Professor, economista, Cientista Politica, comunista, headbanger, flamenguista, americano e apreciador de Jack Daniels
Onde estão os líderes políticos da terra de Poti?
Quando olhamos o atual cenário político do RN, e não apenas eleitoral, o que encontramos? Alguma nova geração de líderes, formadas nas “escolas políticas” tradicionais? Talvez os mais velhos busquem nas velhas raposas ainda vivas (José Agripino, Garibaldi Filho) alguma referência, mas essas figuras, que dominaram a cena política nos anos 80 e 90, já estão afastadas das novas gerações. Seus descendentes, à exceção de Carlos Eduardo Alves, que nunca ficou restrito ao seu grupo familiar, não produziram frutos mais robustos.
Os grandes “coronéis” da política sempre foram frutos de lideranças produzidas na força de sua organização na economia, como grupo familiar e de agregados e no controle do setor público. Os exemplos da família Maranhão e dos “coronéis do algodão”, nas primeiras três décadas do século XX, nos dão pistas.
Num estado pobre, com uma estrutura econômica frágil e um aparelho público sempre a serviço dos interesses privados desses grupos, era relativamente “fácil” ter lideranças políticas. Dinarte, um “coronel” cuja força vinha do algodão; Aluízio Alves, que foi uma dissidência do grupo de Dinarte e se firmou apoiada numa classe média emergente e depois no comando de pequenos feudos no setor público; os Maia, primos dos Rosado (que dominavam Mossoró desde os anos 40), se consolidam como um grupo político forte a partir do clientelismo público, na década de 70.
Esses grupos familiares tiveram que conviver com a tentativa, fracassada, de introduzir uma economia liberal nesse país, feita por FHC, e que pressupunha a democratização (liberal) as instâncias governamentais nas três esferas e, por conseguinte, o esvaziamento do poder político desses grupos.
Em parte deu certo. Novas lideranças emergiram, mas vieram desses núcleos (Wilma, Carlos Eduardo) e aos poucos foram perdendo a força. A cada eleição, o eleitor preferiu colocar “gente nova” nos patamares de “liderança”. Só que essas “novas lideranças”, além de terem sido geradas no ambiente conservador, fruto da nossa estrutura econômica e social, traziam um discurso novo, com práticas antigas. E mais: sem uma “direção política”, esses novos atores políticos tornaram o cenário eleitoral caótico, e o eleitor, no caos, preferiu apostar no “novo”.
Se olharmos detidamente as eleições, para todos os cargos, a partir de 2010, veremos a transição do “velho” para o “novo”, basicamente nos maiores centros urbanos, enquanto nas cidades médias e pequenas, o “novo” era uma mera continuidade do “velho”. Práticas políticas tradicionais com roupagens novas.
À exceção de Fátima Bezerra hoje, sem dúvida, uma referência política, cuja trajetória é, de fato, admirável, pois nasceu da militância e de sua firmeza quanto à escolha do campo ideológico, quem mais podemos ter como referência? Rogério Marinho, um político que migrou do centro para a extrema-direita mais fétida, mais como forma de oportunismo do que de ideologia e que se beneficiou, de fato, de práticas seculares para ser uma “nova liderança”?
Se consideramos “liderança política” uma pessoa que tem a capacidade de agregar apoiadores e cabos eleitorais, na maioria das vezes fidelizados; de ser ouvido e cuja erudição, que não necessariamente precisa ser “shakespiriana”, mas que seduz vastas parcelas do eleitorado; de ser respeitado, até pelos adversários e que tem, no pragmatismo, sua principal força, quem poderemos “eleger” como “nova liderança política”.
As eleições de 2022 mostrou que o potiguar não dá muito crédito ao sistema político local. Prefere votar no que estiver mais próximo dos seus sentidos, baseados no senso comum, do que na aceitação de um discurso mais polido. O caos chegou em 2013, firmou-se em 2016, gerou um monstro (2018) e deu milhares de rebentos (2022) e no RN todos esses elementos hoje estão presentes no nosso corpo político.
Os saudosos dos grandes nomes da política, estão órfãos. São instados a conviver com essa súcia, esses bizarros personagens que, limitados politicamente, se apegam ao discurso fundamentalista e repetem, como papagaios, vitupérios vindos das profundezas das redes sociais.
Oremos.
*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR.
*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).