esses geniais musicistas, escultores, letristas, dançarinos e tantos infindáveis ícones da nossa cultura potiguar. O Artista Carlos Soares está entre nós através das suas pinturas assim como a ideia de falar sobre arte passa pela necessidade que temos de inseri-lo entre os notáveis da pintura brasileira e potiguar.
O primeiro contato que tive com a sua arte foi quando visitei em 2018 a Galeria B-612, na Rua Dr. Barata, na Ribeira. A Galeria, além de diversas telas de artistas locais, do Brasil e do mundo, tem também esculturas e móveis de época. Naquele momento, apesar de observar diversas telas que ali estavam expostas, fiquei estudando cada detalhe e o movimento das artes de Carlos Soares. Anchieta Miranda, o proprietário da galeria, inclusive, na ocasião, havia me relatado que Carlos Soares assinaria diversas telas quase que naquele momento, pois haviam muitas delas sem a sua assinatura. Perdi, então, uma oportunidade única de conhecer pessoalmente o artista. 
 
A identificação imediata ficou por conta do estilo que pratico: o Abstracionismo, ou o abstrato, o geometrismo e o Expressionismo Abstrato. Nada que desabone os outros movimentos, até porque, os meus artigos englobam diversos deles e a minha admiração pelas artes superam quaisquer amarras que por ventura possam inferir na escolha do artigo seguinte. No entanto, por praticar um estilo artístico que estudei e desenvolvo, fiquei por minutos sentado diante de algumas telas de Carlos Soares naquele dia ao visitar a Galeria B-612. Observei todas as abstratas. Percorrendo outras salas da galeria, tamanha foi a minha surpresa ao me deparar com outros movimentos e estilos do artista, como “Os Cangaceiros”, as mais tropicais, e outras figurativistas e de cunho social e regionalista, como “Cidade Alta”, “Ribeirinhos” e “Favelas”. 
 
A leveza das pinturas e a suavidade com que Carlos Soares pintava era de uma qualidade inquestionável. Claro que como crítico de arte podemos analisar detalhes que outros críticos trariam à tona, como traços, técnica ou outras características discordantes, coisa que não condeno, porém, na minha análise, ao relacionar as telas de Carlos Soares em diversas mídias, redes sociais e presencialmente, fiquei convencido de que estaria diante de um gênio da nossa pintura local e de um artista plástico visual e completo admirado em diversos países e no Brasil. Os seus “Cangaceiros”, uma série de 36 desenhos com tinta e pena sobre papel, marcam uma nova fase na maneira como retratar esses intrépidos e polêmicos bandoleiros do sertão nordestino. São desenhos com rostos marcantes, realistas e duma introspectiva ímpar. Quando observados de perto percebe-se que estamos diante de homens reais da sofrida e árida região nordestina. 
 
O Jornalista Alex Medeiros, que conviveu e estudou o ginasial com Carlos Soares, no Winston Churchill de Natal, em artigo publicado na Revista Kukukaya e na Tribuna do Norte, descreve-o da seguinte maneira: “[...] de uma vida pessoal discretíssima, jamais afeito a grandes grupos, de uma timidez toda própria dos gênios, falava tudo por suas telas e por elas estabelecia uma relação íntima com o mundo. Acho que pintou mais que falou. “[...]Nos meus delírios estudantis, contei com sua arte para compor folders políticos em off set, uma disparidade com os impressos em mimeógrafos. Arrisquei os primeiros textos críticos fazendo apresentação das suas telas em exposições”. (MEDEIROS, 2019. p.21-23)
Das suas artes destaco as seguintes: “Abstrato N2020/04”, 45,5 x 34,5 cm, 2018, acrílica sobre tela; “Arte Digital – Abstrato” 160 x 120 cm; “Flores do Brasil”, 2018, acrílica sobre tela; “Abstrato 2018” , 160 x 100 cm, acrílica sobre tela; “Favelas” 160 x 100 cm, acrílica sobre tela; “Pintura Abstrata”, 51 x 35,5 cm, acrílica sobre papel; “Cangaceiro”, 1989, tinta e pena sobre papel; “Ciborg da Caatinga”, 1988, tinta e pena sobre papel, esta e outras compõem a série de 36 desenhos sobre o cangaço; “Rosto”, 2016, acrílica sobre papel; “Cangaceiro II”, 2019, 70x66 cm, acrílica sobre tela; “Aquarela Surrealista”, 1990, aquarela; “Cangaceiro”, 2017, 60x60cm, acrílica sobre tela e tantas outras pinturas que recomendo para todos os leitores da coluna.
 
Sobre algumas exposições: em 1983 participa de sua primeira exposição em Salão de Artes Plásticas na cidade de Natal e vence, ficando com o 1° lugar. De 1983 a 2015 foram vários prêmios, individuais e coletivas.
 
Alguns deles: 
1° Lugar - Prêmio FIERN de Artes Plásticas Circuito de Artes Plásticas do Nordeste 1983 - Natal/RN
2° Lugar - Prêmio de Pintura Newton Navarro, Fundação José Augusto 1983 Natal/RN
3° Lugar II Salão de Artes Plástica do SESC, SESC 1987 - Natal/RN
1° Lugar Prêmio de Pintura Governador do Estado, Fundação José Augusto 1992 Natal/RN
1° Lugar V Salão de Artes Plásticas Cidade do Natal, Capitania das Artes 2001 Natal/RN
 
Exposições Individuais e Coletivas
-Individual, Galeria de Artes da Biblioteca Câmara Cascudo, Fundação José Augusto 1985 Natal/RN
-Individual, Centro Cultural São Paulo Sessão Corrida, Secretaria Municipal de Cultura/
Prefeitura do Município de São Paulo 1987 São Paulo/SP
-Individual, Galeria de Artes da Biblioteca Câmara Cascudo, Fundação José Augusto 1991 Natal/RN
-I Salão Nacional de Aquarela da FASM, Faculdade Santa Marcelina, Galeria FASM 1988 São Paulo/SP
-Mostra Tempos e Espaços de Natal, Galeria Metropolitana Aloísio Magalhães, UFRN 1986 Recife/PE
-Exposição de Rua, Castelo São Jorge Aquarelas 1991 Lisboa/Portugal
-4 Artistas de Natal, Galeria Arte Nossa 1991 João Pessoa/PB
-Arttelier Carlos Soares Exposição Permanente Natal/RN
A sua filha Beatrice Soares manterá o seu acervo vivo e disponível para visita, ela separou em seu ateliê um ambiente para exposição das obras do artista. Lá ela irá expor também alguns projetos futuros com o acervo de imagens existentes. Para visitar o ateliê, basta marcar pelo whatsapp (84) 98810-7773. O link para o Whatsapp também se encontra na Bio do Instagram de Carlos Soares, onde ficará em funcionamento para divulgação. O seu Instagram: @carlossoaresatelier. 
 
Fonte de pesquisa
https://www.artmajeur.com/pt/csoares2030/presentation (Acessado em 28/06/2020)
Medeiros, Alex.  Revista Kukukaya No 39 – p. 21-23, 2019
http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/artista-pla-stico-natalense-carlos-soares-morre-aos-62-anos/469695 (Acessado em 28/06/2020)
Informações repassadas pela filha Beatrice Soares Sudario

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).