Daniel Costa
Advogado. Assessor no Tribunal de Contas. Doutor e mestre em ciências sociais pela UFRN.
30/01/2025 09h53
CANDIDATO A IMPERADOR
Mesmo antes da posse de Donald Trump, todo mundo já antevia algumas de suas ações assim que firmasse os pés na Casa Branca. Afinal de contas, ainda durante a campanha presidencial, ele já regurgitava um discurso guiado por ideias extremistas. Ações contra políticas públicas que privilegiavam as minorias, medidas contra imigrantes, expurgo de servidores públicos e revogação de acordos climáticos eram temas alçados à ponta de lança do seu programa governamental. Nada mais natural, então, para quem se elegeu com apoio nessas bandeiras, que tão logo assumisse as rédeas do poder central transformasse essa homilia em práticas concretas para afagar eleitores.
O que ninguém esperava era que Trump também agisse movido pela ânsia de ser uma espécie de imperador. O dono do mundo. O Júlio César dos tempos pós-modernos.
Se Júlio César, ainda enquanto jovem general, apoiado pelos chefes da época, invadiu com suas tropas a Península Ibérica, dominando por completo a área onde estão hoje Espanha e Portugal, o presidente dos EUA, mesmo não sendo tão jovem, já fala em invadir a Groenlândia, que pertence à Dinamarca, e de retomar o Canal do Panamá, sem descartar o uso de força militar.
Com o apoio da turma das big techs, grandes empresas de tecnologia e informação, Trump vai partir para uma tentativa de interferência sem precedentes no funcionamento das democracias liberais. O resultado disso é previsível: ele terá uma enorme ascendência sobre vários povos, tal como o imperador romano, que ao consumar a tomada da Espanha e de Portugal, partiu logo em seguida para a Guerra das Gálias, subjugando todos os ocupantes desse território onde atualmente estão a França, a Bélgica e parte da Suíça.
Com tantas vitórias, Júlio César se tornou o senhor de Roma, mandando em tudo, inclusive chegando ao Oriente Médio, quando protagonizou o célebre romance com uma famosa fugitiva que ele transformou em rainha: a inesquecível Cleópatra. O presidente americano, por sua vez, se não tem uma Cleópatra para chamar de sua, já colocou o dedo no conflito entre Palestina e Israel, para deixar claro ao mundo inteiro que é dele o poder de fazer a guerra e a paz.
As conquistas do ditador romano não pararam e partiram para a Europa do Leste. Trump, ao menos até o momento, não falou em invadir a Rússia, mas já meteu o bedelho na guerra entre os países de Putin e Zelensky, ameaçando Moscou com sanções caso se negue a negociar um cessar-fogo.
César colocou o mundo inteiro para trabalhar para Roma e para os romanos. Do trigo ao vinho, tudo ia para lá. É certo que ao impor medidas de retaliação a outras nações e adotar fortes ações protecionistas, favorecendo a atividade doméstica e limitando a concorrência estrangeira, o presidente americano não quer outra coisa senão impor a hegemonia econômica dos EUA.
Pelas mãos de Júlio César, Roma dominou o mundo por séculos, resta saber do que será capaz Trump, o mais novo candidato a imperador.
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