Kalina Paiva

Natural de Natal/RN, é professora e pesquisadora do IFRN, autora de poesia e contos de terror.

24/05/2024 08h20

Optchá, maio cigano!

Sozinha, uma fogueira já se destaca na noite. Quando unimos o tom vibrante do fogo a um dedilhar nas cordas de um violão e ao rodopiar de uma saia cheia de dobras, materializamos o imaginário coletivo sobre o povo cigano, filhos e filhas do vento que cantam suas alegrias e seus lamentos.

De natureza essencialmente itinerante, esses povos chegaram às terras brasileiras, motivados por contextos diaspóricos. Os primeiros, deportados de Portugal pelo rei, chegaram ao Brasil em 1574. Depois, vieram outras levas fugidas das I e II Guerras Mundiais. Assim, três etnias se ramificaram pelo Brasil: Sinti, vinda da Alemanha e da França; Rom, do Leste Europeu, sobretudo da Romênia; Calon, da Península Ibérica.

Símbolo máximo dessa cultura, a Roda Cigana está estampada na bandeira como traço distintivo desse povo, representando o ir e vir sobre a Terra, os caminhos percorridos e sofridos pelas diversas intempéries e desafios. Créditos da imagem: Reprodução / Iemogum

No Rio Grande do Norte, predominam os Calon, que estão concentrados nos municípios de Tangará e Apodi, cidades potiguares próximas aos estados da Paraíba e do Ceará, na rota do comércio, porém também há registros da presença de outras etnias que migraram dentro do nosso País para as terras de Poty. Particularizando bastante para dar feições mais humanas e menos matemáticas a esse texto, vou escapar dos dados estatísticos que mencionam 500 mil ciganos pelo Brasil, para dar destaque a uma escritora da etnia Rom, nascida no Ceará, radicada no Rio Grande do Norte: Albaniza Ivanovichi.

Três motivos me movem para isso, tanto o fato de termos poucas escritoras ciganas; por ser recente o reconhecimento jurídico dessa parte da população em situação de (semi)nomadismo ou sedentariedade; por hoje se comemorar o Dia de Santa Sara Kali, padroeira universal dos ciganos.

No âmbito jurídico brasileiro, 24 de maio passou a ser o Dia Nacional dos Ciganos, instituído pelo Decreto de 25 de maio de 2006; no ano seguinte, o Decreto No 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, instituiu a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, definidos como grupos diferenciados, a partir do reconhecimento do seu grupo ou organização social.

Dando devido protagonismo a esses povos, trago um pouco da contribuição da escritora Albaniza Ivanovichi, nascida em Fortaleza/CE, mas radicada em Natal (RN), tempo suficiente para torná-la potiguar de coração. Com uma história de vida inspiradora, foi uma menina que caminhava na linha do trem, catando jornal para ler. Hoje, sua obra é palmilhada por uma travessia itinerante escrita em poemas. Programadora de dados, graduada em Administração de Empresas, especialista em Gestão do Terceiro Setor, cursa Psicologia atualmente.

Sua obra, intitulada “No meio do tempo”, será discutida pelo Clube de Leitura Elas por Elas do Mulherio das Letras Nísia Floresta amanhã (25) na Nobel do Praia Shopping, às 15h.

O tempo, essa grandeza que se sobrepõe a tudo, foi teorizado por filósofos e cantado por poetas. Dito isso, acrescento que a mágica da leitura dessa obra em questão consiste em observar como a escritora se relaciona com o tempo. Verdade seja dita: não temos como pará-lo, mas a poeta tem a capacidade de captar os instantes. É isso que faz, quando "retrata sonhos e lembranças de uma vida cheia de esperanças e lamentos" quer esteja ou não contemplando o crepitar das chamas da fogueira. Aliás, sua escrita é essa fogueira que aquece os nossos corações com beleza.

A autora estará presente e a atividade é aberta ao público. Vale a pena participar do clube que é uma homenagem a essa data. Optchá, maio cigano! Optchá, Santa Sara Kali!

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Reunião aberta do Clube de Leitura Elas por Elas do Mulherio das Letras Nísia Floresta

Obra: No meio do tempo, de Albaniza Ivanovichi.

Local: Livraria Nobel do Praia Shopping

Data: 25 de maio de 2024, às 15h.

Evento aberto ao público com homenagem aos povos ciganos.

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Sobre mim

Kalina Paiva, professora do IFRN - Campus Natal-Central, é natural de Natal/RN. É autora de poesia e contos de terror. Gatilhos Poéticos (2022), Cantigas de amor e guerra (2023) são seus livros mais recentes. Membro da União Brasileira dos Escritores - Seção Rio Grande do Norte (UBE/RN), da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN (SPVA), do Mulherio das Letras Nísia Floresta, e da Associação Literária e Artística de Mulheres Potiguares (ALAMP); Coordenadora de Letras e Literatura do Movimenta Mulheres RN. É pesquisadora na área de Literatura, História e memória, e mídias. Instagram: @kalinissima


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