Kalina Paiva
Natural de Natal/RN, é professora e pesquisadora do IFRN, autora de poesia e contos de terror.
18/10/2024 11h12
Para quem adora assombros
(Especial de Halloween)
“É um instrumento repugnante e inútil da vaidade humana...” - diz Drácula sobre o espelho a Jonathan Harker, enquanto o vê se barbear, passando a lâmina pelo pescoço cuja gota de sangue floresce do pequeno corte, atraindo todos os sentidos do maior sugador de sangue da literatura mundial. Bram Stoker escreve esse romance no final da Era Vitoriana, publicando-o em 1897, embora a aparição de vampiros remonte à Antiguidade, na cultura mesopotâmica, por exemplo.
O horror, ao mesmo tempo que assusta a humanidade, congelando a sua alma, exerce sobre ela um fascínio. Certamente porque sempre estivemos cercados de perigos, já que, cada época, carrega os seus. Daí a necessidade de pessoas mais velhas contarem histórias com fins pedagógicos para alertar às crianças e aos adolescentes sobre os perigos reais. O elemento fantástico (qualquer ser com características mágicas e/ou aterrorizantes) entra no enredo para dar conta daquilo que desconhecemos até o dia em que a ciência traga explicações, ou que o próprio texto o faça.
Nas histórias, o horror e o terror se revelam de formas distintas, porém boa parte das narrativas escritas em gêneros do tipo acabam misturando os dois elementos. O horror impulsiona uma resposta mais direta em nosso corpo, bastando dizer que horrere, do latim, significa ter os pelos eriçado, isto é, literalmente ficar com os cabelos em pé, tremer, estremecer. Por sua vez, o terror, do latim terrere, significa causar medo, assustar, trabalhando a mente para sentir ansiedade e medo, já que algo está prestes a acontecer, por meio de um jogo narrativo empreendido pelo autor, o qual precisa elaborar os fatos com acuidade para causar esse efeito.
A passagem de Drácula que descrevi no começo desse texto carrega as duas. O elemento horror acontece com o suspense da gota de sangue que atrai o vampiro, sendo que, no momento em que ele passa e o seu reflexo não é visto no espelho, o leitor sente o impacto no corpo. O suspense bem elaborado vai crescendo até nos depararmos de olhos arregalados com aquela criatura ainda não totalmente revelada.
Acrescento ainda que, em se tratando que reações não são extraídas como receita de bolo, reconheço que esse efeito no corpo pode variar de pessoa para pessoa. Há leitores que, para sentirem um frio na espinha, precisam ler a descrição de uma cena mais sangrenta, típica do terror gore. Seria irresponsável da minha parte homogeneizar as reações e emoções.
Pensando nesses efeitos no corpo e/ou no psicológico do leitor, faço um convite para que, neste outubro, vocês prestigiem uma coletânea de terror que será lançada pela Editora CJA, mecenas desse projeto, no próximo dia 24 de outubro, a partir das 18h, na Palavraria: TREZE CONTOS DE TERROR, organizada pelos escritores Tereza Custódio e José de Castro, e da qual faço parte.
Foram escolhidos treze contos, pois inicialmente seria lançada em uma sexta-feira 13, dia de má sorte, segundo a crença popular contemporânea, alimentada pela cultura de massa, sobretudo depois da franquia cinematográfica “Sexta-Feira 13” que traz um dos mais icônicos personagens de terror, escondido por trás da máscara de hóquei: Jason Vorhees.
Na Antiguidade, muitos povos o consideravam um número sagrado. Para os egípcios, por exemplo, a vida era composta por 12 diferentes estágios para que o ser humano alcance o 13º, o da vida eterna. Dessa forma, o número 13 foi assimilado com a morte, mas não com uma conotação negativa e sim como uma gloriosa transformação. Essa ligação com a morte permaneceu e foi distorcida por outras culturas que nutriam o medo da morte e não a viam como algo presente no destino de qualquer vida.
Em primeira mão, vou partilhar com vocês o resumo de cada conto, obedecendo a ordem do sumário, seguido dos contatos de cada autor(a). Para saber se há terror e horror juntos, só comprando o livro, pois não vou dar spoiler. Minha tarefa hoje é só mexer com o psicológico de vocês que adoram o gênero.
