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Caso de racismo contra Luighi revolta o Brasil e repercute no mundo

07/03/2025 13h23

Por: Hiago Luis

 Caso de racismo contra Luighi revolta o Brasil e repercute no mundo

Foto: Reprodução
 
Em mais um caso lamentável na infeliz história da Libertadores da América envolvendo crimes de racismo, torcedores do Cerro Porteño, do Paraguai, atacaram com ofensas racistas os jogadores do sub-20 do Palmeiras. O ato covarde aconteceu contra o atacante Luighi e o meio-campista Figueiredo, ambos de apenas 18 anos.
 
Válida pela Libertadores sub-20, competição disputada no Paraguai, a partida entre Cerro Porteño x Palmeiras aconteceu na noite da última quinta-feira (06), no Estádio Gunther Vogel, em Assunção. Durante o jogo, o atacante Luighi foi vítima de um ataque racista. Torcedores do Cerro foram flagrados fazendo gestos racistas contra o atleta do Palmeiras.
 
As imagens, que foram captadas pela transmissão da partida, aconteceram após o terceiro gol da equipe brasileira, a partir dos 34 minutos do segundo tempo, quando Luighi e Figueiredo são substituídos. Enquanto o meio-campista deixava o campo, um "torcedor" com uma criança no colo, imitou um macaco enquanto gritava "mono" (macaco em espanhol). 
 
Na sequência, Luighi, ao deixar o campo, também sofreu ataques ao tentar denunciar as ofensas sofridas. O jogador foi vítima de várias ofensas dos "torcedores”, que chegaram a cuspir em direção ao atacante. Indignado, o "Camisa 9" da base alviverde chegou a chorar no banco de reservas da equipe.
 
 
Entrevista
 
Após o jogo, durante a entrevista a Conmebol TV, Luighi, que é Capitão da equipe, se revoltou diante da pergunta do repórter da Conmebol. Questionado sobre a vitória por 3x0 diante da equipe paraguaia, o jogador desabafou.
 
"Não, não. É sério isso? Vocês não vão me perguntar sobre o ato de racismo que ocorreu hoje comigo? É sério? Até quando vamos passar por isso? Me fala, até quando? O que fizeram comigo é crime, não vai perguntar sobre isso?", questionou Luighi, chorando de indignação.
 
"Vai me perguntar sobre o jogo? A Conmebol vai fazer o que sobre isso? Ou a CBF, sei lá. Você não ia perguntar sobre isso, né? Não ia. É um crime o que ocorreu hoje. Isso aqui é formação, estamos aqui para aprender", completou o atacante do Palmeiras.
 
Palmeiras
 
O Palmeiras se manifestou após o caso demonstrando indignação com o ocorrido com o jogador. A situação foi classificada pelo clube paulista como "inadmissível".
 
"Racismo é crime! E a impunidade é cúmplice dos covardes. As suas lágrimas, Luighi, são nossas! A família Palmeiras tem orgulho de você", declarou o Palmeiras em nota. 
 
Ainda de acordo com o clube, o atleta e seus familiares estão recebendo todo o apoio necessário. Imagens da partida estão sendo levantadas pela equipe junto à Conmebol para que sejam concretizadas as punições aos agressores.
 
O Palmeiras prometeu ir até às "últimas instâncias" para garantir as punições. Todavia, descarta deixar a competição, como confirmou o coordenador da base do Palmeiras, João Paulo Sampaio.
 
Ainda segundo o JP Sampaio, a presidente do Palmeiras, Leila Pereira entrou em contato com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), com a Conmebol e com a FIFA para denunciar o caso e cobrar punições. Sampaio afirmou que de imediato foram feitas fotos e registros pelo clube para identificar os torcedores envolvidos, mas lamenta que no Paraguai não tenham leis que possam garantir a efetiva punição dos envolvidos.
 
Repercussão
 
Em nota a CBF se manifestou sobre o caso de racismo contra Luighi. A entidade maior do futebol brasileiro afirmou que acionará o presidente da Conmebol, Alejandro Dominguez, para cobrar punição aos envolvidos. 
 
"A CBF repudia a ofensa racista sofrida pelo atacante Luighi, do Palmeiras, no Paraguai. A entidade já acionou a Diretoria Jurídica e fará uma representação à Conmebol cobrando rigor nas punições. O protesto será feito ao presidente Alejandro Dominguez e à Comissão Disciplinar da entidade que comanda o futebol na América do Sul", afirma a nota.
 
Principal responsável pela competição, a Conmebol também se pronunciou sobre o caso. A entidade, que tem inclusive a sua sede próxima ao Estádio Gunther Vogel, também emitiu uma nota sobre o ocorrido. 
 
"A CONMEBOL rejeita categoricamente todo ato de racismo ou discriminação de qualquer tipo. Medidas disciplinares apropriadas serão implementadas, e outras ações estão sendo avaliadas em consulta com especialistas da área", declarou a Conmebol em suas redes sociais.
 
A instituição é vista como falha pelos históricos de tomar medidas brandas e, quando muito, emitir notas e promover pseudo "campanhas de conscientização".
 
Em 2023, após ser vítima de ataques racistas no mesmo estádio, contra a mesma equipe, na Libertadores, Bruno Tabata, então atleta do Palmeiras, sofreu uma severa punição. Ao imitar os gestos vindos da torcida do Cerro, a fim de denunciar as ofensas, o atleta foi punido severamente com quatro meses de banimento da competição. 
 
Solidariedade
 
Após a partida, Luighi também se pronunciou nas redes sociais. O jovem atacante brasileiro afirmou que "Dói na alma" o crime de racismo praticado contra ele. "É a mesma dor que todos os pretos sentiram ao longo da história", afirma o jovem jogador.
 
 
Atletas, ex-atletas e outros personalidades do esporte e de fora dele também repercutiram o episódio. O jogador do Atlético-MG, Rony, que atuou com Luighi no Palmeiras, cobrou a Conmebol: "Até quando?".
 
Ídolo histórico do Palmeiras, Ademir da Guia, o Divino, também se pronunciou em solidariedade ao atleta da base do clube. O mesmo ocorreu com Felipe Melo, ex-Palmeiras, entre outros profissionais do esporte, jornalistas, políticos e personalidades em geral.
 
Um dos rostos mais conhecidos do mundo na luta contra o racismo, o astro do Real Madrid e da Seleção Brasileira, Vini Jr também veio a público prestar sua solidariedade. "Parabéns pelo posicionamento, mano. É triste, mas fique forte. Vamos juntos nessa luta", escreveu o Camisa 7 do Real Madrid, afirmando ainda que a "Conmebol nunca faz nada".
 
 
Diversos clubes do Brasil também se manifestaram em solidariedade ao Palmeiras e a Luighi, entre eles rivais históricos como Santos, Corinthians e São Paulo. Além do Verdão, o Flamengo é o outro clube brasileiro que também disputa a competição.
 
 
 

Autor: Hiago Luis