Wellington Duarte

Professor, economista, Cientista Politica, comunista, headbanger, flamenguista, americano e apreciador de Jack Daniels

11/12/2024 12h38
Arthur Lira, o encosto da República e o “orçamento impositivo”
 
Num país em que o presidente tem de negociar, dia a dia, os projetos do governo, porque o parlamento se tornou um cogestor, depois da aprovação da Emenda Constitucional 86/2015, aprovada com o esforço do recém-eleito presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha, então do PMDB. Essa EC 86 tornou as emendas individuais IMPOSITIVAS, ou seja, os deputados promoveram um “golpe legislativo”, pois as Emendas Parlamentares saíram da lógica AUTORIZATIVA, modelo que rege todo o orçamento público brasileiro, e se tornaram IMPOSITIVAS.
 
De lá para cá, os presidentes das Câmaras de Deputados se tornaram figuras imponentes, portadoras das vontades e desejos dos deputados, sequiosos de sangrar o governo em prol de suas “bases eleitorais”. O “projeto Brasil”, se é que algum dia existiu, tornou-se o “projeto primeiro os meus” e se antes o “povo” já dizia que o parlamento era um “balcão de negócios”, agora virou uma “supermercado de recursos orçamentários”.
 
Vimos Eduardo Cunha, Rodrigo Maia e Arthur Lira, saírem do obscuridade e da mediocridade política que eram, para se tornarem atores importantes. Cunha foi o “encarregado” de operacionalizar o Golpe de 2016; Maia foi quem deu base para Temer começar o processo de destruição do Estado brasileiro e reforçou o papel da Câmara de Deputados, colocando uma “coleira institucional” no presidente.
 
Arthur Lira, trouxe consigo a desejo de ser grande, um personagem histórico, e está sendo, pelo lado negativo, e de pronto fez o seu “cercadinho”, onde o Boca Podre fascista temia entrar. Lira, com a habilidade de uma mamba negra, ameaçou picar o presidente o tempo inteiro, mas sempre protegendo-o das centenas de pedidos de impedimento. Ele preferiu a figura patética do presidente, do que a figura não menos patética, mas mais perigosa, do vice.
 
Com a vitória de Lula, Lira apertou o torniquete. Tentou domar o indomável. Ameaçou, recuou e aparentemente decidiu que era necessário retomar a força de pressão mais eficiente: controle do orçamento. As eleições de 2024, feitas sob a batuta desse modelo suicida do Estado brasileiro, onde as emendas viraram “moeda eleitoral”, deram mais força ao Lira.
 
Esse verdadeiro encosto, figura politicamente pequena, se movimenta com a rapidez de um texugo, quando busca seus interesses próprios; tem a fome de um crocodilo do Nilo, quando olha para o “orçamento impeditivo”; a peçonha da já citada mamba negra, quando manuseia os votos da Câmara para chantagear o Executivo; e de quebra ainda caninga como ninguém, atrás de cargos.
 
Nesse final de mandato Lira tem tentado construir seu futuro. Vai emplacar seu candidato, Hugo Mota, do PP-AL, ou seja do seu reduto, algo que representa a “feudalização” da política brasileira no aspecto mais grotesco e ele parece ter “convencido” o PT a apoiar tal nome, para garantir a “governabilidade” do presidente Lula.
 
Talvez a dor de cabeça de Lula tenha a ver com esse encosto, essa assombração política, fustigando o presidente dia e noite, porque é assim que agem as aves carniceiras, sempre prontas a se aproveitar.
 

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