A morada dos mortos é um conto de terror psicológico, de Kalina Paiva, que narra a história da jovem Agnes. Sua casa no bairro do Alecrim esconde um mistério sombrio, prestes a ser revelado por uma estranha senhora que aparece sorrateira em sua porta e muda o seu destino irreversivelmente. @kalinissima
O cavalo Marinho é um conto de terror de João Andrade que narra a trajetória de um mendigo em busca de autoconhecimento. Seus pensamentos e desejos o farão descer aos seus porões e ele terá que enfrentar seus fantasmas internos. Vencê-los é uma questão de sobrevivência. @joao.andrade2
O muro é um conto de Bia Crispim. Nele conhecemos um mundo de fantasias, traquinagens e brincadeiras que o muro da casa dos avós proporcionava a toda a "primarada". Mas aquele paredão de concreto também podia se converter em um lugar de terror e medo fatais, sobretudo quando o sol caía sobre as imensas árvores e o ar aquoso vinha do açude, soprando monstruosidade sobre todo o encantamento. @bia_crispim
Cova rasa, de RM Paiva, narra a história de um garoto que encontra uma cova rasa debaixo de algumas tábuas de madeira, enquanto faz uma limpeza no quintal de sua casa. Aterroriza-se com a ideia de que sua mãe possa estar ali enterrada. Será? @rmpaiva89
O véu da cachoeira, de Vera Azevedo, conta sobre um passeio de adolescentes junto a uma cachoeira, tornando-se um evento fantástico para um deles. Mistérios mudam bruscamente o curso da vida, para sempre. @veraazevedo__prosaepoesia
Caninos é um conto de Ana Cláudia Trigueiro narra a história de Januária, personagem que tem se sentido estranha. Quanto mais a lua cheia se aproxima, mais ela tem dificuldade em controlar a ferocidade que está ganhando corpo dentro dela. O pior é que a moça sente a presença de outra fera nas redondezas. Só não sabe ainda se o encontro entre os dois a tornará caça ou caçadora. @anaclaudiatrigueiro
A moça do cemitério é um conto de Cefas Carvalho, ambientado em Natal, que conta a história de um rapaz tímido e solitário, o qual visita o túmulo da tia no Cemitério do Alecrim, quando conhece a bela e misteriosa Aurélia, por quem se encanta e tenta descobrir mais sobre ela. @carvalhocefas
Irmãos de vagar é um conto de Araceli Sobreira que conta a história de dois irmãos que passam a vagar pelo mundo, após uma morte trágica em um trem de carga. Eles chegam em uma casa onde já existe um espírito dominador e vivem outra experiência inesperada, marcada pelo impacto de serem errantes, sem missas, velas e orações vindas dos vivos. @aracelisobreira
Névoa é um conto de Cláudio Araújo que narra a história de um perito na arte do roubo contratado para "resgatar" uma relíquia sombria cuja existência é considerada um mito e que pode ser muito perigosa em mãos erradas. @escritorclaudioaraujo
O mausoléu de Elisabeth Mosh é um conto de Tereza Custódio que narra a história de Miguel que resolve visitar o mausoléu da avó Elizabeth Mosh, após quatro décadas, em um pequeno cemitério de um longínquo vilarejo nordestino. Porém a viagem noturna com relâmpagos e trovões o levam a conhecer um local sinistro, assustador e cheio de mistério. @tereza.custodio.71
O terço de madrepérolas é um conto de Gilvânia Machado que nos leva como peregrinos a uma viagem misteriosa entre Martins e Sítio Novo/RN, envolvendo a narrativa de uma história de amor que, entre ciúmes, vingança e ódio, perpassa o umbral do tempo. @gilvania_machado16
O homem da chuva, de Anchella Monte, é um conto sobre aparições. Em dias de chuva intensa, ele aparece para Tereza no meio das águas, sem se molhar, calado. Tomada de contínuo pavor, ela o vê desde a infância. Tragédias familiares, viagem, vida adulta e a presença do homem da chuva. Até quando? @anchellamonte
Escrito por José de Castro, Ecos do passado traz uma narrativa tensa em que o médico-intensivista Fernando é envolvido num turbilhão de maus presságios ao perceber que os acontecimentos à sua volta se precipitam e o conduzem inexoravelmente a um fim assustador. @jde_castro10
E então, leitores(as), preparados(as)?
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EVENTO DE LANÇAMENTO
Livro: Treze contos de terror
Data: 24/10/2024
Horário: A partir das 18h
Local: Palavraria
Shopping Natal Sul
Av. Prudente de Morais, 3857 - Loja 6 - Lagoa Nova, Natal - RN, 59056-200
Kalina Paiva
Natural de Natal/RN, é professora e pesquisadora do IFRN, autora de poesia e contos de terror.
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