Wellington Duarte

23/04/2022 06h10

 

Bolsonaro e o fim da democracia

 

Como Bolsonaro consegue forças para ser o presidente mais chafurdento da história desse país, incluindo o Império? Em quase três anos e meio de governo, o Mandrião enxovalhou toda a liturgia do cargo e jogou no lixo toda e qualquer princípio republicano. Ele, segundo ele mesmo, veio para “acabar com isso daí” e acabou mesmo. O BraZil é literalmente um país acabado, desmoralizado, empobrecido, famélico e destroçado social e economicamente.
 
Ontem (21) dia em que o país relembra o alferes (uma espécie de suboficial) Joaquim José da Silva Xavier e sua participação numa conjura, nascida em Minas Gerais, contra a Corte e foi, por isso, enforcado e esquartejado. Quase como uma pilheria histórica, Bolsonaro veio a público, na forma de um Decreto Presidencial, dar uma “graça” a um marginal reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Daniel Silveira, cujos motivos para que eu lhe alcunhe de marginal está expresso nos autos do processo que o condenou.
 
Essa “graça”, vulgo perdão, é um feito inédito na história republicano desse país. Alguns especialistas já se adiantaram e apontam por um grave desvio de finalidade e até as pedras sabem que o ato de Bolsonaro não foi para proteger um dos seus, mas afrontar deliberadamente o STF e manter sua caterva animada. Ele precisa de chafurdo para se manter nas pesquisas eleitorais. E mais: o presidente deu essa “graça” antes do final do julgamento, tornando o ato uma aberração. 
 
O chafurdento, aquele que produz chafurdo, fala numa sociedade em comoção devido a condenação do meliante, o que é um delírio completo, porque na verdade a esmagadora maioria da população se sente distante dessa disputa e milhões de trabalhadores estão mais preocupados em saber se vão ter a refeição diária, do que se o Daniel Silveira será “salvo” pelo chefe da horda. O embate se dá dentro da sociedade civil organizada, entre os que acreditam na república e aqueles que querem, e babam, por um novo tipo de Ditadura.
 
Nada do que Bolsonaro faz passa por qualquer preocupação com o impacto ou efeito concreto sobre o país. Sua tomada de decisão, em boicotar deliberadamente o combate à pandemia, provocou milhares de mortos e outros milhares de sequelados, além de uma catástrofe econômica, e nem por isso ele abriu mão de manter sua postura, que muitos chamam de genocida.
 
Seus atos sempre confrontaram a república. Suas “motociatas” são um escárnio ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ele faz isso há tempos; arrendou o “centrão” e permitiu que se usassem verbas públicas, via “orçamento secreto”, para literalmente comprar apoios, e nem sob uma saraivada de críticas, arrefeceu.
 
Portanto Bolsonaro manterá seu modus operandis e não dará um passo atrás. Ele é assim e não mudará. Resta aos que defendem a república, não importando sua opção política, cerrar fileiras e se preparar o grande embate eleitoral de outubro, onde estarão na mesa duas opções: uma que se filia ao fascismo e que quer porque quer uma Ditadura, de qualquer tipo e a outra que já opera dentro das normas constitucionais desde o nascimento da nova república.
 
Dessa escolha dependerá nosso futuro: no esgoto da história ou no campo da democracia política.
 

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