Kalina Paiva

Natural de Natal/RN, é professora e pesquisadora do IFRN, autora de poesia e contos de terror.

28/02/2025 08h07
O que celebrar em março?
 
O mês de março é dedicado à mulher, com o detalhe de que, no dia 08, a celebração da luta pela igualdade e respeito é internacional, reconhecida pela Organização das Nações Unidas, desde 1975.
 
A origem do 8M tem suas raízes fincadas em meados do século XIX, época de acaloradas manifestações e greves de trabalhadoras que reivindicavam igualdade salarial e jornadas dignas de trabalho. Em 08 de março de 1908, mulheres ocuparam as ruas de Nova York, apresentando as seguintes pautas: direito ao voto, aumento salarial, diminuição da jornada de trabalho e proibição do trabalho infantil. Contudo, no ano seguinte, o evento que popularizou essa data ficou na memória da humanidade com a morte de 125 mulheres majoritariamente imigrantes em um incêndio ocorrido na fábrica Triangle Shirtwaist.
 
No Brasil, o efervescente século XX criou o momento propício para a luta das trabalhadoras, sobretudo com o movimento sufragista nas décadas de 1920 e 1930, engrossando o caldo dessa luta. O direito ao voto se efetiva com a Constituição de 1932, promulgada por Getúlio Vargas.
 
Contudo, em terras potiguares, o voto aconteceu anos antes da Constituição de 32. A professora Celina Guimarães Viana é a brasileira que alçou o Rio Grande do Norte ao status de pioneiro no exercício do voto feminino tanto nacionalmente quanto na América Latina. Árbitra de futebol em uma época na qual essa profissão ainda nem era legalizada, foi a primeira eleitora latino-americana a votar em 5 de abril de 1928, na cidade de Mossoró/RN, quando o movimento sufragista ganhava fôlego no mundo, deixando seu nome escrito na História em uma fase na qual os ventos do feminismo já produziam redemoinhos em território brasileiro.
 
Passados anos, outras conquistas aconteceram. A Lei Maria da Penha de nº 11.340 de 07 de agosto de 2006, que dá providências às situações de violência doméstica e mais recentemente passou a englobar casais homoafetivos.
 
Numa tendência do movimento feminista, a preocupação em dar voz àquelas que foram silenciadas tem sido uma constante em grupos de pesquisa nas universidades. Clubes de leitura pelo Brasil têm contribuído para que leiam mulheres - ação que faz toda a diferença na busca pela igualdade.
 
No legislativo, um importante projeto da Deputada Tabata Amaral (PSB-SP) foi aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, tornando-se a Lei 14.986/24 que alterou a LDB No 9.394/96, ao criar nas escolas de educação básica a Semana de Valorização da Mulheres que Fizeram História. Tal dispositivo tornou obrigatória a abordagem sobre experiências protagonizadas por mulheres, discutindo fatos e vivências sob a perspectiva feminina nas áreas científicas, social, artística, cultural, econômica e política. A iniciativa da Deputada proporciona novas páginas à História do Brasil.
 
Temos muito o que comemorar, o que conquistar e, finalmente, a lutar para não retrocedermos em direitos já adquiridos. Ser mulher é uma luta constante. E para finalizar essa imagem de luta, encerro com um poema que estampa um retrato da mulher brasileira.
 
 
Vitória
(Kalina Paiva)
 
Quando Vitória passa,
a rua se veste de quimera.
Na feira, ouve-se o grito
de uma voz que não é só dela.
É de Dandara, Marielle,
e de Tereza de Benguela.
 
Saiu da casca aos 18
cheirando a cravo e canela
com uma bandeira na mão
e um canto que não é só dela.
É de Dandara, Marielle,
e de Tereza de Benguela.
 
No carnaval, suas ancas
remexem até as costelas
num vibrante de esperança
na luta que não é só dela.
É de Dandara, Marielle,
e de Tereza de Benguela.
 
Na gira, bate cabeça
pro santo com blusa amarela.
No ouro de Oxum ela dança
com ginga que não é só dela.
É de Dandara, Marielle,
e de Tereza de Benguela.
 
De novo, volta ao batente.
Sua roupa, uma aquarela.
O seu sorriso de sol
na pele que não é só dela.
É de Dandara, Marielle,
e de Tereza de Benguela.
 
Pela feira livre,
lá vai ela. Lá vai ela!
Seus braços enredados
no trabalho que não é só dela.
É de Dandara, Marielle,
e de Tereza de Benguela.
 
 
Kalina Paiva
Natural de Natal/RN, é professora e pesquisadora do IFRN, poeta e contista.
 

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